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Linguagens marcadas pela contestação
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
27/09/2009 | 07:15
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Graças à valorização do trabalho de gente como o inglês Banksy e a dupla brasileira osgemeos, o grafite ganhou status de arte. Mas o que diferencia a linguagem que é um dos elementos do hip hop das marginalizadas pichações? "Para mim, pichação é a transgressão sem a preocupação estética. Já o grafite, além da função social, visa se desenvolver como arte. Mas não vejo supremacia de um sobre outro", diz o grafiteiro Antonio Duque de Souza Neto, o Tota. "Perante a lei, não há diferença alguma", frisa ele, que mora em Santo André.

A partir de outubro, a discussão das ruas ganha os circuitos intelectuais. A Mostra de Cinema Internacional de São Paulo exibe dois filmes sobre pichação. osgemeos, que assinam o pôster deste evento, ganham exposição na Faap. Uma palestra organizada pelo CCBB também colabora. As duas manifestações compõem também o fanzine Subsolo - Ruas do ABC nº1, organizado pelo artista plástico Daniel Melim, de São Bernardo.

As imagens que compõem as 52 páginas de Subsolo - Ruas do ABC nº 1, não são divididas entre pichações e grafites. "Aqui (no Grande ABC) a arte de rua é bastante característica por causa das questões sociais ligadas à presença das montadoras. Na minha opinião, não há diferença: ambas são formas de arte, nascidas da mesma filosofia e que retratam o meio em que as pessoas vivem", afirma o organizador Daniel Melim.

Como todo fanzine, Subsolo foi feito de maneira independente, por meio do selo Studio 13, criado por Melim e por grafiteiros/pichadores também representados nas páginas. São assinaturas facilmente reconhecíveis na paisagem da região, como Malditos, Vultos, Cena7, Danone, Foco, Sapo, dép e Dninja, entre outros.

Captadas em preto e branco, as fotografias foram feitas principalmente em Santo André e São Bernardo. Além de baratear a impressão das 500 cópias do fanzine - vendidas a R$ 5 cada -, a ausência das cores reforçou o caráter rústico pretendido ao projeto.

Em meio à dureza da paisagem urbana, os cliques revelam o trabalho de alguns dos ‘guerrilheiros', munidos de sprays e rolos de tintas. Alguns dos flagras os mostram sobre escadas e se apoiando sobre ombros amigos para escrever mensagens e assinaturas, por vezes incompreensíveis.

A intenção é esgotar a primeira edição para viabilizar a produção do próximo número o mais rápido possível. Por enquanto, a publicação pode ser adquirida apenas na Fhoska Graffiti Shop (Avenida Faria Lima, 617 - Centro - São Bernardo) ou pelo e-mail studiotreze@rocketmail.com

Origens - Apesar de serem encaradas como vandalismo, as inscrições não são algo recente: remontam às pinturas rupestres. No século 20, os sprays passaram a ser utilizados para protestar a partir da revolução dos costumes dos anos 1960. Na América Latina, serviu também como instrumento de resistência à ditadura militar. A pichação como conhecemos hoje teve início nas periferias de todo o mundo, como demarcação territorial. De certa forma, o objetivo permanece: quanto menos acessível o local em que assinam os nomes, mais status terão.

Cinema explora tema
Depois da estreia na Fondation Cartier em Paris, durante a mostra de arte de rua Né Dans la Rue, o documentário Pixo, dirigido por João Wainer e Roberto T. Oliveira, chega ao território nacional durante a 33ª Mostra de Cinema Internacional de São Paulo, que tem início no dia 23.

O filme investiga socialmente os significados das pixações (sic), como os artistas geralmente grafam a prática. Nesse cardápio, pouco estudo, zero lazer e a oferta do crime bem próxima.

Outro filme dedicado à arte de rua é o alemão Art Inconsequence, produzido em 2007 pela dupla Robert Kaltenhäuser e Sarah Pflüger. O documentário também analisa as pinturas em muro sob o viés: arte ou vandalismo?

Osgemeos em S.Paulo
Composta pelos univitelinos Gustavo e Otávio Pandolfo, osgemeos trazem a exposição Vertigem ao Museu da Arte Brasileira, na Faap, a partir de 30 de outubro. Os irmãos paulistanos, que começaram retratando a diversidade cultural da cidade, contabilizam grandes experiências internacionais, como a pintura do castelo histórico de Kelburn, na Escócia, em 2007, e a fachada do prédio da Tate Modern de Londres no ano seguinte.

Casada com Otávio, a artista plástica Nina Pandolfi se une ao grafiteiro Finók nos dias 2 e 3, às 12h30, para palestra e demonstração de grafite na Praça do Patriarca. O evento faz parte do programa No Centro da Arte, organizado pelo Centro Cultural Banco do Brasil.




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