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Estádio Bruno Daniel tem porteiro de luxo
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
07/02/2011 | 07:09
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Orlando Filho/DGABC


Quem chega ao Estádio Bruno Daniel nos períodos da manhã ou tarde pelo portão principal recebe um "bom dia" do Vanderlei. Um cara simples, de baixa estatura, que sempre recebe os visitantes, munícipes, funcionários e jogadores do Ramalhão com sorriso no rosto, fruto de pura simpatia. Mas o que poucos sabem é que ele é pai do atacante Lulinha, ex-Corinthians e que desde 2010 defende o Olhanense, de Portugal.

Independentemente de chegar com carro importado, vestir roupas de marca e, em função de ser pai de um atleta que joga na Europa, não precisar efetivamente trabalhar, desempenha seu papel com orgulho, todos os dias.

"Sou funcionário da Prefeitura há 20 anos. Sou concursado como auxiliar de topografia e cadastro, mas há dez (anos) estou na área de esporte e cinco na portaria do Brunão. Muita gente comenta, fala que eu não preciso, mas gosto de estar aqui", diz Vanderlei Macedo dos Reis, de 44 anos. "Antes de o Lulinha ser jogador eu já trabalhava na Prefeitura, e não quero perder 20 anos de serviços prestados", emenda o porteiro, que na recepção do estádio tem fotos ao lado de Ronaldo, Roberto Carlos, Dentinho e outros jogadores.

Como muitos casos provam, o dinheiro e a fama mudam as pessoas e aquelas que estão a sua volta. Vanderlei, porém, se orgulha justamente do contrário. "As pessoas que me conhecem desde os tempos de vacas magras falam que não mudei. Por isso, por incrível que pareça, não rola ciúmes nem nada. Independentemente de qualquer coisa, tem sempre que respeitar o próximo e tentar ajudar. Não usar do fato de ser pai do Lulinha para ser arrogante", conta.

Nascido na Bahia, há 24 anos veio para Mauá, cidade onde Lulinha nasceu em 1990. Com o interesse do filho pelo futebol, por vezes teve de faltar ao trabalho para levar o meia-atacante ao treino ou jogo. "Se tivesse perdido o emprego por isso, perderia feliz. Passei por quatro CPI's Comissão Parlamentar de Inquérito) a Prefeitura, discuti com chefia, perdi três férias, mas foi com vontade e felicidade. Mas nunca falei que era por causa do meu filho. Mesmo assim, faria tudo de novo".

 

Contato direto com jogadores o transformou em empresário

 

Ao mesmo tempo que tem o filho jogador distante, Vanderlei tem contato diário com o elenco profissional e garotos da base do Santo André. Além de ser uma forma de matar um pouco da saudade de Lulinha, o porteiro viu aí uma chance: tornar-se empresário de atletas. Por ora, apenas um jovem meia-atacante andreense.

"Aparece muito pai que vem até mim por indicação para que eu ajude o filho. Alguns consigo mandar para avaliação, porque sei o que é o sonho de um pai ver o filho virar jogador. Se quisesse, seria empresário de uns 20 atletas, mas isso tem custo alto e não quero envolver o Lulinha nisso. Mas tenho um jogador no sub-17 do Santo André: Jeferson, que é conhecido como Matiuzinho", conta Vanderlei.

 

Como bom empresário, ele apresenta o jogador e vai além. "Ele ia disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano. Não foi porque teve apendicite. É um rapaz humilde, mora em Mauá, tem mais seis irmãos e jogava na várzea para tirar R$ 30 por semana", cita. "Matiuzinho: pode marcar esse nome porque vai dar muitas alegrias ao torcedor andreense. Minha vontade é que se profissionalize aqui e renda bons frutos. Aposto minhas fichas nele", conclui.

 

Atacante foi revelado na Copa Diarinho

 

Revelação da Copa Diarinho pelo Jardim Estela, de Santo André, Lulinha dividia-se entre o torneio society no Grande ABC e as partidas no futsal e campo do Corinthians, o qual defendeu desde os oito anos (passou também pelo Mauaense e pelo São Caetano). "Quando ele era criança, comprei um carrinho. Mas ele deixou jogado, de lado. Ia até a fruteira, pegava batata ou outra fruta e chutava. Aí vi o que ele queria ser", diz o pai Vanderlei.

Aos poucos, Lulinha foi crescendo, ganhando notoriedade e chegou à Seleção Brasileira Sub-17, na qual se destacou com 16 gols em 16 partidas - sem contar os 297 gols que marcou em toda sua passagem pela base alvinegra, tornando-se o maior goleador da história. Assim, logo foi alçado à equipe principal do Timão. "O sonho dele sempre foi ser profissional no Corinthians, conquistar uma Libertadores no clube e depois ir ao Barcelona ou Real Madrid."

A responsabilidade que caiu sobre as costas do garoto, porém, foi apenas salvar o time do rebaixamento à Série B do Brasileiro em 2007, o que não foi possível. "Ele ficou realmente muito triste quando o time caiu. Infelizmente subiu na hora errada. Todos esperavam que seria o herói, mas vimos nessa semana que nem o Fenômeno (Ronaldo) conseguiu. A torcida caiu em cima dele, mas ele vai dar a volta por cima."

Em 2008 e 2009, Lulinha sofreu com o jejum de gols no Corinthians e foi emprestado ao futebol português. Ele tem contrato no Timão até 2013, mas se não tiver chances por lá demonstra interesse em vir ao Ramalhão. "Ele sente vontade de vir para o Santo André para poder mostrar o futebol que não teve chance. Mas ficaria difícil por causa do salário."

 




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