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Depressão avança no Grande ABC
Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
05/02/2012 | 07:00
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A depressão, transtorno caracterizado por tristeza excessiva, sentimentos de culpa e desmotivação, entre outros sintomas, já é um dos principais distúrbios atendidos em pronto-socorros psiquiátricos do Grande ABC. Em São Bernardo, o transtorno ocupa o primeiro lugar no número de atendimentos realizados pelas unidades de Saúde emergenciais, atrás de casos de psicose, transtorno bipolar e esquizofrenia.

Dos 6.246 casos atendidos no PS de psiquiatria de janeiro a novembro do ano passado, 1.354, ou 21,68%, foram de depressão. Em segundo lugar, com 12,98%, está a psicose e, em terceiro, a ansiedade (9,31%). Somadas, ansiedade e depressão representam 30,97% dos atendimentos.

Em Ribeirão Pires, a depressão sozinha não representa a maioria dos atendimentos, mas somada à ansiedade, corresponde a 67,74 dos cerca de 310 atendimentos mensais do Ambulatório de Saúde Mental.

Em São Caetano, no pronto-socorro de emergências psiquiátricas do Hospital Municipal de Emergências Albert Sabin, a maioria dos 2.953 atendidos de janeiro do ano passado até agora (40%) são casos de dependência química. A depressão está em segundo lugar, com 30%.

Em Santo André e Diadema, a doença está em terceiro lugar no número de atendimentos. Na primeira cidade, o Centro Hospitalar Municipal recebe cerca de 500 pessoas por mês na emergência psiquiátrica, sendo que 17% são dependentes químicos, 14% surtos psicóticos e 12% casos de depressão e ansiedade. Já Diadema não informou o número de pacientes, mas apontou que a maioria é dependente químico, seguido de somatizações (vários transtornos associados), depressão e ansiedade.

Para especialistas, o aumento no número de pessoas com depressão se deve, principalmente, ao fato de que informações sobre a doença, suas causas e seus sintomas são difundidas facilmente na atualidade. Por outro lado, para a psiquiatra e coordenadora de Saúde Mental de São Bernardo Suzana Robertella, isso pode gerar a banalização do diagnóstico. "Ninguém pode mais chorar que está com depressão. A família e mesmo os médicos não sabem o que fazer com pessoas que têm problemas emocionais. A mídia obriga a pessoa a ser feliz, e se ela fica triste, algo natural da vida, é porque tem alguma coisa errada com ela."

Na opinião da especialista, essa é uma das causas do aumento na venda de antidepressivos. De 2008 até o fim do ano passado, a comercialização desse tipo de medicamento registrou aumento de 43,61%, segundo levantamento da IMS Health do Brasil. "Nem sempre o remédio é o melhor tratamento. Não existe pílula da felicidade", garantiu Suzana.

 

Remédio é receitado para tudo, de cansaço a obesidade

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 10% da população mundial terá, em algum momento da vida, algum tipo de transtorno mental. Porém, antidepressivos vêm sendo receitados para diversos fins, não apenas para combater a depressão.

O psiquiatra da Faculdade de Medicina do ABC, Sérgio Baldassin, citou casos de enxaqueca, obesidade, ejaculação precoce e até para pessoas que passarão por tratamentos ou cirurgias complexas. Além disso, tem sido utilizado também para combater a dor. "Cerca de 75% das pessoas que têm depressão têm dor e quem tem dor crônica há muito tempo costuma ter depressão", explicou.

Para o especialista, casos severos da doença precisam aliar remédio e terapia. E há cura para a depressão? Baldassin afirmou que depende do tipo de tratamento e da pessoa. "Há casos em que é preciso fazer acompanhamento pelo resto da vida."

Trata-se de transtorno que exige muito dos sistemas de Saúde públicos, já que a estimativa da OMS é que já a partir de 2020, a depressão será a doença mais prevalente nos seres humanos em todo o mundo.

MULHER E CRIANÇA

As causas são desconhecidas, mas mulheres sofrem de duas a três vezes mais de depressão do que os homens. "Não se sabe se é um fator físico, hormonal ou social, mas o que se observa é que as mulheres procuram mais ajuda para a doença", garantiu o psiquiatra da FMABC.

Além disso, a psicóloga Bárbara Lopes destacou que vem crescendo de forma preocupante o número de crianças com o transtorno. "Para evitar a doença, é preciso ter apoio familiar. Como muitas vezes a família está desestruturada, a criança também sofre."

 

‘Cheguei a pesar 37 kg por causa da tristeza'

A jornalista de São Bernardo Elsa Villon, 23 anos, descobriu aos 14 que havia herdado da família do pai um tipo de depressão química. Em determinados períodos de sua vida, o organismo produz menos serotonina, neurotransmissor que promove a comunicação entre neurônios, e qualquer coisa se torna motivo para uma depressão aguda. O irmão de seu pai, inclusive, cometeu suicídio aos 40 anos por conta da doença.

O primeiro episódio vivido por Elsa foi aos 18 anos. "Na época, tranquei a faculdade por estar sem dinheiro, perdi o emprego, terminei um namoro e tive burcite no braço. A tristeza foi se instalando e não conseguia dormir nem comer."

A jovem de 1.67 metros de altura chegou a pesar 37 quilos. Mas conseguiu driblar a doença com a ajuda da família e de amigos, sem precisar de terapia ou medicamentos. Quando a depressão voltou, três anos depois, não foi tão fácil vencê-la. "Precisei procurar ajuda porque, associada à tristeza, desenvolvi síndrome do pânico por ter sido assaltada duas vezes em menos de um mês."

Mesmo assim, Elsa não quis tomar remédios. Fez terapia, ingeriu florais e, com indicação da psicóloga, duas bananas por dia e muita linhaça. "São alimentos que ajudam na produção de serotonina e, portanto, foram úteis no meu caso."

Hoje Elsa está mais atenta para enfrentar as dificuldades da vida. "Sofro, mas não me deixo abater como antes. Estou sempre atenta e, quando vejo que estou com sintomas de depressão, já mudo a dieta e começo a tomar os florais. O acompanhamento é para o resto da vida."




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