Contexto Paulista Titulo
A imprensa regional e o futuro dos jornais

A informação consta do último boletim da Rede de Jornalistas Internacionais (IJNet, em inglês), entidade independente com sede em Washington

Wilson Marini
25/10/2010 | 00:00
Compartilhar notícia


A informação consta do último boletim da Rede de Jornalistas Internacionais (IJNet, em inglês), entidade independente com sede em Washington: o clima é de otimismo na mídia em relação ao futuro dos jornais. Entre abril e junho deste ano, a organização World Editors Forum, com sede em Paris, efetou pesquisa com 525 editores de todo o mundo, segundo relata o terceiro Newsroom Barometer. De acordo com a pesquisa, há um esforço sério em direção de modelos de jornalismo digital e quem está à frente dessa empreitada são justamente os jornais tradicionais - as redações que nasceram e fortaleceram a instituição imprensa ao longo dos séculos com a invenção do papel e da impressão.

Os editores reconhecem que as transformações atuais, com o crescimento da importância da internet, representam um desafio. Mas acreditam que muitas das mudanças que os jornais estão passando na atualidade levarão não só à sobrevivência dos meios impressos, como a convivência harmônica com as diferentes mídias.

Na mesma linha, o jornalista brasileiro Carlos Castilho publicou artigo em que comenta a reinvenção das empresas jornalísticas mais atentas às mudanças provocadas pela emergência da web como canal de comunicação. Ele detecta "uma gigantesca operação de mudanças de valores entre os encarregados da produção de conteúdos informativos". E pergunta se toda essa reengenharia corporativa se tornará sustentável no médio e longo prazos, num ambiente informativo onde a grande incógnita ainda é o comportamento do público. A resposta está na compreensão da natureza intrínseca do jornalismo numa cidade.

Crescimento regional - Entramos neste século 21 definitivamente na Era da Informação. Nada indica que os jornais de papel venham a desaparecer num futuro próximo, em alguns anos ou mesmo nas próximas duas décadas. A televisão não derrubou o cinema e o rádio - estes, ao contrário, se revigoraram depois disso. E a internet, surgida a partir de 1995, não acabou com o jornal impresso. Ao contrário, há casos em que as tiragens dos jornais aumentaram com a popularização da credibilidade das marcas de jornais clássicos. O fenômeno acontece especialmente na chamada imprensa regional, da qual a Rede APJ, que publica esta coluna, é um expoente no País - somada, a circulação auditada dos 14 jornais que a compõem ultrapassa a de qualquer grande jornal brasileiro individualmente.

Somos todos regionais - Não existem, aliás, jornais globais nem nacionais - ou seja, de circulação global ou mesmo nacional. Existe uma meia dúzia de jornais de prestígio nacional, devido a história e a força dos mercados metropolitanos em que atuam, em São Paulo e Rio especialmente. Mas todos, sem exceção, são jornais regionais. No mundo todo é assim. Não há um único jornal ou revista capaz de ser uma espécie de McDonald's da imprensa, com conteúdo e penetração no Oriente e no Ocidente, em várias línguas e costumes. Isso ocorre porque o jornal é uma instituição fundamental numa cidade e numa região. E somente aqueles que possuem raízes com a formação e crescimento da cidade é que vão se manter. Os jornais querem saber quem são os jornalistas de sua cidade, o dono, a sequência de acertos e erros do jornalismo local.

A alma da cidade - Há um livro muito saboroso e que trata exatamente desse papel singular exercido pelo jornal enquanto alma de uma cidade - A Mecânica das Águas (E. L. Doctorow, Companhia das Letras, 1994, 231 páginas). É uma ficção que se passa em 1871 em Nova York. A cidade cresce e se industrializa. Um milhão de habitantes. Bondes correm pelas ruas e as redes de água e gás se espalham como raízes de árvores em todas as direções. Políticos, policiais, médicos e jornalistas vivem uma história surrealista, num cenário social surpreendentemente atual. Por meio do personagem McIlvaine, editor do hipotético jornal Telegram, Doctorow emite de forma admirável conceitos sobre a atividade jornalística.

Algumas das frases:
4 A função do jornal é remediar a dissociação que ocorre com o crescimento das cidades.
4 São os jornais que compõem a história coletiva de todos nós.
4 Na vida urbana moderna é perfeitamente possível a gente vivenciar uma revelação e, no instante seguinte, voltar a atenção para outra coisa. Mesmo se Cristo voltasse e viesse a Nova York, eu teria de aprontar a edição do dia.
4 Fica evidente que quem escreve com afinco (...) e é impelido a definir o que é intolerável, ou decidir o que de repente se torna momentoso, ou elogiar o que é especialmente belo, ou rir do que é tremendamente ridículo, pode aspirar a escrever para a posteridade, ainda que o tempo torne inadequado o seu linguajar.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;