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Pará em nós

Leila Pinheiro lança disco com canções do seu Estado natal
lidas com olhar universal e condensadas de maneira humana

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
31/01/2012 | 07:17
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O Pará dos rios caudalosos, das chuvas diárias, dos sabores típicos e da fauna e flora amazônica, tudo sintetiza um ritmo de vida característico, que pulsa em acordes próprios e faz germinar uma cultura rica exclusiva. Cultura esta, que Leila Pinheiro, em seu novo disco, 'Raiz' (Atração Fonográfica, R$ 30 em média), soube condensar de maneira humana, priorizando sentimentos universais em canções que levam delicioso toque de uma das maiores regiões do País.

"É minha primeira homenagem à música da minha terra", diz a paraense, que há 30 anos largou a faculdade de medicina para se dedicar à música depois de palavras de incentivo de Elis Regina no camarim de um show em que as duas se conheceram em Belém.

"Ela me disse ‘se tiver que ser, será' em 1979. Em 1980 fiz o primeiro show e no ano seguinte mudei para o Rio. Elis Regina e César Camargo Mariano eram a minha grande referência de arranjos modernos e letras benfeitas. Não era só o que eu queria ser, o que eu gostava, tinha a questão política e social. Eles andaram muito juntos na minha formação."

Desde então o Pará ficou relegado como espaço para as memórias, saudades e alguma ou outra composição de alguém de lá, bem como para canções que falam sobre a preservação da natureza.

"A ideia surgiu em 2009, no Japão. O percussionista Marco Bosco, que tem relação muito extensa com os paraense, me disse que todo mundo sabe que eu sou de lá, mas que nunca dediquei um trabalho ou fiz uma homenagem ao Pará. Aquilo ficou na minha cabeça. Sempre vou para lá, canto no Círio de Nazaré, mas nunca o tinha trazido para um projeto especial", revela.

RAIZ
O álbum é um suave passeio pelas confluências das águas paraenses e pela carreira de Leila. As letras são quase todas de músicos locais e a sonoridade desperta atenção pelo tratamento luxuoso e pela fluidez das percussões e teclado, mistura de rebuscado e natural.

"Minha preocupação era não pegar as coisas da moda. Eternizar sem ficar presa. Ainda que seja um disco com coisas regionais, é universal. A música do Pará está em moda, principalmente o tecnobrega, mas esse estilo não tem meu foco de atenção. Muito mais que o específico e o destacado, até para não lançar algo meio cabotino, jogar muita lenha na minha fogueira, fugi do particular e parti para o atemporal."

Amor, saudade, natureza e uma pitada de regionalismo - é claro - estão na receita da bolachinha, que conta com participação especial da pajé Zeneida Lima, em voz e letra. "É uma cabocla paraense que tem trabalho social no meio da floresta. Fui até lá, em 2007, junto a Dira Paes, Fafá de Belém e Jane Duboc para conhecer o projeto. Em um pé de árvore, no meio da mata, enquanto conversava com ela, meu engenheiro amarrou nos galhos um gravador e registrou as canções dela, um material maravilhoso que decidi resgatar. É a essência da natureza neste trabalho."

São quatro as composições da pajé, todas muito simples e diretas, evidenciando as belezas naturais e a preocupação com o futuro da terra. Há ainda um rap do jovem roraimense Eliakin Rufino, e o carimbó 'Canto de Atravessar', que Leila descobriu ouvindo Calypso.

Tom Jobim aparece nos bônus, com 'Sempre Verde' e 'Domingo Azul do Mar'. "Tom Jobim é o pai desse trabalho e da nossa preocupação recente com a natureza. Começou com isso em 'Domingo Azul do Mar', e gravou 'Espelho da Água' comigo em meu primeiro disco."




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