Cultura & Lazer Titulo
Região tem pizza sabor sopapo
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
23/09/2001 | 17:28
Compartilhar notícia


Terminar em pizza é uma expressão que entrou para o anedotário brasileiro. Geralmente usada nas conclusões conciliatórias de polêmicas decisões políticas, o prato napolitano já faz parte de outra modalidade: o boxe. Juntar a fome de pizza com a vontade de bater da chamada nobre arte foi o achado de Ubiratan Figueiredo, proprietário da pizzaria Leonardo’s (av. Goiás, 2.636), em São Caetano, para incrementar a noite de sexta-feira passada. Neste ano, foi a segunda experiência do gênero. O público, como em um coliseu romano, mostrou-se disposto a estimular outros sentidos, não só o paladar. Viu e ouviu os murros no jantar em família.

“É o plus da noite no Grande ABC. Os caras dando porrada e a gente se divertindo”, disse o vendedor Emerson Saco, 30 anos, de Santo André. Ele, a mulher Adriana Matias, 28, enfermeira, foram convidados pelo amigo Marcel Munhoz, 31, advogado, de São Caetano. Todos já haviam conferido a primeira apresentação, em julho, e gostaram. “No princípio, achei estranho, mas é inovador, uma atração diferente”, afirmou Munhoz.

Em uma das laterais do salão retangular, as mesas cederam espaço para um ringue, respeitada uma distância segura entre as cordas e a primeira fileira de mesas. Sangue, suor e saliva não chegam a espirrar na platéia, mas a situação é estranha. O “serviço” começou pouco depois das 20h. O público, que não lotou a casa – ao contrário do primeiro evento –, tinha pessoas de 4 a 60 anos, famílias e casais de amigos, que vibraram e gritaram animados para estimular os lutadores.

Rachelina Gonçalves, 43 anos, enfermeira, de São Caetano, trouxe o casal de filhos, Marina, 13, e Eric, 12. A menina estava curiosa, pois era a primeira vez que participava de um evento desse tipo. Eric ficou mais empolgado. Como gosta de ver lutas na TV, foi mais crítico: “Na TV, o locutor fala muito. Aqui, a gente ouve a porrada. O som da pancada é o que falta na TV”. Para Rachelina, a luta deveria começar mais tarde: “Geralmente nós jantamos fora na sexta, e estica mais no trabalho. Se fosse mais tarde, aproveitaria mais”.

O garoto Paulo Vítor Carrara Sabbadin, 4 anos, estava animado para ver as lutas. Junto com o avô, Paulo Carrara, 60, construtor em Santo André, e o pai, Dárcio Sabbadin, 36, comerciante, o menino ficou atento até o fim. A seu lado, os primos Guilherme Stoll Carrara, 8, Fábio Augusto Carrara Pereira, 11, e Gabriel Navarro Carrara, 11, dividiram a atenção entre bocados de pizza e as pancadas no ringue. “Só falta aquelas garotas de biquíni que carregam as placas nas lutas na TV”, disse Fábio.

Foram seis lutas na noite, quatro entre amadores e duas com profissionais, estas vencidas por atletas de São Caetano: o peso leve Juliano Ramos e o peso pena Waldomiro dos Santos, o Sertão, que representou o Brasil nas Olimpíadas de Sydney. A noite teve dois nocautes, um entre os amadores, e o outro, o que mais impressionou, entre Juliano Ramos e José Carlos dos Santos, que desabou no primeiro assalto depois de um cruzado de direita.

Ana Lúcia de Maria, 30, assistente de exportação torceu por Santos. Marina Medeiros de Maria, 35, bancária, estava com Ramos. O pugilista nocauteado caiu no canto do ringue bem diante de Ana Lúcia. “Caiu, coitado! Nunca vi ninguém cair assim ao vivo! É animado mesmo. Acho que machucou. Nossa, eu estava torcendo por ele.... A seu lado, a cunhada torcia para o vencedor: “Tenho a impressão de que a pancada não foi forte. Acho que ele caiu de bobeira”. Não foi: Santos teve afundamento do osso da face.

Diante delas, do outro lado da mesa, os respectivos maridos, os irmãos engenheiros Sérgio e Edson de Maria. Misturar comida com pancadaria não é problema para eles. “O momento é tão empolgante que paramos de comer”, disse Edson.

Cansados da mesmice, o casal de comerciantes andreenses César Hansen, 42 anos, e Elisabete Daniel Hansen, 42, decidiram optar por um programa diferente com os amigos Kátia Mara, 41, relações públicas, e José Renato Robilotta, 44, comerciante, e se surpreenderam. “Vinho e massa são as melhores combinações com luta em uma pizzaria”, afirmou Hansen. “Carne nem pensar”, disse Elisabete. “Eu odeio boxe, mas vim pela curiosidade de ver como é”, afirmou Kátia.

A próxima luta com pizza está prevista para acontecer em novembro e o combate deve envolver uma atração internacional, provavelmente um colombiano ou um argentino contra um pugilista brasileiro.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;