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Covid-19 retira 281 profissionais da saúde de combate na região

Trabalhadores da linha de frente sofrem com falta de EPIs adequados nos hospitais e estão entre os suspeitos de terem adquirido a doença

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
07/04/2020 | 23:30
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Em uma guerra civil ou armada, os primeiros a serem convocados são os militares. Atualmente, entretanto, o mundo combate inimigo invisível e a linha de frente desta batalha é composta por profissionais da saúde, que vêm se desdobrando para vencer o novo coronavírus mesmo – muitas vezes – em condições adversas, sem munições (ainda não há cura ou vacina) ou até os trajes corretos (convivem com a falta de EPIs – Equipamentos de Proteção Individual). Consequentemente, acabam infectados. O Diário questionou as prefeituras da região sobre o número de trabalhadores da saúde que são suspeitos ou já tiveram a confirmação da Covid-19 e, hoje, o Grande ABC investiga 281 casos e tem cinco profissionais que testaram positivo, todos em São Bernardo – apenas Mauá não enviou os dados. Como base de comparação, na semana passada a Itália divulgou que 6.400 de seus casos confirmados eram da área da saúde.

O novo coronavírus é, segundo a biomédica e gestora do curso de biomedicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Adriana de Brito, vírus de risco biológico de nível três, “significa que ele tem alto risco individual de contaminação e moderado para a comunidade, pois é potencialmente letal e precisa de medidas de prevenção, que são essenciais para evitar a disseminação, a transmissão e a contaminação”.

Sendo assim, para evitar a contaminação os profissionais devem ter treinamento específico para manejo de agentes biológicos e boas práticas de biossegurança, utilizando EPIs corretos, o que nem sempre ocorre. “Para este nível de biossegurança, (o equipamento) tem de ter nível de contenção adequado para o trabalho com estes agentes, por serem potencialmente transmissíveis ao ar. Muitos profissionais estão utilizando apenas jaleco, luva, touca e máscara, sem ser a específica, que é a N95 ou PFF2. (O ideal) Seria proteção respiratória total, máscaras que fazem barreira da entrada do ar de fora para dentro, uso de macacão e protetor da face e dos olhos. O que vemos em outros países, aqueles macacões totalmente fechados, com proteção facial total, não é exagero. Na verdade, é o equipamento ideal que deveria ser usado por nossos profissionais da saúde que estão enfrentando o novo coronavírus. Muitos estão usando os EPIs que já utilizam para vírus respiratórios comuns acreditando que luva, máscara simples e jaleco são suficientes, contudo, não são”, declarou Adriana de Brito.

LINHA DE FRENTE
Os profissionais de saúde, sejam particulares ou públicos, confirmam que têm dificuldades para encontrar os EPIs, o que causa ainda mais temor entre médicos, enfermeiros e demais trabalhadores. “Estar na linha de frente do combate ao coronavírus gera para a gente um sentimento de apreensão, um medo que se torna nosso parceiro de trabalho, com o qual a gente tem de conviver todos os dias. É apreensão por uma guerra invisível, você não enxerga o adversário, o inimigo, e tem de estar ali, pronto, sempre vigilante para qualquer eventualidade. Uma das angústias que permeiam é a falta de EPIs. Estamos tendo dificuldades em encontrar para trabalhar: máscara, luva e avental. Está tudo escasso e gera receio na equipe vir e não se paramentar de acordo para evitar qualquer eventualidade”, explicou Marcella dos Santos, enfermeira-chefe do Grupo DG Sênior, que administra residenciais de idosos do Grande ABC.

“O uso de EPIs em saúde está ligado à segurança individual, seja do profissional, mas também do paciente. Em época de Covid-19 passou a ser fundamental não somente o uso adequado e apropriado para cada situação, mas também o modo descarte, com peso muito maior fazendo parte fundamental da biossegurança individual e dos ambientes. É de fundamental importância a observação destes equipamentos para todos, observando sempre a finalidade, modo de uso, limpeza, remoção e que o descarte seja adequado”, opinou Rosely Cordon, professora pesquisadora em odontologia integrativa Opas/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde) e especialista em qualidade e serviços de saúde pelo Hospital Albert Einstein.

Denúncia aponta irregularidades em hospital

A acompanhante de um paciente que está internado na unidade Santo André do Hospital Santa Helena, na Vila Alzira, fez denúncia ao Diário quanto ao uso indevido de paramentação por funcionários do local. Segundo informações e registros da denunciante, que pediu para não ser identificada, enfermeiros deixam a unidade de saúde para buscar a refeição em comércio próximo utilizando as mesmas roupas que atendem os pacientes.

“Em tempos de pandemia nada deve-se levar em consideração as regras adotadas, principalmente em se tratando da segurança dos pacientes e dos funcionários”, diz ela, que já vem frequentando o hospital há alguns dias em razão da internação do pai, que não está com a Covid-19, o que a fez adotar métodos para proteger a si e a ele, como levar de casa composto formado por desinfetante, água sanitária e álcool 70%. “Quem entra, eu borrifo.”

Além disso, ela criticou a qualidade do material que a equipe de enfermagem tem acesso. “Existem sapatos descartáveis que se usam em centro cirúrgico, por que não faz parte do kit? Nas reportagens de outros países eles usam macacão grosso por inteiro, como astronauta e até capacete ou máscaras grossas e resistentes. Mas aqui e em outros hospitais também, tudo frágil. Avental até o joelho, mas com as costas de fora, fininho. As máscaras são aquelas que deveriam ser usadas somente nas ruas”, observa a denunciante.

Segundo a biomédica e gestora do curso de biomedicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Adriana de Brito, dentro de um ambiente hospitalar existem dois tipos de vestuários que são usados. “Um é o uniforme, que serve para identificar e não tem problema de o funcionário entrar e sair do ambiente externo. Mas, quando se fala de área limpa do hospital, como centro cirúrgico ou UTI (Unidade de Terapia Intensiva), é obrigado o profissional usar roupa estéril, que tem de ser colocada dentro do hospital, tirar a vestimenta que ele vem de casa, veste roupa estéril, vai para o local de atuação e, quando sai, tem de retirar esta roupa. Não pode circular com a mesma fora do centro cirúrgico ou UTI. Estas roupas podem carregar patógenos do centro cirúrgico para fora e também trazer. Se está com roupa estéril e vai parar local fora e volta, pode trazer”, explicou.

“Isto (trocar de roupa) serve para todas as áreas que envolve saúde, seja clínicas médicas, odontológicas, hospitais e laboratórios”, disse Rosely Cordon, professora pesquisadora em odontologia integrativa Opas/OMS (Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde) e especialista em qualidade e serviços de saúde pelo Albert Einstein.

Em nota, o Hospital Santa Helena informou que “disponibiliza vestiário para todos os colaboradores e irá reforçar as orientações sobre o uso adequado dos uniformes aos seus profissionais de saúde”.<TL>DB 




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