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O bode e o cordeiro

A CPI de Carlinhos Cachoeira assusta vários setores da política brasileira: todos os partidos precisam de

Por Carlos Brickmann
18/04/2012 | 00:00
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A CPI de Carlinhos Cachoeira assusta vários setores da política brasileira: todos os partidos precisam de dinheiro para a campanha, muitos políticos das mais variadas tendências cultivam o hábito de ficar com boa parte das quantias arrecadadas, Carlinhos Cachoeira é um grande contribuinte. Como ensina o filósofo Silvio Santos, quem procura acha. Então, é melhor não procurar.

Só que ficou difícil passar por cima do problema e fingir que não aconteceu nada. O trabalho dos mais hábeis políticos de diversos partidos é montar uma investigação que investigue sem investigar; e, sabendo que o hábito nacional é contentar-se quando o envolvido perde o cargo, sendo esquecido em seguida, o provável desenvolvimento dos fatos deve ser uma punição legislativa para o senador Demóstenes Torres (ex-DEM de Goiás): a cassação de seu mandato. Depois, a vida segue, o recesso parlamentar vem aí, depois as eleições, e pronto.

Pode? Mais do que pode, é o que provavelmente vai acontecer. O ex-presidente Lula vislumbra, no episódio Cachoeira, a possibilidade de vingar-se de um desafeto, o governador goiano Marconi Perillo, que o desmentiu quando disse que não sabia do Mensalão. Mais do que isso, gostaria de colocar em dúvida a própria existência do Mensalão. Mas é perigoso: o petista Rogério Buratti, antigo amigo próximo do grão-petista Antônio Palocci, disse à CPI dos Bingos que Cachoeira contribuiu com R$ 1 milhão para a campanha de Lula em 2002.

Melhor deixar para lá. E que Demóstenes, o bode expiatório, pague por todos.

O TEMPO VOA

Aliás, perder o mandato não é uma punição irreversível. Fernando Collor perdeu o mandato e está de volta, numa boa, prestigiadíssimo, amigo de velhos inimigos como Sarney e Lula. O tempo passa - são oito anos - os eleitores esquecem, os amigos não esquecem e Demóstenes pode voltar à política.

E OS OUTROS?

O governador goiano Marconi Perillo, PSDB; o governador brasiliense Agnelo Queiroz, PT; as doações diversas de Carlinhos Cachoeira, que ainda não falou; a Construtora Delta, rainha do PAC, ligada ao governador fluminense Sérgio Cabral, PMDB; o presidente da Delta, Fernando Cavendish, com gravação em que se gaba de comprar políticos para ganhar obras, todos acabarão esquecidos. A imolação (parcial) do cordeiro Demóstenes Torres pagará os pecados de todos.

ILUSTRANDO: AS PASSAGENS

Lembra do caso das passagens aéreas? Parlamentares usavam dinheiro público na compra de passagens para parentes e amigos, na boa. A revelação dos fatos aconteceu há três anos. O Ministério Público ainda não denunciou ninguém.

A VÍTIMA PARALELA

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, virou alvo precioso, tão bom quanto Demóstenes. Foi ele que, não conseguindo conter a língua, comprovou e deu fé a aquilo que todos já sabiam: que a CPI do Cachoeira serviria como fogo de encontro para o Mensalão, que algum dia será julgado pelo Supremo. Em política, como em tudo na vida, há manobras que, para funcionar, precisam de sigilo. Mas não deixa de ser curioso que um parlamentar pague caro por dizer a verdade.

PERGUNTA IRRESISTÍVEL

Qual político se esforçará para revelar suas fontes clandestinas de recursos?

DEM + PSDB

Um dos principais caciques do DEM, o fluminense César Maia, acha dificílima a fusão do partido com o PSDB, que vem sendo sugerida, no próprio DEM, como solução para o esvaziamento do partido. Na opinião de Maia, o PSDB usa o DEM como ‘tempo de TV partidário', e não o considera um aliado do mesmo nível. Maia defende a tese de que o DEM deve lançar candidatos próprios em todas as capitais, neste ano, e tenha um nome para a Presidência da República, em 2014. Ou seja, nem fusão nem aliança: afastamento total do PSDB. Mas admite que pode voltar atrás, se o PSDB agir como parceiro e não comandante.




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