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Mauá não vai retomar as aulas presenciais em 2020

Cidade é a primeira do Grande ABC a tomar a decisão; outras prefeituras ouvem comunidade

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
30/07/2020 | 00:01
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Mauá é a primeira cidade do Grande ABC a anunciar que não irá retomar o ensino presencial em 2020. A informação foi passada pelo prefeito Atila Jacomussi (PSB) em transmissão ao vivo nas redes sociais, ontem à noite. Segundo o chefe do Executivo, a presença do novo coronavírus não permite a retomada das atividades em segurança. Santo André, São Bernardo e São Caetano anunciaram que não devem reabrir os colégios dia 8 de setembro, como projeta o governo do Estado. As demais cidades da região ainda estão discutindo quais atitudes serão tomadas.

Mauá possui cerca de 20 mil alunos em 45 escolas de educação infantil, sendo 42 municipais e três conveniadas, ou seja, os alunos possuem entre zero e 5 anos. “Imagine bebês voltando às escolas diante desta pandemia, mesmo que tenhamos baixos índices de evolução da doença, eles são possíveis transmissores para pais, irmãos e avós. Precisamos preservar as vidas, que são o bem mais importante da nossa cidade”, destacou Atila.

O prefeito afirmou que o formato de retomada do governo do Estado contempla o rodízio de alunos, com dois ou três dias de aula na semana, o que não recupera o ano letivo de qualquer forma. “Queremos que o governo do Estado crie protocolos diferentes para escolas públicas e particulares, assim, os pais e as escolas particulares podem decidir sobre a volta dos seus filhos ou continuar com as aulas remotas. Na rede pública continuaremos com as aulas a distância”, disse Atila, que garantiu que o cartão merenda, com valor de R$ 60 mensal será recarregado normalmente até dezembro.

Ontem, Mauá havia publicado pesquisa nas redes sociais na qual perguntava se os pais eram contra ou a favor do retorno. Em sete horas no ar, foram mais de 8.500 participações, com 93% dos internautas contrários ao retorno.

Na terça-feira, os prefeitos de Santo André, Paulo Serra, e de São Bernardo, Orlando Morando, ambos do PSDB, já haviam dito que não há condições para que as aulas presenciais sejam retomadas no dia 8 de setembro, mas adiaram decisão sobre não receber mais os alunos até o fim do ano.

“Estamos avaliando os números. Agora vamos fechar a terceira quinzena após a reabertura, os 45 dias, e vamos dialogar com as escolas do ensino privado. Já estamos dialogando com toda nossa rede, pais, professores, e aí validar um plano. A ideia, na rede pública, é que não haja retorno presencial. Vamos dialogar com a rede privada e ouvir quais são os protocolos, planos com relação à rede privada. Importante dizer que a Prefeitura só tem interferência e atribuição legal direta na rede municipal. Tanto a rede estadual, como o próprio nome diz, e a privada ficam sob responsabilidade de decretos e legislações estaduais”, explicou Paulo Serra.
Em São Bernardo a decisão também está em andamento. “Por conta das medidas sanitárias e de isolamento a situação não é estática, muda o tempo todo. Não podemos afrouxar os cuidados. Estamos pensando na segurança das crianças e dos profissionais da Educação”, comentou Morando.

Em São Caetano, o prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) espera conclusão de pesquisa realizada com pais, responsáveis e professores para tomar uma decisão. O prazo para coletar as respostas é hoje.

A Prefeitura de Ribeirão Pires estuda a situação e criou comitê com profissionais da educação, inclusive da rede particular, para debater assuntos. Os pais e responsáveis pelos estudantes estão sendo consultados, forma de ter a participação de toda a comunidade escolar neste processo.

Em Diadema a Prefeitura disse que o assunto é discutido junto ao Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Procurada pelo Diário, Rio Grande da Serra não respondeu até o fechamento desta edição.

Especialista vê discussão como crucial

O epidemiologista e professor do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Davi Rumel vê como crucial a discussão sobre a retomada das aulas presenciais e lembra que escolas em países como Alemanha e Canadá começaram a receber alunos só quando houve queda de casos de Covid-19.
“O Brasil aceitou o número alto de casos para reabrir e quer reabrir as escolas agora”, diz. “É preciso pensar em como será feita a reabertura dessas escolas. O quando não é problema, mas sim de que forma”, comenta.

O especialista lembra, também, de que os alunos precisam de aula, por isso, explica que deve haver conversa entre professores e pais de alunos, para que a retomada seja feita de maneira correta. “Cada caso é um caso. Depende do tipo de arquitetura de cada escola, da ventilação, de quantos alunos tem na sala de aula. O povo está esperando o número de casos baixar e não baixa. Por isso, se for realmente necessário reabrir, é preciso ter um plano sobre como fazer isso de forma segura”, diz. “Se você tem uma merendeira diabética, ou um senhor com mais de 60 anos que cuide do jardim (ambos do grupo de risco), como faz? Por isso que digo que cada caso é um caso.”

Professores fazem carreata contra retorno

Professores da rede pública estadual de São Paulo promoveram ontem carreata contra a volta às aulas presenciais, prevista para acontecer dia 8 de setembro. O ato também pedia pagamento de auxílio emergencial aos educadores.

Para evitar aglomeração, os professores permaneceram nos carros durante o trajeto, saindo apenas em alguns pontos. De acordo com os organizadores, 260 veículos partiram do Estádio do Morumbi e seguiram até o Palácio dos Bandeirantes. O ato foi organizado pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo).

Os carros tinham adesivos ou bandeiras com palavras de ordem como “em defesa da vida” e “salário e auxílio emergencial já”. A presidente da Apeoesp, deputada estadual Professora Bebel (PT), argumentou que as escolas não têm estrutura para seguir o protocolo sugerido pelo governo. Para reabertura, todas as regiões do Estado terão de estar na fase amarela há 28 dias.

“A estrutura das escolas é precária. Muitas vezes, não possuem ventilação adequada, tem escola que não tem sequer pia nos banheiros, muito menos papel higiênico. Como falar em protocolo de segurança?”, pergunta a deputada, que prometeu também cobrar do governo que envie à Assembleia Legislativa projeto para criar o auxílio emergencial. A líder da Apeoesp pede ainda “nova forma de contratação dos professores substitutos”, tendo em vista que o STF “decretou a inconstitucionalidade da forma atual de contratação”.

Questionado sobre o protesto, o governador João Doria (PSDB) disse que o diálogo com a categoria sempre existiu e que os atos da Apeoesp têm viés político. “A deputada que comanda a Apeoesp tem um viés que ela pratica sempre que possível. Posso assegurar que a posição emanada aqui não é majoritária no professorado de São Paulo. É parcial.”

Em relação aos temporários, Doria afirmou que “é uma circunstância. Não faz sentido que o dinheiro público seja utilizado para pagar quem não está trabalhando, porque uma pandemia não permite”.

Em nota, a Secretaria da Educação considerou “eleitoreira” a carreata. “A educação deve ir muito além das motivações eleitoreiras desta carreata, que é norteada por princípios políticos obscuros em meio a mortos por uma pandemia. O buzinaço gerado fere o bom-senso, diante de um hospital onde médicos e enfermeiros lutam para salvar vidas. Os mais de 180 mil docentes da categoria estão recebendo regularmente os seus salários durante a pandemia.” (do Estadão Conteúdo)




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