Economia Titulo Mercado de trabalho
Grande ABC tem pior saldo de empregos em sete meses

Demissões superaram contratações em 180 vagas, impulsionadas pelos setores de serviços e pelo comércio

Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
28/04/2021 | 12:35
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 O emprego formal no Grande ABC registrou em março o pior desempenho em sete meses. Foram 25.492 contratações ante 25.672 demissões, resultando no saldo (diferença entre admissões e dispensas) de 180 postos de trabalho. Trata-se do primeiro resultado negativo desde julho de 2020, quando as baixas superaram os novos contratos em 902 vagas. Os dados são do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Ministério da Economia e tabulados pelo Diário.

Em números absolutos, a cidade com o pior desempenho foi Santo André, com saldo negativo de 542 empregados, seguida por Mauá (-260), São Bernardo (-228), e Ribeirão Pires (-183). Encerraram março com mais contratações do que dispensas os municípios de São Caetano (552), Diadema (456) e Rio Grande da Serra (25). No trimestre, a região contabiliza criação de 8.162 postos, enquanto nos últimos 12 meses, 1.076 deixaram de ser celetistas.

Os setores que mais demitiram no período foram o de serviços (-930) e o comércio (-309), com destaque para Santo André que obteve o pior resultado em ambos setores – 739 desligamentos no primeiro e 279 baixas no segundo. Por outro lado, a construção impediu que o cenário regional fosse pior, uma vez que houve criação de 899 vagas, sendo 338 nos canteiros de obras andreenses e 302 em São Caetano. A indústria, por sua vez, teve 163 contratações a mais do que demissões.

Jefferson José da Conceição, coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano), avalia que um dos principais elementos que justifica o desempenho negativo foi o agravamento da pandemia do novo coronavírus. Em março, a região oscilou entre as fases vermelha e emergencial do Plano São Paulo. “O retorno ao maior isolamento social impacta em segmentos como bares, restaurantes, da beleza e estética e do lazer e cultura”, exemplifica.

O docente destaca que a acentuada queda de renda das classes trabalhadora e média faz com que o consumo seja menor, gerando um “círculo negativo vicioso”. Isso porque o comprometimento da renda reduz o consumo e, consequentemente, reduz a produção e causa demissões. Ele adiciona que o Caged considera as vagas intermitentes, modalidade em que o salário é pago ao empregado conforme a necessidade da empresa. “Podem ter remunerações próximas de zero se não houver demanda ou serviço a ser feito”, lembra.

Professor e pesquisador da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Diogo Carneiro avalia que é possível que o setor de serviços e o comércio estejam sofrendo por causa da redução da pungência da indústria regional. Atualmente, as fábricas sofrem com falta de peças e, em março, as montadoras chegaram a paralisar a produção. Com a queda da demanda, lojas, bares e restaurantes do entorno, além de fornecedores, acabam sofrendo o baque.

Mesmo com a sanção presidencial de duas MPs (Medidas Provisórias) na ontem (27), cujo objetivo é a manutenção do emprego na pandemia, Carneiro avalia que o desemprego deve continuar continuar crescendo nos próximos meses. “Em geral, estas medidas não fazem diferença na decisão do empresário em contratar, demitir ou manter um funcionário, tanto que a reforma trabalhista não gerou empregos até hoje. É preciso um conjunto de expectativas melhores em relação à melhora da economia para gerar empregos”, explica.

Na outra ponta, no caso da construção, as contratações estão em alta desde o ano passado. Tanto que foi o único setor econômico do Grande ABC a fechar 2020 no azul, com a crianção de 1.071 empregos. À época, o Diário apurou que as vendas no ramo imobiliário, sobretudo de novas unidades, estão em alta. Para se ter ideia, a construção de 3.109 unidades habitacionais em Santo André pela Construtora Cury deve gerar 6.000 postos neste ano. Na construtora Patriani, o fundador Valter Patriani afirmou que os lançamentos venderam em “velocidade impressionante”.

No País, março contabilizou 1.608.007 admissões e 1.423.867 desligamentos, resultando no saldo positivo de 184.140 celetistas. O trimestre registra a criação de 837.074 empregos formais. No Estado de São Paulo, foram 526.725 contratações e 475.785 baixas, totalizando a criação de 50.940 postos de trabalho no terceiro mês do ano, com saldo positivo em 253.460 vagas em 2021.

Vale lembrar que desde janeiro de 2020, o sistema Caged foi substituído pelo eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas) para as empresas. Portanto, os resultados atuais têm diferenças em comparação aos números dos anos anteriores. A metodologia anterior vigorou de 1992 a 2019.




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