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Escritores comentam a perda de Joao Cabral
Do Diário do Grande ABC
10/10/1999 | 15:32
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Lygia Fagundes Telles (escritora) - "Eu o amava como pessoa e como poeta. Joao foi um homem felicíssimo com as mulheres. Teve em Marly de Oliveira uma companheira extraordinária. Depois que se casaram, todos os livros que escreveu passavam por suas maos. Joao foi muito feliz no amor. Sua primeira mulher, Stella, o adorava. Tiveram filhos, foi uma companheira sempre sensível. Mas Marly é poeta. E ele morreu de maos dadas com ela. Nos últimos anos de vida, com a cegueira, com a depressao, os olhos dele, a mente dele, eram os olhos e a mente de Marly. Ela lia para ele, ela o conduzia. Tenho certeza de que morreu sereno".

Hilda Hilst (poeta e escritora) - "Joao dizia que a inspiraçao nao existe. Ao contrário dele, sou muito ligada à intuiçao. Acho que a poesia vem de repente, é como uma febre - e Joao negava isso. Por essa razao, talvez, nunca tive muito interesse em sua poesia, embora goste muito de "Morte e Vida Severina". Eu o achava muito afastado de tudo o que eu penso. É uma questao de afinidades. Mas fiquei com muito pena quando soube que ficou cego. Nada mais terrível para um poeta, para um escritor, que a cegueira, pois a literatura começa com os olhos".

Wilson Bueno (poeta e escritor) - "Sem engessar-se num vanguardismo de proveta, Joao Cabral alcançou - rara proeza - produzir uma poesia de altíssimo nível, arrancando do substrato de ordinário gorduroso da lírica tupiniquim a emoçao do rigor e das intensidades vernáculas mais ousadas. Claro e límpido, fez a melhor poesia da historia literária brasileira, sem precisar apelar para o ininteligível ou para a obscuridade, vício do que se quer original a qualquer preço".

Ivan Angelo (escritor) - "No mesmo ano, o de 1956, Joao Cabral fez, ao lado de Guimaraes Rosa, uma pequena revoluçao na linguagem. Naquele ano, enquanto Guimaraes publicava o "Grande Sertao", Cabral lançava "Duas Aguas", operando uma mudança de linguagem radical na poesia brasileira. Foram dois Jooes fazendo coisas muito preciosas no mesmo ano. Sou um leitor freqüente do Cabral. Em certa época, busquei, de minha maneira, essa concreçao na linguagem inspirando-me nele. Acho que ele nao é lido como merece. "O Cao sem Plumas" e "Uma Faca só Lâmina" sao poemas de grande poder, nao só de sentido, mas de sonoridade mas ainda assim a compreensao, em geral, escapa. As pesquisas formais que fez nos poemas sobre a Espanha também sao muito difíceis. Mas o poeta nao tem de procurar tanto a comunicaçao. Ele tem de se expressar e as pessoas é que devem se esforçar depois para chegar até eles".




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