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Pais e professores se unem para reerguer natação de Sto.André

Tirando do próprio bolso, eles financiam aulas de alto nível para crianças no Pedro Dell’Antonia

Por Marcelo Argachoy
Especial para o Diário
17/07/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


A união entre pais e ex-atletas da natação de Santo André busca fazer da cidade, uma vez considerada a quarta força nacional, novamente uma potência na modalidade. Desta maneira, moradores do município decidiram tirar do próprio bolso para trazer um treinador de destaque internacional a fim de ensinar cerca de 160 jovens entre 7 e 17 anos no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia.

Com 21 anos de experiência como professor de pós-graduação, Cezar Bolzan trouxe para Santo André a bagagem de treinador da seleção paraguaia na Olimpíada de Londres (2012) e de gerente técnico da natação nos Jogos Olímpicos Rio-2016, além da participação em seis mundiais da modalidade.

“A iniciativa dos pais é sensacional, colocar tudo nas mãos de um treinador estranho a eles é uma atitude bastante nobre e muito elevada. Normalmente isso não ocorre”, declarou Bolzan.

Em 12 dias, ele trabalhou em todos o períodos com sua clínica de natação. Na parte da manhã e da tarde, foram ministradas aulas teóricas e práticas com até três horas de duração.

Além dos alunos, pais, professores e treinadores que frequentam o Pedro Dell’Antonia foram contemplados pela clínica. Na parte da noite, eles receberam palestras de diversos assuntos, entre técnicas de ensino sobre o relacionamento com os filhos-atletas.

Quem costuma dar palestras para os jovens nadadores é Roberto Piovesan, medalha de prata no revezamento 4x100 nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, em 1995. O atleta aposentado deu suas primeiras braçadas nas piscinas do Pedro Dell’Antonia e passou experiência aos jovens da cidade.

“Me lembro de quando comecei no esporte. Passei por dificuldades, nem tinha sunga para treinar, e hoje vejo essas crianças na mesma situação que estive no começo. É muito gratificante falar com elas”, contou Piovesan.

“A estrutura que temos hoje é muito melhor do que a que tínhamos na minha época de nadador, mas ainda falta que a administração municipal olhe para a natação com um pouco mais de carinho. Hoje em dia, não temos nem uma pranchinha, que é uma coisa muito barata”, afirmou Piovesan.

“Com trabalho sério, não tenho nenhuma dúvida que, em dois ou três anos, Santo André voltará a ser potência na modalidade. Dá para pensar muito grande com essa molecada, são muito talentosos”, concluiu o ex-nadador.

O treinador Cezar Bolzan elogiou o potencial dos atletas da cidade e o empenho de seus pais. “Eles estão amplamente interessados nesse avanço de resultados e busca de conhecimentos. É bastante promissor. As pessoas estão dando seu tempo em benefício da cidade”, disse ele, classificando o impacto dos treinamentos nos atletas como “surpreendente positivamente”.

Embora nem todos possam pagar pelos ensinamentos de Bolzan, isso não é obstáculo para o aprendizado em Santo André. Mesmo quem não tem condição financeira pôde participar da clínica de natação. “Aqui você vê gente de todas as classes sociais, sem discriminação”, declarou André Hanna, 39, um dos pais que apoiam o projeto.

Foi por meio de Hanna que Bolzan conheceu o trabalho em Santo André. Ele patrocinou a ida de sua filha Samira e da professora Juliana de Almeida para a clínica de Bolzan, em Florianópolis.

“Em outros lugares que já viajei para dar aulas, geralmente meu trabalho acaba por aí. Aqui foi diferente, encontrei muito profissional para ser explorado. É quase uma vila olímpica”, afirmou Bolzan, que está em conversas com o grupo de pais para voltar mais vezes a Santo André.

Supervisora quer que alunos voltem a ter orgulho de representar a cidade

Para quem começou na natação nas piscinas do Pedro Dell’Antonia, levar o nome da cidade novamente para o topo na modalidade é o grande objetivo. E um dos principais nomes neste projeto é o da professora e supervisora Juliana de Almeida.

Juliana representou a cidade de Santo André nas piscinas por 11 anos (entre 1987 e 1998), chegando a disputar finais estaduais e até nacionais. “Tudo o que eu sou hoje devo à natação”, explicou Juliana.

A ligação dela com as piscinas do Pedro Dell’Antonia emociona a supervisora. “É uma grande paixão da minha vida. Essa piscina, as pessoas aqui. Dá muito orgulho de fazer parte disso”, contou. 

Agora, Juliana quer compartilhar seu elo emocional com Santo André com seus alunos. “Temos muito potencial nessa cidade, até mais do que na época áurea, quando eu e o Piovesan éramos atletas.”

O esforço e a dedicação dos professores estão dando resultado. “Disputamos a Copa São Paulo sem muitas pretensões, mas o clima entre as crianças, os pais, e nós, professores, estava tão bom que realmente ficamos bastante motivados e voltamos para cá com mais de 80 medalhas e nadadores com excelentes marcas estaduais”, contou. “Com esses números, poderíamos ser campeões paulistas”, disse.




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