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Mauá tem fim de semana sangrento
Por Gabriel Batista
e Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
13/02/2006 | 07:33
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A matança continua na área da favela do Jardim Kennedy, em Mauá. No fim de semana, três pessoas foram executadas dentro de um Fusca no Jardim Adelina ao lado do campo de várzea do Juventus. Foi a segunda chacina na mesma região da cidade em menos de um mês. O quarto homem morto, alvejado com tiros na cabeça, é Willian Ribeiro Finco, 19 anos, o Alemão, apontado pela polícia como chefe do tráfico de drogas na favela. O corpo dele foi encontrado embaixo de sacos de lixo a 200 metros da entrada do morro, já em estado de decomposição. O delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto Ferreira de Souza, chefe da Polícia Civil também em Mauá, cogita ocupar o Jardim Kennedy. “Se preciso, vamos tomar a favela, como já fizemos com a Tamarutaca (em Santo André).”

Domingo, o Diário publicou reportagem com denúncias de moradores da favela que acusam policiais militares do 30º Batalhão de serem os autores das duas últimas chacinas na favela, em 23 de julho de 2005 e 9 de janeiro deste ano. Ao todo, seis pessoas morreram executadas. Testemunhas afirmam que os assassinos chegavam a pé e de motocicleta, encapuzados ou fardados com o uniforme da PM.

No sábado à noite, crianças corriam pela avenida Barão de Mauá, no Jardim Adelina, quando tiveram de se esconder do tiroteio. Um Fusca bege, ocupado por três homens bem vestidos, foi alvejado por dezenas de tiros na lateral e nos vidros. Os disparos partiram de um motociclista encapuzado que seguia o veículo. O motorista, ferido, perdeu o controle e desceu um barranco. O carro bateu levemente no muro do alambrado do campo de futebol. Quem presenciou o crime conta que uma das vítimas, a do banco de trás, saiu do Fusca para tentar escapar da morte. Nem teve tempo de correr.

O assassino desceu da moto, uma Twister, e disparou outra dezena de tiros. Os vizinhos que presenciaram a chacina dizem que os três também estavam armados, mas não conseguiram reagir. O corpo do homem executado fora do carro estava descalço, só de meias. O interior do Fusca foi revirado, estava com o porta-luvas aberto e objetos remexidos.

Com as vítimas, não foram encontradas armas ou drogas. A polícia acredita que o criminoso utilizou uma arma automática, dada a quantidade de tiros. A polícia confirma a execução, mas diz que os homens ainda não foram identificados e esperam pelo reconhecimento no IML (Instituto Médico-Legal) de Santo André.


Alemão –
Um dia antes da chacina, na sexta-feira à noite, Alemão “sumiu” de casa, contam os familiares. O corpo dele foi encontrado domingo de manhã coberto por um plástico branco e escondido debaixo de sacos de lixo, às margens de uma área descampada que separa a favela do Jardim Bom Recanto. Guardas municipais atenderam a ocorrência e acompanharam durante todo o dia a operação de identificação da vítima, até a chegada do serviço funerário. Nenhuma viatura da Polícia Militar esteve no local, de acordo com moradores. A morte do suposto traficante atraiu a atenção de quem mora no morro. Dezenas de pessoas saíram às ruas para observar a retirada do corpo e as vielas da favela ficaram lotadas.

Na casa de Alemão, foram encontrados 250 papelotes de cocaína, trancados com cadeado e correntes em dois caixotes de madeira. Guardas que participaram da ação afirmam que o corpo dele foi encontrado vestido somente com as calças. A camisa, a jaqueta e os tênis foram jogados em outra parte do terreno, a 50 metros da rua principal do Jardim Kennedy. Ele foi executado com dois tiros na cabeça.


Seccional – O delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto Ferreira de Souza, diz ter notado há mais de um mês uma série de execuções na região do Jardim Kennedy. Em férias até quinta-feira, ele afirmou por telefone que acredita haver uma guerra entre quadrilhas no local, uma disputa pelo domínio da venda de drogas. “Vamos identificar e diagnosticar o problema e, então, agir. Trabalharemos em conjunto com a Polícia Militar. Se precisar, vamos tomar a favela”, disse o delegado.

Ferreira de Souza disse também que vai apurar as denúncias contra policiais militares no Jardim Kennedy. “Temos de ver se há provas. Ainda é prematuro afirmar que isso ocorre, é comum algumas pessoas fazerem acusações levianas.”




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