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Roubo de carga ‘fatura’ R$ 198 milhões
Por Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
23/02/2005 | 13:53
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As quadrilhas especializadas em roubo de carga ‘faturaram’ alto em 2004. Segundo o Setcesp (Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região), o prejuízo acumulado no ano em conseqüência dos assaltos girou em torno de R$ 198 milhões – valor superior ao orçamento que Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires juntas têm disponível para gastar em 2005.

Esse cenário é resultado, segundo a Setcesp, do volume de roubos de carga que ocorreram ano passado no Estado de São Paulo. De janeiro a dezembro, foram 2.542 assaltos. Todos eles com um perfil muito bem definido: 61,4% ocorreram durante a manhã, das 6h às 12h. Até mesmo os dias da semana em que preferem agir as quadrilhas são bem definidos dentro deste contexto.

Segundo o levantamento do sindicato, os dias úteis foram os prediletos para a ação dos criminosos: 76,63% dos casos ocorreram entre terça e sexta-feira. Os números divulgados pelo Setcesp são bastante semelhantes aos registrados ano retrasado, com uma pequena tendência de alta no comparativo com 2004 (aumento de 0,83% no número de ocorrências e 2,71% nos prejuízos).

Assim como ocorreu em 2003, a carga predileta dos assaltantes no ano passado foi a de alimentos. Dos 2.542 roubos ocorridos em 2004, 606 se enquadravam nesse setor. Na seqüência do ranking de alvos preferenciais no ano passado, seguem produtos metalúrgicos (249 casos), têxteis (246) e cigarros (233). O saldo do prejuízo, no entanto, segue ordem diferente de ranqueamento.

Roubos de eletro-eletrônicos lideram a lista. Foram 161 roubos que geraram um prejuízo às transportadoras de R$ 51,58 milhões. Na seqüência da tabela, vêm os produtos agrícolas, que acumularam perdas no valor de R$ 21,28 milhões. Os medicamentos (R$ 17,492 milhões), alimentos (R$ 16,92 milhões) e metalúrgicos (R$ 15,33 milhões) seguem logo atrás no ranking.

Ainda de acordo com o levantamento do Setecesp, apenas 26,36% das assaltos à carga ocorreram em rodovias. O Sistema Anchieta/Imigrantes, principal ligação entre a capital (passando pelo Grande ABC) e o Porto de Santos, o maior pólo exportador do país, concentrou apenas 15 roubos de carga – que representam 2,24% do total de crimes cometidos nas estradas.

Dentre as rodovias, as preferidas dos criminosos são a Dutra, que interliga São Paulo ao Rio de Janeiro, com 140 casos; e o Sistema Anhanguera-Bandeirantes, com 174 ocorrências. O restante dos crimes se desenrolou em ruas, avenidas e até mesmo dentro dos pátios das transportadoras, destinados exclusivamente a carga e descarga de mercadorias.

Independente do cenário, o modo de agir dos criminosos costuma ser o mesmo. A abordagem se dá de duas formas: com o caminhão parado, para descanso do caminhoneiro ou carga/descarga da mercadoria, ou com o veículo em movimento – o criminoso aproveita baixa velocidade do caminhão para, com apoio do estribo, abrir a porta do veículo e dominar o motorista.

Dominada a situação, a quadrilha leva o motorista para um matagal, em geral num ponto ermo, próximo de onde ocorreu a abordagem, e o mantém refém. Enquanto isso, o restante da quadrilha segue com o caminhão até um galpão próprio, que pertence ao bando, ou empresa que fará a receptação da carga. O motorista só é liberado após o fim do processo, que pode levar até 12 horas.

“São grupos muito bem organizados. Em alguns casos, há inclusive informantes dentro das transportadoras. Com isso, os criminosos saem à rua com o roteiro que será percorrido pelo caminhoneiro e o melhor ponto para abordagem”, afirma o delegado Luiz Alberto de Souza Ferreira, seccional de Santo André – também responsável por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Para evitar ação das quadrilhas de roubo de carga, algumas empresas investem pesado em segurança. Em 2004, a multinacional Ryder, que possui base em São Bernardo, investiu cerca de US$ 500 mil – aproximadamente R$ 1,2 milhão. Hoje, toda a frota de carretas do grupo, cerca de 900 veículos, são equipados com sistema de rastreamento por GPS.

No transporte de cargas de alto valor agregado é feita escolta armada. Em alguns casos, o sistema GPS é aprimorado. De uma base fixa, é possível saber se o caminhão está com as portas abertas ou fechadas, se o motor está ligado ou desligado e se a carreta está ou não engatada. Tanto cuidado surtiu bons frutos: em 2004, nenhum caminhão da empresa teve a carga roubada.

Regional – O levantamento preparado pela Setcesp não aborda de forma isolada os crimes ocorridos no Grande ABC. Também não há dados oficiais da Secretaria de Estado de Segurança Pública que mostrem a situação do roubo de cargas na região. Esses números devem ser conhecidos em meados de abril, quando a pasta divulgar sua estatística trimestral sobre a criminalidade.

Além do volume de roubos de carga, também devem ser detalhados os números de roubos contra a pessoa e de bancos. As novidades eram aguardadas para o início deste ano, com base nos crimes cometidos nos três últimos meses de 2004, mas foram proteladas. O maior detalhamento se deve ao volume de denúncias sobre um suposto esquema de maqueamento das estatísticas por parte do Estado.



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