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Poesia na cidade grande
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
30/06/2009 | 07:00
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Divulgação


A mesma ferramenta que facilita a comunicação também é responsável por minar relações. O homem que busca o isolamento fica carente em igual medida. São essas antíteses o ponto de partida de "Duas Orelhas e uma Boca que Escuta", novo espetáculo do Coletivo MR, originado dentro do projeto "Mão na Roda", de Diadema, que propõe a inclusão de cadeirantes por meio da arte. A estreia é amanhã, no Teatro de Dança, em São Paulo.

"Partimos da ideia da velocidade que as grandes metrópoles impõem às nossas vidas. As relações acabam se tornando distantes por falta de tempo", diz o coreógrafo Luís Ferron, que concebeu o espetáculo. O título faz referência, portanto, à falta de contestação. "O tempo todo respondemos a comandos: vire, mantenha-se à direita, não ultrapasse a linha amarela... E acabamos submissos também a ideias que não necessariamente são verdade. Exemplo é o trânsito. Todos dizem ser um caos, mas é possível viver tudo isso de outra forma", explica Ferron.

No cenário, estão bem representados alguns desses limites com os quais convivemos, como um display distribuidor de senhas e oito unifilas (aquelas faixas utilizadas para organizar o atendimento em bancos e aeroportos). "É para ficar bem claro que não moramos no campo. A questão é tentar enxergar a poesia das cidades, como em um jardim bem cuidado, em um grafite. Será que é sempre tão horrível como os jornais mostram?", esclarece o coreógrafo.

Apesar de lidar com temas tão pouco saborosos, o espetáculo foge da amargura, como define Ferron. "Levamos para o espetáculo um texto em que a dançarina diz que adora inventar sotaques a partir das letras das placas dos carros com os quais cruza no engarrafamento. É uma forma de não se deixar contaminar pelo lugar-comum."

São oito bailarinos em cena - Andréa Pestana, Angélica Passos, Jaqueline Souza, Suzana Bayona, Hélio Feitosa, Mufid Hauach, Neta Pereira e Ronaldo Evaristo. Os quatro últimos são portadores de necessidades especiais. O coreógrafo, um DJ e um videomaker interagem o tempo todo com o corpo de baile.

O espetáculo segue em cartaz até domingo e deve ser encenado em Diadema em agosto. A partir de quinta, Luís Ferron coordena também o workshop Singularidades Corporais como Proposta de Investigação Coreográfica. As inscrições estão abertas. Informações pelo telefone 2189-2557.

O projeto "Mão na Roda", do qual o Coletivo MR nasceu, completou em maio dez anos e atende hoje a 12 pessoas. A abrangência só não é maior porque, segundo Ferron, não há transporte especial para os participantes.

Duas Orelhas e uma Boca que Escuta. Dança. Com o Coletivo MR. De amanhã a sexta, às 21h; sáb., 20h; dom,, 18h . No Teatro de Dança - Av. Ipiranga, 344, São Paulo. Tel.: 2189 2557. Ingr.: R$ 4.




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