Política Titulo Entrevista com Paulo Skaf
‘Meu plano é de Estado, não só de governo’
Por Raphael Rocha
23/09/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 Candidato do MDB ao governo do Estado, o presidente licenciado da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, afirma que muitas de suas propostas ultrapassarão o tempo de seu mandato, porque seu plano é adotar outro rumo definitivo ao Palácio dos Bandeirantes. “São políticas de Estado, não de governo.”

Em visita ao Diário, Skaf detalha que, dentre as ações que vão além de quatro anos de gestão estão a implementação do padrão Sesi (Serviço Social da Indústria) na rede estadual de ensino e o investimento em Mobilidade Urbana, em especial no transporte sobre trilhos.

“Não vamos conseguir mudar 100% em um ano, dois ou três (na Educação). São nove anos de Ensino Fundamental, então é capaz que leve os nove anos (para implementação completa). Em um mandato, você reestrutura tudo, disciplina, comandando e programando, em quatro anos. Depois, qualquer que seja o governador não terá como estragar. Estará no trilho, na direção correta”, aponta.

Skaf também respondeu sobre sugestões extraídas de painel realizado pelo Diário e pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano), no qual problemas e propostas foram debatidos, no fim de agosto. Sobre a Saúde, por exemplo, a estadualização do Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, em Mauá, foi considerada pelo candidato, que pediu, porém, tempo e acesso a documentos para bater o martelo. “Vamos estudar e vamos buscar uma solução. Não ficará sem solução.”

Protagonista nas últimas pesquisas de intenções de voto, Skaf lamentou os ataques proferidos pelos adversários e garantiu que, se atingir o segundo turno, vai dialogar com siglas para engrossar sua campanha. “Mas deixarei claro que não haverá troca por cargos.”  

 

Algumas pesquisas colocam o sr. à frente numericamente na corrida ao Estado e seus adversários têm reagido, subindo tom de críticas. Como sua campanha tem lidado com essa estratégia?

Lamentavelmente, desde o momento no qual as pesquisas mostraram liderança minha no primeiro e segundo turnos, o nível baixou. É lamentável. Na minha visão, candidato a governador tem de ter postura de governador. Não se pode confiar numa pessoa que, como candidato, perde a postura, não tem linha, entra no lamaçal, naquelas baixarias de véspera de eleição. Depois de poucos dias, se foi eleito, será o quê? Mostrou não ter caráter como candidato, será que vai ser um governador de caráter? Não. Por essa razão, nossa campanha, desde o início até o presente momento, é propositiva, programática, apresenta solução. Não se preocupa em criticar ninguém. Lamentavelmente, o candidato, percebendo que enganou uma vez o povo de São Paulo e que não vai conseguir enganar de novo, entra no desespero e começa a apelação.

 

O sr. tem pregado no primeiro turno que, ao refutar coligações, conseguirá montar um governo, caso eleito, com os melhores quadros técnicos. Mas, no segundo turno, precisará dialogar com partidos que não avançaram a esta etapa para buscar a vitória. Como resolver essa dualidade?

Realmente não aceitei qualquer coligação porque coligação no primeiro turno significa trocas. Imagine, tem adversário meu com 14 partidos. O candidato do PSDB, o (João) Doria, tem seis, sete partidos. Se você ganha a eleição, você vira governador sem governar nada. Os partidos indicam toda a equipe, em todas as áreas e, normalmente, colocam pessoas despreparadas e muitas vezes sem idoneidade. No meu caso, estou livre para escolher o melhor governo que São Paulo já viu, com pessoas sérias e competentes. Quanto ao segundo turno é bem diferente. Quando se entra nesta etapa, o tempo é curto. O diálogo no meio político eu tenho e é muito bom. Só que todo mundo sabe que, comigo, não tem troca-troca. Não ofereço cargos em troca de favores. Partidos que vierem comigo é porque vão querer optar por um candidato no segundo turno e estarão comigo pelas minhas propostas, minhas ideias.

 

No fim de agosto, o Diário e a USCS (Universidade Municipal de São Caetano) promoveram painel com problemas e possíveis soluções à região. Na área da Saúde, o tema sugerido foi a estadualização do Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, em Mauá. É possível adotar essa medida?

A cidade de Mauá passa por situação ruim, de grande endividamento. Falar que é problema do município está errado. Os problemas de São Paulo são do governador de São Paulo. Se é incumbência do município, e quando há situação como essa, o governador não pode dar as costas. O atendimento vai cair, a qualidade vai para o chão e quem paga são as pessoas. Como governador, vou arrumar a Saúde. Aqui na região, como em outras regiões, é necessário que, desde o primeiro atendimento, tudo seja coordenado como orquestra e o maestro é o governo de São Paulo, o governador precisa afinar essa orquestra. Como governador, vou estudar com muito carinho essa situação de Mauá e do Hospital Nardini, até porque o equipamento tem obrigação de receber todo mundo. Não pode falar que só vai receber paciente de Mauá. Acaba sendo hospital regional e o Estado precisa dar solução. Pode ser a estadualização, seria solução. Mas há outras, como aportar valor maior (o Estado hoje auxilia com R$ 1 milhão ao mês), encontrar gestão compartilhada. Vamos estudar e vamos buscar uma solução. Não ficará sem solução.

 

O sr. tem falado que vai tirar a Linha 18-Bronze do papel. Como será feito?

