Política Titulo
‘Não somos trouxas’
Por Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
05/08/2006 | 08:16
Compartilhar notícia


O governo federal pode antecipar metade do 13º de aposentados e pensionistas em setembro – 30 dias antes do primeiro turno da eleição à Presidência da República. A medida é vista como “golpe eleitoral” pelo presidente licenciado da Cobap (Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas), Benedito Marcílio, de 68 anos.

Para ele, o Planalto tenta compensar politicamente o desgaste pelo veto ao reajuste de 16,5% proposto pela oposição. Mas chama atenção para os efeitos colaterais: “Muitos aposentados desavisados, quando receberem 50% vão dizer: opa, o governo deu aumento para nós”.

Segundo Marcílio, a Cobap não vai barrar a antecipação do 13º, mas alertará os aposentados. “Vamos receber, mas que não sirva de tapa-boca. Querem tirar dividendos políticos. Pensam que todo mundo é bobo ou vai passar por trouxa.”

A defesa de aposentados é o novo front de Marcílio. O mecânico de manutenção de Santo André, que em 1979 tornou-se deputado federal pelo MDB, iniciou a vida política em 1967 como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Ficou no cargo até 1980 – ano em que foi cassado pela ditadura militar, o que lhe rendeu a aposentadoria.

Junto com o então companheiro Luiz Inácio da Silva, que só mais tarde incorporaria o apelido Lula ao nome, participou do grupo que fundou o PT em 1980. Deixou o partido em 1982 após divergências com Celso Daniel (ex-prefeito de Santo André, assassinado em 2202). Agora no PHS (Partido Humanista da Solidariedade), Marcílio tenta nova vaga na Câmara.

Marcílio foi recebido três vezes no Palácio do Planalto desde 2003. Em uma delas, lembra, Lula o chamou de primeiro-presidente operário da história do País. “Estivemos juntos na Fundação do PT, nas Diretas já, e na derrubada de Collor de Mello. Nas eleições de 1982, fizemos oito ou dez comícios juntos. Estive sempre na casa do Lula e ele  na minha. Nós tivemos uma participação efetiva na história desse País, indiscutível.”

A amizade é corroída pelas circunstâncias políticas. O sindicalista diz que um próximo governo Lula será “uma tragédia” e bate insistentemente na tecla de que tentou seis vezes, mas nunca foi recebido na condição de liderança dos aposentados. Marcílio discorda da avaliação de que o governo precisa conter o déficit da Previdência, tese que para ele não passa de “balela”.

Na esteira de ameaças que vê contra os aposentados, ganham destaque as iminentes reduções de benefícios da Seguridade Social e até mesmo a tentativa de privatização da Previdência. “Fui amigo do Lula e não sou mais porque hoje ele é presidente da República. Vejo coisas piores acontecendo. Muitas vezes, a pessoa não faz porque se depara com dificuldades, mas não é o caso.”



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;