Política Titulo
‘Nosso candidato é o Afif’, diz Lembo
Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
20/02/2006 | 07:58
Compartilhar notícia


“Nosso candidato é o Afif.” A declaração é do vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), que está prestes a assumir o posto mais alto do Estado, caso o governador Geraldo Alckmin (PSDB) mantenha a promessa de se desincompatibilizar do cargo até 31 de março para disputar a presidência da República. A frase deixa claro que, apesar de Lembo demonstrar lealdade e disposição em prosseguir o programa de Alckmin, o PFL está disposto a entrar de vez na briga pelo comando do Palácio dos Bandeirantes, cargo que é ocupado há quase 12 anos pelos tucanos. O nome proposto é de Guilherme Afif Domingos, presidente da Associação Comercial de São Paulo.

Discreto e sereno, aos 71 anos o ex-reitor da Universidade Mackenzie diz que o principal desafio político de sua carreira também pode ser o último. Apesar da importância do cargo e da óbvia exposição de seu nome durante os nove meses em que comandará o segundo maior Orçamento do país – provavelmente cerca de R$ 80,7 bilhões em 2006 e que deve ser votado ainda nesta semana pela Assembléia Legislativa –, Lembo deve pôr um ponto final em sua trajetória política assim que deixar o cargo. “Não tenho carisma. Quem tem é o Geraldo e o Lula”, afirma. Mesmo assim, já se movimenta no meio político para seu mandato. Na última quinta-feira, almoçou com toda a bancada do PFL na Assembléia, incluindo o presidente Rodrigo Garcia, que derrotou em 2005 o candidato tucano Edson Aparecido. A gestão de Lembo fez parte do cardápio.

Para o vice-governador, o ônus para o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB) – que também pleiteia a vaga cobiçada por Alckmin –, deixar o cargo com menos da metade do mandato cumprido será muito grande. “Eu votei no Serra para ser prefeito por oito anos (ele já inclui a reeleição)”, diz Lembo, que preside o PFL no Estado.

Sobre o Grande ABC, garantiu ter bom relacionamento com a maioria dos prefeitos e que dará seqüência aos projetos de Alckmin, como a construção do trecho Sul do Rodoanel e a criação jurídica da região metropolitana do Grande ABC.

Em uma sala confortável no primeiro andar, já sabe que terá de se deslocar alguns metros para o novo gabinete. Mas, se depender de Lembo, a mudança física pára por aí. O pefelista não pretende ocupar o espaço residencial do Palácio dos Bandeirantes, destinado aos governadores. “Eu moro há muitos anos no Bixiga e gosto muito do bairro”, revela.

DIÁRIO – Embora seja um político experiente, o sr. acha que está preparado para assumir o governo do Estado?

CLÁUDIO LEMBO – Acho que sim. Com equilíbrio, bom senso e ouvindo as pessoas a gente consegue administrar São Paulo com o respeito que São Paulo merece. É sempre um desafio que deixa a gente angustiado, no sentido de que há uma grande responsabilidade, mas eu tenho uma trajetória de vida e na administração pública muito grandes.

DIÁRIO – Após o fim de seu mandato, quais são suas pretensões políticas?

LEMBO – A minha pretensão é, após 31 de dezembro, passar a faixa no dia seguinte para o vitorioso da eleição de outubro e ir para casa, além de voltar a dar aula, que é minha profissão.

DIÁRIO – O sr., então, não é candidato à reeleição?

LEMBO – Não coloco nenhuma candidatura no meu futuro.

DIÁRIO – Isso seria o fim de sua carreira política?

LEMBO – Posso prestar serviço a São Paulo e ao Brasil na vida partidária e na vida acadêmica. Não tenho aquele egoísmo de querer um cargo público a essa altura da vida só por desejo pessoal. Tem de se passar o bastão para os mais jovens. A política é um movimento rotativo, tem sempre de substituir por novos figurantes.

DIÁRIO – Então, qual seria a opção para o PFL ao governo do Estado?

LEMBO – Nosso candidato é o Guilherme Afif Domingos (presidente da Associação Comercial de São Paulo). Ele é filiado ao PFL, tem viajado pelo Estado e discutido a problemática de impostos excessivos no Brasil. Acho que ele tem uma mensagem e um conhecimento administrativo e será um bom candidato para o partido.

DIÁRIO – Mas isso não poderia causar uma saia-justa em relação ao governador Alckmin, já que o PSDB já tem quatro pré-candidatos ao governo?

LEMBO – Não. O que a gente precisa é ter equilíbrio e compreender a situação que vai se desenvolver. A gente precisa estar acima das paixões partidárias e pensar em São Paulo.

DIÁRIO – O sr. acha que o PFL pode herdar, além do governo do Estado, a Prefeitura de São Paulo, com a saída também de José Serra?

LEMBO – Isso depende muito mais da vontade política do PSDB do que da nossa. A minha posição e a do vice-prefeito (Gilberto Kassab) é de espectador, que fica aguardando o acontecimento. Nós não temos nem que nos movimentar, nem ficar excitados. Temos que aguardar. Se for preciso trabalhar por São Paulo, vamos trabalhar.

DIÁRIO – Isso poderia representar uma espécie de ressurgimento do PFL no Estado de São Paulo?

LEMBO – Acho que o PFL já ressurgiu no Estado, no momento em que nós, em nível federal, tivemos opção nítida pela oposição. O partido seguiu o perfil próprio. Ninguém esperava que o PFL fosse um grande partido de oposição e nós demonstramos que somos capazes de ser. O PFL já está com perfil próprio e não precisa da máquina administrativa. Nenhum partido surgiu da máquina. Aliás, a máquina destrói o partido. Haja visto o PT.

