O Hospital Nardini, em Mauá, tem amontoado pacientes em leitos de enfermaria com o objetivo de maquiar a superlotação do equipamento público e também a tradicional fama de ‘hospital de corredor’, expressão usada pelo prefeito Atila Jacomussi (PSB) durante vistoria ao local em junho. A medida, que, segundo relatos, teria sido determinada pelo próprio chefe do Executivo, obriga profissionais da Saúde a acomodarem até sete macas em espaços aptos a receber somente três pacientes, o que desrespeita regulamentação do SUS (Sistema Único de Saúde).

Conforme as normas do Ministério da Saúde, os leitos devem ser acomodados com espaço de no mínimo dois metros entre eles. Ontem, durante visita ao equipamento de Saúde, a equipe do Diário constatou que a separação entre os pacientes não chegava a um metro de distância. “Internação aqui é a mesma coisa que ficar tudo junto e misturado. Não tem divisão de pacientes com fratura ou quem tem problema grave, mas é o que temos”, lamenta a autônoma Erinalda Lindalva da Silva, 38 anos.

Embora destaquem que o atendimento e a estrutura do hospital venham apresentando melhora nos últimos meses, usuários do serviço relatam dificuldades até mesmo para que seja realizada transferência de pacientes em situações mais delicadas, como é o caso do aposentado João Eugênio dos Santos, 79. Com quadro de câncer no sangue e pequenos tumores na região da virilha, ele segue internado há 15 dias na enfermaria adulto. “Já tentei por diversas vezes transferir ele para o sexto andar, num quarto adequado, mas não consigo. O pior é que tem muitas pessoas no quarto e ele está com imunidade baixa. Não temos nenhum respaldo por parte dos médicos”, reclama Claudia dos Santos, 39, filha do paciente.

Para agravar a situação, problemas estruturais espalhados pelo hospital – que desde 2015 passa por obras – fazem com que profissionais improvisem espaços para abrigar pacientes. A sala de emergência, por exemplo, que recebe doentes que aguardam a liberação de vagas em quartos ou que acabaram de passar por atendimento no PS (Pronto-Socorro), sequer tem porta de isolamento.

A superlotação do hospital se estende ao PS, que apresenta tempo de espera de até três horas para passar por consulta com clínico geral. “Hoje (ontem) mesmo nem sei que horas vou sair daqui. Só tem um médico”, disse uma paciente que não quis se identificar.

Enquanto munícipes relatam série de problemas, a reforma do Hospital Nardini – orçada em R$ 6,7 milhões e com promessa inicial de término para junho de 2015 – segue a passos lentos. Nos corredores do equipamento, a equipe do Diário observou diversas salas sem pintura e sem acabamento nas paredes. No terceiro andar do equipamento, até salas administrativas estavam sem portas. Para piorar, lixos hospitalares, que deveriam estar em salas específicas, também foram observados pelos corredores do andar térreo.

A promessa do prefeito Atila Jacomussi era concluir as intervenções no PS até o dia 8 de dezembro – aniversário da cidade. No entanto, ontem nenhum funcionário da Engecon ABC Construções e Empreendimentos Ltda – responsável pela obra – foi visto trabalhando no local.

Em nota, a Prefeitura de Mauá, por meio da Secretaria de Saúde, destacou que o Hospital Nardini passa por mudanças estruturais. A administração, no entanto, destacou que os quartos “possuem número médio de três leitos, no entanto, o quarto visitado pela equipe de reportagem tem capacidade para até sete macas”. O Paço ressaltou que “a política de evitar pacientes instalados no corredor é resultado de intenso trabalho da equipe do hospital”.

Sobre as visitas médicas, a Prefeitura informou que segue política hospitalar, com equipes disponíveis para atender a família ou o paciente em qualquer tipo de emergência e que os descartes de lixo e material hospitalares seguem determinações e normas legais.