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Sepultadores explicam profissão

Trabalhadores dizem que não pretendem deixar o ofício e que o salário é suficiente

Por Pedro Souza
10/11/2013 | 07:07
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Dois mil reais. Essa é a renda média de um sepultador no Grande ABC. E apesar de ser um ofício que gera repulsa para muitos, é muito bem visto por quem atua nele.

“Eu tenho casa própria, minha esposa é dona de casa e tenho dois filhinhos, um de 4 anos e outro de 12. Acho digno meu trabalho e, como todos, gostaria de ganhar mais. Mas não reclamo do meu salário, é possível sobreviver”, diz o sepultador José Ailson Veríssimo dos Santos, 35 anos, morador de Mauá.

Ele está na profissão há 15 anos. Revela que, no começo, passou por algumas dificuldades relacionadas ao sono. Mas percebeu que não passava de superstição.

“No primeiro dia eu não consegui dormir. E nem trabalhei com enterro. No segundo dia não teve jeito, tive que fazer um. E não dormir naquela noite também”, conta, sorridente, o trabalhador.

No fim das contas, Santos entendeu o serviço e acostumou com as condições e não pretende sair tão cedo. “Medo eu tenho que ter dos vivos, e não dos mortos.”

Antes, a profissão era conhecida como coveiro. Mas o simples fato de esses trabalhadores não atuarem apenas abrindo covas, colocando a urna dentro e cobrindo de terra, a denominação foi alterada.

Quem trabalha de sepultador também deve ter proficiências de pedreiro, pois tem que rebocar as gavetas das lápides. Também deve aprender as técnicas da exumação, que é retirar os ossos dos caixões para colocar nos ossários, e também, geralmente, atuar com manutenção e conservação das lápides e as suas áreas.

Também são conhecidos como construtores. Este é o caso do Mário Sérgio Antoniol, 61, que reside em Mauá. Atualmente, como microempreendedor e prestador de serviço para a Prefeitura de Santo André, ele atua na abertura e concretagem dos jazigos, colocação da urna, sem contar os “servicinhos de manutenção e reforma”, no Cemitério da Saudade, conhecido como da Vila Assunção. Também faz exumações. E recebe R$ 187 por cada serviço de enterro e retirada dos ossos do caixão.

Sorrindo após questionado, Antoniol avalia a sua profissão. “Estou há aproximadamente 40 anos trabalhando aqui. Construí a minha vida. Tenho casa própria. Paguei os meus carros. Não tenho o que reclamar. Já era para ter me aposentado. Mas isso aqui é minha vida.”

Ele garante que o trabalho é tão prazeroso e gera renda suficiente para viver bem. Tanto que convidou seu filho para atuar ao seu lado. Há 12 anos ambos estão juntos nos serviços dentro do cemitério.

MEDO - Para Antoniol, o medo não é um companheiro do trabalho. “Assombração é a gente que cria”, afirma. Garante nunca ter visto algo que lhe despertasse dúvida sobre o real e a imaginação. Mas diz que quando iniciou o trabalho, na década de 1970, se divertia pregando peças em casais que namoravam no muro do cemitério.

Além disso, lembra de fatos inusitados. “Já tirei muita velhinha, de 70, 80 anos, de escada, pelo muro, porque elas perdiam o horário de fechamento do cemitério, fazendo suas homenagens nos túmulos, e se desesperavam por perceber que tinha anoitecido e estavam trancadas.”
  Receita de cemitério cresce 30% ao ano

 

Como qualquer empresa, os cemitérios privados localizados no Grande ABC têm o objetivo de lucrar. E o caminho comum para isso é buscar, cada vez mais, atrair clientes e expandir o faturamento. Este é o caso do Cemitério Parque Vale dos Pinheirais, em Mauá, que tem crescido em receita, por ano, 30%, garante a administradora Ivani Ferraz.

 

Há 17 anos no mercado, o cemitério tem conceito de parque, com jazigos em imensos jardins de gramado. Mas conta com uma série de outros serviços para atender os seus cerca de 10 mil clientes. Quem compra um túmulo perpétuo no local, e paga a semestralidade, que vai de R$ 200 a R$ 600, além de não se preocupar com a conservação, tem acesso a aulas de ginástica, cursos profissionalizantes e de artesanato e palestras motivacionais.

 

Com base na estratégia de captação de clientes, o local conta também com uma pista para corrida de dois quilômetros de extensão e uma ciclovia, de 800 metros. “Neste caso é aberto ao público, 24 horas, e disponibilizamos as bicicletas”, garante Ivani. O cemitério também conta com playground, capela, espaço cultural locável, lanchonete e sistema de monitoramento de segurança. “Nós queremos que as pessoas se sintam bem aqui dentro. Assim conquistamos mais clientes.”

 

O local é o primeiro cemitério-parque da América Latina a ter uma estação de tratamento do necrochorume, que são os fluídos que os corpos enterrados expelem e se juntam com a água das chuvas. “Economizamos até 20% de conta de água em períodos chuvosos. Mas o objetivo principal é dar o tratamento correto ao necrochorume”, diz Ivani.

 

Já o Memorial Phoenix do ABC, em Santo André, primeiro cemitério vertical da região e fundado em 1998, tem tido um crescimento médio anual de 10% no faturamento, revela o sócio-proprietário Vicente Palmieri Filho. O local é projetado para ter quatro blocos com até oito andares cada. Atualmente, possui um bloco com quatro andares. Mas Palmieri Filho planeja construir o segundo bloco. “É um modo de atrair mais clientes. O visual de fora vai gerar atração. Não tenho previsão de quando. Mas já estamos trabalhando para isso.” Há cerca de 5.000 jazigos comprados, 3.000 utilizados, e capacidade aproximada de 40 mil após tudo construído.

 

O empreendimento conta com um sistema de filtragem dos gases emitidos pelos corpos dentro dos túmulos. Um cano joga oxigênio, para ajudar a decomposição, e outro suga os gases, que são tratados e liberados de forma que não agridam a atmosfera.




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