Se depender dos deputados federais Ivan Valente (PSOL-SP) e Jorge Boeira (PT-SP), a direção da Volkswagen do Brasil prepara as malas e embarca, em breve, a Brasília para detalhar o plano de reestruturação da companhia aos membros da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, da Câmara dos Deputados, informou com exclusividade ao Diário o parlamentar do PSOL.

Nesta quarta-feira, Valente protocolou requerimento de audiência pública para tratar das implicações sociais e econômicas das propostas de ajustes anunciadas pela multinacional alemã.

Embora assinado por dois parlamentares, o requerimento é uma iniciativa do deputado Ivan Valente, de São Caetano. O documento exige a presença do presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner, do presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Demian Fiocca, do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, e de especialistas e pesquisadores em reestruturação produtiva na comissão econômica.

Na Câmara dos Deputados, Valente pretende lançar discussões políticas e medidas que possam manter empregos e direitos dos milhares de trabalhadores ameaçados pela reestruturação da montadora. Somente na cadeia produtiva, segundo estimativas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, as 5.773 demissões na Volkswagen comprometeriam a estabilidade de mais de 245 mil postos de trabalho no país.

A justificativa do requerimento se baseia em reportagem do Diário sobre a quadruplicação dos lucros líquidos da montadora entre janeiro e março deste ano, em esfera mundial, de R$ 863 milhões. Segundo a direção da Volks no Brasil, a empresa acumula o oitavo ano consecutivo de prejuízo. Além disso, o deputado do PSOL questiona também os empréstimos do BNDES à multinacional alemã no valor de R$ 3,7 bilhões nos últimos onze anos, destacando a necessidade de contrapartidas sociais.

Debate – O deputado Valente diz que a intenção do requerimento de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio é fomentar debate sobre a reestruturação da montadora no país imediatamente, em meio à crise deflagrada. "Isso precisa ser feito agora. As discussões com o governo, as demissões anunciadas e a questão do câmbio chamam para o debate sobre a política econômica", considera o parlamentar.

Para Valente, a questão dos ajustes na Volks agrava-se por atingir grande número de trabalhadores que amargarão o desemprego, além da ameaça de fechamento de uma fábrica no Brasil. "As transnacionais têm políticas que atropelam os interesses nacionais. O projeto está baseado em produtividade e lucratividade, sem levar em conta os interesses do país", critica Valente.

Na discussão sobre o anúncio de "milhares" de cortes previstos pela Volks no Brasil, o deputado do PSOL cobra explicações sobre os empréstimos do BNDES concedidos às montadoras, em especial à multinacional alemã. "O BNDES é econômico e também social. Dessa forma, deveria estimular os setores com menos retaguarda financeira e gerar infra-estrutura", avalia. Na próxima quarta-feira, reunião ordinária da comissão vota o requerimento e, em quinze dias, pode ocorrer a audiência pública.