Política Titulo Presidência da Câmara
Em Sto. André, Bispo Ronaldo é eleito com apoio da oposição

Embora governista, vereador se aliou a grupo independente e impôs revés ao Paço de Sto.André

Fabio Martins
Do Diário do Grande ABC
05/12/2014 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Nos acréscimos do segundo tempo, o vereador Bispo Ronaldo de Castro (PRB) surpreendeu e foi eleito ontem presidente da Câmara de Santo André para o biênio 2015-2016 com apoio de grupo independente na Casa. Com a adesão, embora faça parte da bancada governista, ele impôs derrota ao bloco respaldado pela administração Carlos Grana (PT). O republicano venceu a disputa interna no Legislativo com 11 votos contra 10 de Elian Santana (Pros), candidata com suporte da base de sustentação e da cúpula do Paço.

O acordo com o antigo G-12, agora sem a dupla do Pros, para eleger Ronaldo se deu minutos antes da sessão. Até então, o religioso integrava pacto com a chapa de Elian. Prova disso é que ele apareceu na composição governista e foi votado como vice-presidente. O vereador ganhou o comando da mesa diretora com o bloco composto por Edson Sardano (PTB) como vice, Almir Cicote (PSB) de primeiro secretário, Ailton Lima (SD) na segunda secretaria e Donizeti Pereira (PV) no terceiro posto, sem espaço para selecionados do governo.

O clima era de tensão na Casa no período que antecedeu os trabalhos. Porém, integrantes do grupo independente entraram no plenário cantando: “O G-12 voltou.” Eles entoavam ao bater nas costas do bispo. Governistas ficaram sem entender a reviravolta no cenário e tentaram reverter a situação, conversando com Ronaldo, só que a tratativa foi sacramentada a portas fechadas pelo bloco. Os componentes do G-12 formavam barreira, sentando em cadeiras ao redor do republicano, para impedir diálogos ao pé do ouvido.

Elian afirmou que a “mudança de posição” de Ronaldo foi “traição”. Segundo ela, o religioso havia dado garantia na noite anterior, em sua residência, e naquela manhã, no Paço, que estaria junto com a ala governista, mas pulou fora do barco de “última hora”. “Na minha casa estava tudo certo. A vaidade sobrepôs. Como homem público, a gente tem de cumprir a palavra, mesmo que haja prejuízo. Fica a decepção”, disse a vereadora, que em 2013 influenciou, à época pelo PTdoB, na vitória do G-12, com Donizeti na presidência.

Logo após a definição do novo chefe do Legislativo, a base governista se retirou do plenário, com semblante fechado, enquanto Ronaldo subiu à mesa para discursar sobre o resultado. O republicano negou que estivesse confirmado voto na chapa de Elian. “Foi iniciativa do grupo (G-12) e fiquei surpreso quando me convidaram. Não tinha fechado nada. Estava se discutindo, não se sabia nem quem era o presidente, e eu fiquei ouvindo, como sempre faço”, justificou, descartando infidelidade. “Ela (Elian) não pode dirigir isso a mim, porque todo o grupo contava com ela.”

INTERLOCUÇÃO
Articulador do Paço, o secretário de Governo, Arlindo José de Lima (PT), minimizou o episódio ao alegar que a derrota “não é o fim do mundo”. Por outro lado, não polpou críticas a Ronaldo. “Tem de consultar a consciência dele, como homem de Deus que diz que é. Ele ficou conosco (em reunião) até 1h e a manhã inteira no gabinete (na Prefeitura). Desceu para cá (Câmara) e estava tudo acertado”, frisou, citando que a postura pegou todos os parlamentares da base “de surpresa.”

Grana afirma que parlamentar foi desleal

O prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT), sustentou que o vereador governista Bispo Ronaldo de Castro (PRB) foi desleal com os parlamentares que integram a base de sustentação ao quebrar acordo de votar na chapa aliada. Questionado sobre o episódio, logo após o término da sessão que elegeu o religioso como próximo comandante da Câmara, o petista sugeriu que o republicano “cometeu pecado por ambição de ser presidente”. “Ele se compromissou poucos minutos antes da votação. Só posso avaliar que foi desleal com seus companheiros de Legislativo.”

Grana alegou que “prevaleceu interesse individual” de Ronaldo, mencionando que o posicionamento fica marcado “como mancha”. A diferença de um voto – 11 a 10 – comprometeu os planos da base de reverter situação desfavorável de 2013 – primeiro revés do Paço. Segundo o prefeito, o republicano em nenhum momento apresentou interesse em chefiar a Casa aos demais colegas de bancada. “Foi um erro, pois deveria explicitar o desejo. A eleição não fica coroada com brilhantismo por conta desta falta de transparência da parte dele.”

A composição firmada com as bênçãos do governo tinha Elian Santana (Pros) como cabeça de chapa, o próprio Ronaldo na vice-presidência, Bete Siraque (PT) de primeira secretária, Montorinho (PT) na segunda secretaria e Sargento Juliano (PMDB) no terceiro posto. Apesar da situação desconfortável, o prefeito ligou para Ronaldo momentos depois do processo interno, expressando que dará continuidade à relação cordial entre os poderes. “Vou respeitá-lo como presidente. Assim o tratarei de forma republicana.”

Apesar do desfecho negativo ao governo, a maioria dos vereadores reafirmou que a derrota é pontual e não deve interferir na governabilidade.

CARGOS
Derrotada, Elian disparou contra o companheiro de bancada ao considerar que Ronaldo não contará com ambiente para se manter na base. “Ele terá de arcar com as consequências.” O religioso admitiu que possui cargos na administração petista, mas despistou quanto à quantidade de indicados. “Tenho poucos, mas não sei o número”. Indagado sobre possível mudança na participação no Paço, o republicano descartou. Grana, por sua vez, sinalizou que o “futuro a Deus pertence”. “Se for da vontade de Deus, assim seguiremos.” (FM) 




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