DIÁRIO – Já que o PFL sempre foi poder, o sr. saberia dizer onde o PT errou?

LEMBO – O partido nasce da adversidade e não das benesses do poder. O caso do PT é igual. Enquanto era partido de oposição, tinha aura e auto-estima muito forte. No momento que passou a ter poder nacional, teve um desgaste que está aí registrado nos jornais.

DIÁRIO – Mas o sr. acha que o PT terá força nessa eleição?

LEMBO – O PT não tem força. Ele é um pequeno partido, que vai diminuir inevitavelmente. Eu ainda tenho respeito pela figura pública do presidente Lula. Ele ainda é um candidato competitivo de alto poder de votos. Mas o PT perdeu a alma. Perdeu aquilo que era fundamental, que era a ânsia de preservação de valores éticos.

DIÁRIO – E como o PFL vai caminhar na eleição presidencial?

LEMBO – Houve a figura do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, que se disse candidato e o partido o apoiou. Mas depois ele arrefeceu seu ânimo. Eu diria que ainda há possibilidade de surgir um candidato próprio do PFL.

DIÁRIO – Quem seria esse nome?

LEMBO – Tem muitos nomes, como dos senadores Jorge Bornhausen, Marco Maciel, José Jorge, Antônio Carlos Magalhães.

DIÁRIO – E qual seria seu posicionamento caso o governador Alckmin for escolhido pelo PSDB?

LEMBO – Aí eu vou oferecer todo meu esforço partidário para que o PFL faça uma coligação com o governador Alckmin.

DIÁRIO – E se não houver acordo?

LEMBO – Aí eu vou acompanhar a maioria do partido.

DIÁRIO – Uma composição em nível estadual com os tucanos não estaria descartada?

LEMBO – Acho oportuno, tendo como cabeça de chapa o candidato do PFL.

DIÁRIO – O PFL, então, não abre mão da cabeça de chapa ao governo do Estado?

LEMBO – Eu não sou o PFL, sou um membro do partido. Eu gostaria que o PFL tivesse cabeça de chapa, mas o partido vai decidir em sua convenção. Nós temos que parar com a síndrome de vice e ter a coragem de sermos afirmativos em São Paulo.

DIÁRIO – O sr., então, acredita que o casamento PSDB-PFL está próximo do fim?

LEMBO – Em política, não há casamento, existem acordos. Os acordos são sempre circunstanciais. Não há casamento indissolúvel na política, há acordos a serem analisados de acordo com o interesse da sociedade e, portanto, de acordo com as cisrcunstâncias políticas.

DIÁRIO – Falando de seu futuro mandato, como o sr. vai enfrentar o impasse jurídico que envolve a construção do trecho Sul do Rodoanel?

LEMBO – Já está bastante resolvido. Tivemos uma série de situações jurídicas ligadas ao meio ambiente e às culturas indígenas, mas felizmente já resolvemos. Acho que esse problema está superado. O Rodoanel inicia-se em breve na área Sul. Essa obra é fundamental. Vou fazer com que continue o cronograma do projeto do governador Alckmin.

DIÁRIO – Como será a relação do sr. com o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, com cinco prefeitos ligados ao governo estadual e dois petistas?

LEMBO – Não tem nada a ver com partido. São todos prefeitos que estão demonstrando capacidade e servindo a região. Vou manter o melhor relacionamento possível. Sou amigo da maioria deles e as portas vão estar abertas. Vou estar sempre no ABC porque acho fundamental que a região tenha melhora na qualidade de vida. Temos que pensar o Estado como um todo, sem visão partidária. A visão partidária é só na hora da eleição.

DIÁRIO – E porque não se avança o projeto que cria a região metropolitana do Grande ABC, já que o governo tem maioria na Assembléia?

LEMBO – Vou pedir ao presidente Rodrigo Garcia (também do PFL) que se analise isso com rapidez para que seja implantado. Isso é muito importante para as regiões, que têm culturas e necessidades próprias.

DIÁRIO – O sr. acha que a questão da Febem será o grande ônus que o governador Alckmin deixará para seu mandato?

LEMBO – Não, porque está equacionado. Talvez possa ter sido em algum momento, mas não hoje. Só lamento que alguns prefeitos não dão o apoio necessário à nova forma. A instituição será descentralizada com um ganho social muito elevado.

DIÁRIO – E a ‘novela‘ da Febem São Bernardo?

LEMBO – É um problema urbano municipal. A Febem constrói logo, o problema é que as comunidades nem sempre aceitam e nem sempre os prefeitos oferecem o terreno. Esse problema é mais municipal do que estadual. A Febem tem todos os projetos prontos, tem verba, vontade política. Só depende da vontade política da comunidade local.

DIÁRIO – Como o sr. vê a explosão de roubos de carros no Grande ABC?

LEMBO – O homicídio, que me preocuparia muito, caiu. Caiu também o latrocínio e ficou o furto e roubo. É grave, mas acho que a gente pode controlar a médio prazo, com efetivo e melhor instrumentalização da polícia e apoio da própria comunidade. Isso é uma questão de tempo.

DIÁRIO – E como o sr. vê o fato de o PFL ter pouca representatividade na região?

LEMBO – Vejo isso como um problema, porque acho que o ABC tem uma representatividade política muito grande no Brasil. E acho que nós tínhamos que ter mais quadros na região. Tivemos uma série de dificuldades, mas acho que pode se recompor o partido, mas a partir da sociedade civil. O PFL vai crescer aos poucos em São Paulo.

DIÁRIO – Que marca o sr. pretende deixar na sua administração?

LEMBO – Modéstia, trabalho e humildade, para saber que o plano do governador Geraldo Alckmin deve ser desenvolvido até o último dia deste mandato e não frustrar os paulistas. Marca pessoal não precisa.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;