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Programas enviam 2,2 milhões de toneladas de resíduos à reciclagem

Em Santo André, Moeda Verde troca recicláveis por frutas, verduras e legumes; Ecoenel garante desconto na conta de luz

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
06/09/2020 | 00:17
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Nario Barbosa/DGABC


A técnica de contabilidade Jussara Lima, 53 anos, viu o Jardim Cipreste, em Santo André, se transformar nos últimos dois anos e meio. Latas, garrafas e papelões, que ficavam jogados pela comunidade onde mora, não são mais encontrados. Tudo passou a ser recolhido e guardado pelos moradores, para ser trocado por verduras e legumes no programa Moeda Verde, parceria entre o Semasa (Serviço de Saneamento Ambiental de Santo André) e o Fundo Social de Solidariedade de Santo André, por meio do Banco de Alimentos da cidade.

Jussara é uma das 70 mil pessoas beneficiadas pela iniciativa, que já coletou 354,1 toneladas de resíduos em 14 bairros onde as trocas ocorrem, desde novembro de 2017. Outra iniciativa com o mesmo intuito é o Ecoenel, que dá desconto na conta de energia a quem doar recicláveis e já arrecadou 2,2 milhões de toneladas de resíduos (leia ao lado).

No Moeda Verde, cada cinco quilos de material seco dá direito a um quilo de alimentos (verduras, legumes e frutas) e já foram entregues 70,8 toneladas dos produtos. “Quando começou (o programa) a gente achou que seria só para distribuir alimentos. Mas foi ainda melhor, porque isso mudou a cara do bairro. E, mesmo agora que a pandemia fez o programa parar, a gente percebe que as pessoas ainda estão conscientizadas”, elogiou a moradora.

O programa foi suspenso temporariamente em março, em decorrência da pandemia da Covid-19. Em quase três anos de execução, a iniciativa colaborou no aumento de 140% no total de material enviado para a reciclagem na cidade. Santo André é o município da região que mais recicla os resíduos, considerando o volume total de material coletado. Foram 5.440 toneladas de janeiro a junho, o que representa 4,8% das 113.481 toneladas de resíduos coletadas no período e destinados ao aterro sanitário municipal.

Desde novembro de 2018, quando foi lançado, o Moeda Verde atraiu atenções das cidades de Mauá, São Paulo, Itapetininga, Volta Redonda (Rio de Janeiro) e Capanema (Paraná). O programa já foi replicado pela prefeitura de Amparo, cidade com 70 mil habitantes na região de Campinas, por meio da iniciativa Via Verde. Lá, três quilos de material reciclável são trocados por dois quilos de verduras e legumes.

Além de recolher o resíduo reciclável das comunidades, o programa Moeda Verde proporcionou a eliminação de cinco pontos de descarte irregular de resíduos na cidade. Na Rua Malaia (núcleo Capuava, no Parque Capuava); em um terreno ao lado da Avenida dos Estados, onde ocorrem as trocas de recicláveis por alimentos, no núcleo Capuava; na Rua Caldas (núcleo Espírito Santo, no bairro Cidade São Jorge); na Rua Lamartine (Jardim Santo André); e na Rua Comendador Júlio Pignatari (núcleo Ciganos, em Utinga). Os pontos de descarte nos núcleos Ciganos e Capuava eram os maiores da cidade.

Também houve o reordenamento do sistema de coleta na comunidade dos Eucaliptos e no Jardim Cristiane. Já na Avenida dos Estados e na Rua Malaia, o Semasa e a Prefeitura construíram uma praça e uma área de convivência. Na Rua Lamartine, foi feito um jardim.

Posto andreense da Ecoenel é o primeiro a receber lixo eletrônico

Os clientes da Enel, responsável pela distribuição de energia no Estado, podem trocar materiais recicláveis por descontos na conta de luz. Desde 2013, a empresa mantém o programa Ecoenenel, que foi modernizado em 2018 e conta com dez postos de troca – dois deles no Grande ABC, um em Santo André e outro em Diadema –, além de manter máquinas onde são aceitas latas de alumínio e garrafas pets. O posto de Santo André, reaberto na última semana após fechamento temporário em decorrência da pandemia de Covid-19, é o primeiro que vai receber lixo eletrônico, como celulares, carregadores, chuveiros e eletroeletrônicos, como televisores e microondas, totalizando 160 produtos. É preciso apresentar o número da conta de energia elétrica no momento da troca.

A analista de sustentabilidade da Enel Distribuição SP, Ana Maranho, diz que todo o material que é entregue nos postos do programa tem a destinação adequada por meio de empresa que faz a triagem, limpeza e encaminha para as indústrias de beneficiamento. A empresa vai começar a incluir as cooperativas de reciclagem no processo. “É um trabalho de conscientização e educação”, detalhou a analista. “A gente sempre incentivou o consumo consciente de energia e o Ecoenel fala de consumo e destinação consciente dos produtos e resíduos”, completou.

Ana ressaltou que também existe trabalho interno de destinação e todos os materiais recicláveis que são gerados pela própria empresa são revertidos em desconto nas contas de energia elétrica de entidades assistências.

Nos últimos dois anos, o programa Ecoenel beneficiou cerca de 20 mil clientes, arrecadou mais de 2,2 milhões de toneladas de resíduos e concedeu bônus de mais de R$ 450 mil nas faturas de energia dos clientes atendidos pela distribuidora em São Paulo, além de colaborar para evitar a emissão de 5.600 toneladas de CO2 na atmosfera. 

Empresa oferta gestão de resíduos

Para atender a demanda por gestão de resíduo, foi criada em 2018 a Trashin, empresa do Rio Grande do Sul que presta serviço para indústrias, varejo e condomínios, desde a educação ambiental até a destinação correta de todo resíduo gerado.

A PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) determinou que todos os produtos passem pela chamada logística reversa, que é quando o fabricante/gerador de determinado resíduo se responsabiliza por recolher as embalagens, ou mesmo os produtos já usados e encaminha para reciclagem ou reaproveitamento. 

No entanto, poucos segmentos da indústria já contam com os chamados acordos setoriais assinados, como lâmpadas, pilhas e baterias e óleos combustíveis. A empresa atua no chamado modelo 360 graus e cuida de absolutamente todas as etapas do processo de gestão de resíduos. 

Presente em cinco Estados (São Paulo, Minas Gerais, Goias, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), a Trashin se prepara para ingressar no Rio de Janeiro e em Pernambuco, com a experiência de 50 clientes atendidos e, mensalmente, mais de 1.000 toneladas de resíduos destinadas, impactando ao menos 100 famílias que atuam em cooperativas de reciclagem. Em São Paulo, a empresa é responsável por toda a gestão dos resíduos do Shopping D, na Zona Norte da Capital. 

“Seja qual for a demanda, desde a educação do cliente, de como separar da melhor maneira na origem o resíduo até fazer a coleta e a melhor destinação para todos, a gente está pronto para fazer” explicou o cofundador da Trashin, Gustavo Finger. 

“Recicláveis, orgânicos, infectantes etc. A gente programa a correta e criativa destinação e entrega de volta as informações para os clientes e a documentação para que ele esteja de acordo com a legislação ambiental”, completou. 

Por meio de login e senha no sistema, as empresas podem acompanhar os volumes de material encaminhado, qual a destinação e até avaliar se está havendo desperdício na produção.
 




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