Palavra do Bispo Titulo
Em favor da família
Dom Pedro Carlos Cipollini
22/08/2016 | 07:00
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Visitando uma Câmara Municipal em nossa diocese, acompanhado dos padres da cidade, conversávamos com os vereadores, que, aliás, nos receberam muito bem, como cidadãos que somos também, buscando o que é melhor para o povo. Em determinado momento do diálogo percebemos que todos os problemas convergiam para a falta da família, hoje em crise, não conseguindo formar cidadãos, muitas vezes delegando às escolas e ao Estado um papel insubstituível que é o da família. Sem o cuidado da família, a criança cresce desorientada e a situação vai se agravando.

O Papa Francisco, sensível a este sentimento geral que perpassa a sociedade hoje, na “crise antropológica”, que estamos vivendo, após realizar dois Sínodos sobre a Família, nos entregou a Exortação Apostólica Amoris Laetitia (A Alegria do Amor, na tradução). O papa quis que pensássemos a família no mundo moderno e pós-moderno.

Nela, à luz da Palavra de Deus, são apontados os desafios das famílias, a vocação familiar, o plano de Deus, amor no matrimônio que se torna fecundo, a educação dos filhos e a espiritualidade conjugal. É um grande subsídio para orientar os casais que desejam viver o ideal de família conforme o plano de Deus que está na Bíblia.

O matrimônio deve ser vivido pelo casal como fonte de alegria e realização humana. O papa não se limita a anunciar o evangelho da família, que é o santuário da vida, ele enfrenta com realismo e coragem situações de sofrimento e ruptura que provocam feridas nos diversos membros da família. O ser humano deseja uma família, e seu desejo coincide com o plano de Deus. Ninguém deve desistir de procurar construir uma família sempre contando com o amor misericordioso de Deus, em seu abraço de ternura e misericórdia.

O papa Francisco deixa claro que a doutrina do matrimônio permanece intocada, porque vem diretamente de Jesus. Assim, convida a anunciar a boa nova da família, segundo os desígnios de Deus, como o melhor caminho para viver o amor que é comunhão (cf. AL n. 330). Qual é então a novidade? A grande inovação está na postura da ação pastoral, isto é, no convite a acolher todas as pessoas sem condenar quem, por circunstâncias diversas, não conseguiu viver bem a realidade de sua família e chegou a romper os vínculos através do divórcio constituindo uma segunda união.

Então o que é preciso fazer? O papa recomenda que a Igreja acolha, acompanhe, ajude a fazer um discernimento e integrar a fragilidade das pessoas envolvidas nos dramas familiares, e que muitas vezes não encontram seu lugar na Igreja. Existe sim um lugar na Igreja para os casais em crise ou separados ou em segunda união. A pastoral da Igreja é convidada a acompanhar os casais, recém-casados, os que enfrentam dificuldades, para que não se sintam excluídos da comunidade eclesial. A palavra integração muitas vezes usada pelo papa como o contrário de exclusão (cf. AL n. 297).

Alguns podem ler a insistência do papa para que haja integração dos casais em segunda união, como uma abertura para receberem a Eucaristia, a santa comunhão. Não é apresentada esta possibilidade de maneira explícita. Não se pode deduzir isto do texto. Isto nada retira do texto a percepção da grandeza da proposta do papa Francisco, na linha da misericórdia e carinho, sinais de Deus na presença dos casais que sofrem com a separação e o desencontro.

A Igreja deve e quer acolher a todos em especial os casais que sofrem e precisam do apoio e compreensão no seu empenho para viver o ideal da família que é projeto de Deus para o ser humano. As comunidades católicas em nossa Diocese do Grande ABC devem sempre mais procurar este caminho de acolhimento fraterno. Deus nos guarde nesta bela missão de ajudar as famílias.




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