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Marisa Monte faz balanço sincero da carreira

Sai em DVD documentário Marisa Monte - Infinito ao Meu Redor (Phonomotor, R$ 54,90, incluindo CD bônus)

Por Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
24/11/2008 | 07:00
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Chega em DVD o documentário Marisa Monte - Infinito Ao Meu Redor (Phonomotor, R$ 54,90, incluindo CD bônus) provavelmente o registro mais sincero realizado por um artista brasileiro do processo de criação e divulgação de seu trabalho.

Profissionalismo sempre foi uma das virtudes da intérprete e compositora. Ele norteia o filme de 68 minutos dirigido por Vicente Kubrusly, com produção de Leonardo Netto e Claudio Torres.

A obra é fruto de uma parceria entre a gravadora da artista, a Phonomotor com a empresa de cosméticos Natura e a distribuidora EMI, uma co-produção da Conspiração Filmes, Monte Criação e Samba Filmes.

A ficha técnica é especialmente importante aqui. Marisa deixa claro desde os primeiros segundos que o que se verá é mais que um registro de uma turnê nacional e internacional de dois discos, Infinito Particular e Universo ao meu Redor. São dois anos de estrada expostos para discutir os meios de produção da indústria fonográfica. Isso em um momento de crise e mudança radical, quando o download gratuito se impôs como o novo modo de propagação de arte.

"Quando parei para pensar como seria o DVD desses novos discos, tive a vontade de fazê-lo sob a forma de um documentário sobre a atividade profissional de um músico. Algo como seguir um ano de trabalho de um cirurgião ou um motorista de caminhão. Queria mostrar como é o trabalho por trás da música", narra Marisa.

Sem estrelismos - ela literalmente lava a roupa suja após cada apresentação - apresenta as peças da gigante engrenagem. Da composição das canções ao momento de exibi-las pela primeira vez ao público.

Nervosismo, insegurança, alegrias e compensações são acompanhados pela "mosca invisível", a câmara nas palavras do co-roteirista Cláudio Torres.

Dois shows que se completam - um que transpira testosterona no Complexo do Alemão e outro feminilíssimo somente para consultoras da Natura - encerram a via sacra do time de dez músicos. "Dez pessoas que durante dois anos vão conviver mais entre si do que com suas próprias famílias. É como escolher a tripulação das antigas caravelas ou futuras missões espaciais", define a carioca.

Quando a turnê chega ao Rio ela relaxa pela primeira vez. Cantar em casa é um prazer dobrado para a portelense. Antes, explicita o estresse de passar pelo crivo da crítica e público paulistanos. Severos demais, segundo as impressões de Marisa.

Um momento em especial simboliza o perfeccionismo que a consome. Durante uma das apresentações ela tem um ‘branco' e esquece os primeiros versos de um samba da gaúcha Adriana Calcanhotto (outra perfeccionista incurável). A câmera alterna entre Marisa e Adriana na platéia. Suspense, tensão e o erro da letra.

O comentário de Marisa sobre a situação é bonito. Ela diz que o erro ao vivo intensifica a cumplicidade platéia-artista. Torna aquele momento único e, assim, valioso.

Mas é o acerto que ela persegue incansavelmente. Visivelmente absorvida pelo trabalho, magérrima, tecnicamente impecável e em um dos melhores momentos da carreira, Marisa leva sua arte a 750 mil pessoas durante dois anos.

A equipe percorreu 18 cidades no Brasil e cruzou cinco continentes, somando 24 cidades de 17 países, em casas sempre lotadas, informa a produção.

A diva realizou desejos pessoais nessa turnê. Em um cenário que remete a um estúdio de gravação, escolheu ficar cercada pela banda, como nos ensaios. Canta uma música no escuro. Foi ao Japão, Austrália, Europa e Estados Unidos (ela explica que financeiramente não compensa, mas a troca de culturas lhe interessa). Além de uma discreta e reservada menção à maternidade recente.

Aparentemente, ficou à vontade para abordar assuntos nada glamurosos, como um rombo na distribuidora EMI, a queda na vendagem de seus discos e o empurrão de Nelson Motta no início da carreira.

Uma coerente e emocionante revisão da trajetória iniciada aos 19 anos. Hoje, aos 40, ela escuta fãs com 30 dizendo que lhe acompanham desde os anos 1980. "Chego à conclusão que sou um jovem veterana", brinca.




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