Tirar do papel é mandar executar. Isso precisa ser feito. Aliás, obras até iniciadas não terminam nunca. Exemplo do Rodoanel, que há 20 anos as obras começaram. Muitos anos antes foi idealizado, teve projeto. São coisas que começam, levam 30 anos e não estão prontas ainda.

 

Mas como viabilizar? O Estado diz que não há recursos para início das desapropriações, a despeito de a PPP (Parceria Público-Privada) ter sido assinada há quatro anos.

Essa é linha de 15 quilômetros. Monotrilho tem custo de US$ 50 milhões (o quilômetro) no mundo, só no Brasil custa US$ 100 milhões. No meu governo vai custar o preço mundial. São US$ 50 milhões, a 15 quilômetros, você tem aproximadamente US$ 750 milhões. Há vários modelos para fazer isso. Há PPP, concessão. A PPP do Metrô de São Paulo só foi de operação até hoje, mas é possível passar tudo, fazer um pacote PPP. Também tem a possibilidade de financiamento, de um bom projeto, o Estado tem capacidade de tomar financiamentos para projetos. O terceiro caminho seria utilizar recurso do próprio orçamento. Tudo isso precisa ser detalhado quando se tem o governo na mão, hoje nem informações detalhadas temos à disposição. Como o contrato ainda está no papel e pode estar certo ou com problemas, você pode dar andamento durante o mandato e terminar o assunto, caso esteja tudo certo. Se não tiver nessas condições, pelo menos a aprovação, o encaminhamento, fazer de tal forma para que tudo fique programado e iniciemos a obra, mesmo que não a conclua. Preciso ver o estágio. Se estiver no ponto de início, vamos tocar, vamos iniciar no mandato. São projetos de Estado, não de governo.

 

Outro gargalo é com relação às linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Há solução para melhoria do sistema?

CPTM precisa de recurso. O grande problema lá é que foram adquiridos novos vagões, mas o sistema elétrico e eletrônico não foi renovado, por isso dá pane toda hora. Por isso há 200 panes na CPTM. Param os trens e há aquela multidão de gente sendo desrespeitada, depois de passar por dia duro de trabalho ou precisando ir ao trabalho. Serão necessários investimentos de R$ 2,5 bilhões, mudando sistema elétrico e eletrônico para não ter mais pane e, ao mesmo tempo, diminuir o intervalo entre os trens, com atendimento numeroso de pessoas. Daremos conforto, segurança e atenderemos mais gente.

 

Na Educação, a bandeira defendida é levar o modelo Sesi à rede estadual. Em quanto tempo será possível fazer essa transição?

O que fiz no Sesi farei no Estado, de forma gradual. Você tem nove anos de Fundamental, do 1º ao 9º anos, e três anos de Ensino Médio. Logicamente que, no primeiro ano de governo, que começa em 2019, se você quiser fazer revolução, vira uma bela confusão sem mudar nada. Precisamos rearrumar as coisas no primeiro ano, para valer, e, a partir do ano seguinte, quem entrar no primeiro ano do Ensino Fundamental começa uma nova história da Educação de São Paulo. De primeiro mundo, em que professor será respeitado. Não terão 23 escolas assaltadas por dia. Não terá crack na escola. As crianças que frequentarem vão aprender. Aí vamos ano a ano. Vamos dar choque de mudança para melhor. Também é projeto de Estado. Não vamos conseguir mudar 100% em um ano, dois ou três. São nove anos de Ensino Fundamental, então é capaz que leve os nove anos (para implementação completa). Em um mandato, você reestrutura tudo, disciplina, comandando e programando, em quatro anos. Depois, qualquer que seja o governador não terá como estragar. Estará no trilho, na direção correta.

 

A Sabesp cobra dívidas bilionárias de duas autarquias da região, do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá). Ao mesmo tempo, esses municípios encontram dificuldades financeiras. Com equacionar?

Precisa acertar. A Sabesp pode de estadualizar as companhias de água. Se a companhia municipal necessita comprar água bruta da Sabesp e não tem como pagar, precisa acertar. Se a dívida está errada, é preciso acertar a conta. Se as companhias municipais reconhecem a dívida, mas não reconhecem o valor, alguém tem de ter razão. Precisa de uma conta certa e viabilizar o pagamento. Se passou a ser inviável para as companhias continuarem a ser municipais, se elas não têm fôlego para isso, outra alternativa é entregar à Sabesp. Aí parte para o acerto. Sei que a dívida é monstruosa, mas não conheço os detalhes. É necessário sentar e fazer uma negociação séria. Não pode não solucionar. Enquanto fica impasse, sempre quem paga é o usuário de tudo.

 

É possível terminar essa divisão entre as polícias Civil e Militar no Estado?

 A Segurança Pública em São Paulo é péssima. Há roubos, furtos, assaltos, mulheres violentadas, esfaqueadas, baleadas, crack, tráfico de drogas, de armas, crime organizado mandando nos presídios. Como pode pensar que polícia não se entende? Falta liderança no Estado. Autoridade, pela concepção federal, emana do povo e deve exercida dele. Autoridade vem pelo voto. Governador eleito tem de ter autoridade e exercê-la, com liderança. Policiais são funcionários públicos, como governador, a serviço da população. Não vou aceitar qualquer diferença entre polícias que possam atrapalhar a Segurança do Estado.  




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