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Pronto para os próximos 60 anos
Por Do Diário do Grande ABC
03/10/2009 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A voz do apocalipse. O Bob Dylan do agreste. O último profeta. Todos eles são o mesmo paraibano de Brejo do Cruz, José Ramalho Neto, que hoje completa exatos 60 anos. Da infância difícil no sertão, foi resgatado pelo avô, que assumiu o papel de pai quando o legítimo morreu afogado num açude. Mais tarde, o avô foi eternizado na mítica Avôhai pelo neto músico que desistiu de ser o neto doutor.

Zé Ramalho chegou a cursar Medicina, porém, no segundo ano, percebeu que estava predestinado à música. Hoje, são mais de 40 anos de carreira. Atualmente, está em estúdio participando da trilha sonora do filme "O Bem Amado" e, numa brecha, falou com a reportagem:

Como é a trilha de "O Bem Amado"?

ZÉ RAMALHO - Canto um dos temas. Provavelmente, a música de João do Vale, Carcará, tema de Zeca Diabo. Também participo de vários lançamentos do selo Discobertas, em que interpreto algumas canções dos Beatles.

Conte como era seu avô. Ele viveu para vê-lo se tornar um músico de sucesso?

ZÉ RAMALHO - Ele não viu a carreira decolar, mas chegou a ouvir a música Avôhai. Cantei a música diretamente para ele durante reunião de artistas na minha casa, em João Pessoa. Ele escutou sentado, apoiando o queixo em sua bengala. Não disse nada, mas a ouviu inteira e todos sabiam que ele estava entendendo. Ele me ensinou coisas básicas, como amar a natureza, não maltratar os animais e ser honesto.

Até que ponto a cocaína foi catalisadora de sua criatividade e em que momento passou a ser prejudicial?

ZÉ RAMALHO - No início, era envolvente, o organismo estava recebendo essa ‘invasão alienígena' e era manifestada em músicas, como Frevo Mulher, Galope Rasante, A Terceira Lâmina. Mas com o passar do tempo, ela passou a confundir e me escravizar.

Você disse em entrevista recente que não chegou a ser garoto de programa, mas que havia garotas que dormiam com você. Você dormia com elas em troca de teto e comida, ou de grana mesmo?

ZÉ RAMALHO - As duas coisas. Não era uma cobrança, mas era percebido pelas minhas ‘amigas', que penalizadas com a minha situação, me davam alguns valores em dinheiro para eu me virar. Esses fatos inspiraram a canção Garoto de Aluguel.

Depois da experiência com alienígenas em Avôhai, você teve outro contato do gênero?

ZÉ RAMALHO - Não. Só em sonhos. Sonho frequentemente com discos voadores, o que não deixa de ser uma revelação, pois foi a presença alienígena que senti durante a experiência que resultou em Avôhai. Foi única, espiritual e mediúnica.

Se você fosse fazer uma trilha sonora que resumisse musicalmente esses 60 anos de vida, quais músicas escolheria?

ZÉ RAMALHO - Começaria por Disparada, do Vandré. Meu autorretrato é uma música que o Mautner fez para mim e que deu título ao meu quinto disco, Orquídea Negra. É como se ele me dissesse: "Zé, você é a orquídea negra, que brotou da máquina selvagem, e o anjo do impossível plantou como nova paisagem"... Tem uma música minha, Beira-Mar, que diz: "E até que a morte eu sinta chegando, prossigo cantando." É o começo, o meio e o fim. Vou parafrasear Bob Dylan: "Me sinto como se estivesse no meio do caminho. Vamos para os próximos 60 anos!"




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