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Miscelânia popular

Bastidores do Tropicalismo são revisados em livro

Luciane Mediato
Especial para o Diário
24/12/2011 | 07:00
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Um dos mais importantes movimentos culturais brasileiros foi o Tropicalismo. Ele rompeu e sacudiu o ambiente da música e da cultura nacional. O marco inicial dessa revolução foi o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record.

No ano de seu 43º aniversário, a Tropicália recebe de presente um resgaste da sua história com o livro Tropicália: Um Caldeirão Cultural (Ferreira, 430 páginas, R$ 59 em média). O autor Getúlio MacCord levou mais 30 anos para concluir a obra. "Tinha 17 anos quando fiz a primeira entrevista com o Paulinho da Viola. Foi o pontapé para a realização do meu sonho, que era registrar as memórias daquela época", diz o escritor.

MacCord traz nova perspectiva sobre o movimento. Para escrever o livro ele fez mais de 40 entrevistas, somando mais de 50 horas de conversas, gravadas em mais de 55 viagens e quase 5 mil shows.O livro apresenta uma coletânea de depoimentos de personagens que viveram os bastidores dessa revolução.

Enquanto os holofotes sempre se concentraram nos baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, entre outros, considerados os líderes, outras figuras significativas têm partipação efetiva e são apresentadas sob outro olhar, como, por exemplo, Jards Macalé, que afirma ter acontecido um grande mal-entendido. "Eu gravo pouco porque determinadas pessoas das gravadoras até hoje acham que nós, os ditos malditos, não somos comerciais. Eu, Jorge Mautner, Luís Melodia e Sérgio Sampaio somos considerados malditos", desabafa, acrescentando que na Tropicália a mudança maior foi referente aos valores e aos costumes populares.

O movimento sofreu e ainda é criticado por não utilizar a música como arma de combate político à ditadura militar que vigorava no Brasil. Os tropicalistas acreditavam que a inovação estética musical já era uma forma revolucionária. "Por mais que queiram associar o Tropicalismo à política, a essência dele sempre foi cultural. Podemos comparar a importância dele à Semana de 1922 e ao movimento antropofágico de Oswald de Andrade", afirma o autor.

Essa revolução musical propôs um diálogo constante com as diferentes influências que estavam à disposição naquela época. Sem maiores preconceitos ou recalques, se aproximavam do samba, do rock and roll, da bossa nova ou das canções românticas.

A recepção para aquele tipo de proposta musical despojada foi a mais dura possível. Os artistas foram vaiados e acusados de estarem reproduzindo modelos estéticos vindos do Exterior. "Podemos afirmar com segurança que se hoje existe essa diversidade de estilos é porque os tropicalistas estiveram na vanguarda", diz.

Apesar da aparente derrota, a proposta tropicalista não foi deixada no passado. A inventividade que buscava o diálogo entre o nacional e o estrangeiro marcou a nossa cultura. 

A Tropicália não ficou só na esfera das canções, também atingiu as artes plásticas, o cinema e a poesia. Influências e inovações podem ser notadas no concretismo literário e na pop art.




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