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Covid-19 faz de 2020 o ano mais letal da história do Grande ABC

Número de óbitos registrados na região é 55% mais alto do que em 2003; pandemia de Covid-19 pressionou os dados

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
07/02/2021 | 07:00
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DGABC


O ano de 2020 foi o mais letal no Grande ABC desde que a Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais de São Paulo) passou a tabular dados anuais de mortes das cidades, em 2003. Foram registrados 20.280 atestados de óbitos no ano passado contra 16.227 de 2019, variação de 24,9%. Se comparado com o primeiro registro da série histórica, há 17 anos, a diferença é de 54,9%, com 13.091 perdas. O levantamento concentra as mortes decorrentes de todas as causas – veja os números por cidade na arte abaixo.

A pandemia da Covid-19 é a principal razão para o aumento no número de mortes em 2020. Oficialmente, até 31 de dezembro, as sete cidades do Grande ABC haviam registrado 3.480 óbitos em razão da doença, enquanto a diferença apontada pela Arpen de 2019 para 2020 foi de 4.053 baixas.

Ainda de acordo com o levantamento, os óbitos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) registraram alta de 906,3% na comparação entre 2019 e 2020. Foram 161 casos no ano passado, contra 16 no ano anterior. Na avaliação da cardiologista, intensivista em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e coordenadora da clínica médica do Hospitalis Barueri, Nicolle Queiróz, esse aumento expressivo pode indicar que muitas pessoas morreram em decorrência da Covid, mesmo sem ter o diagnóstico.

O número de mortes na residência também registrou alta considerável no período, de 18%. Nicolle avalia que o aumento das mortes domiciliares está relacionado ao medo das pessoas em buscar atendimento médico, pelo risco de contaminação por Covid-19.

“A orientação que a ciência dava no início, de procurar ajuda com sintomas respiratórios graves, foi se alterando ao longo da pandemia. Hoje, sabemos que em pacientes com comorbidade, com sobrepeso ou com alguma condição mais delicada de saúde, o ideal é que o médico seja procurado no início dos sintomas”, disse a médica.

Nicolle lembrou sobre a necessidade de se manter as medidas de distanciamento e higiene para evitar a propagação da doença. “Para quem tem suspeita, apresentou os sintomas e obteve resultado de exame negativo, o ideal é que se mantenha isolado por 14 dias, porque pode haver falso negativo e essa medida também evita novas contaminações.”

NO ESTADO

Segundo os dados da Arpen-SP, em todo o Estado de São Paulo os óbitos em domicílio cresceram 15,3% entre 2019 e 2020, com acréscimo de 1.600% nas mortes por SRAG, 11,6% por septicemia e 47,9% por causas indeterminadas. De acordo com os atestados de óbitos, 1.492 paulistas morreram de Covid-19 em suas casas.

Os óbitos por causas cardíacas fora de hospitais tiveram alta de 22,4% em 2020. As causas cardiovasculares inespecíficas e o AVC (Acidente Vascular Cerebral) aparecem em seguida, com avanço de 118% e 18,6%, respectivamente.

Uma quadra do cemitério reservada para Covid

Com o aumento no número de mortes em decorrência da pandemia de Covid-19, a administração do Cemitério Nossa Senhora do Carmo (Curucá), em Santo André, reservou uma quadra inteira para o sepultamento das pessoas que morreram em decorrência da doença. Coordenador dos coveiros, Marcelo Barbieri dos Santos, 56 anos, explicou que a medida agilizou o fluxo de trabalho no cemitério.

Para evitar aumento expressivo no número dos sepultamentos – que se mantiveram em cerca de 15 ao dia, segundo Barbieri –, desde o início da pandemia foram suspensos os enterros de moradores de São Paulo. “O começo foi bastante difícil. Tanto para as famílias entenderem que houve mudanças nos velórios, com menos pessoas e mais rápidos, tanto para a gente, pelo temor da doença”, explicou Barbieri, que trabalha com sepultamentos desde os 14 anos.

Coveiro no equipamento há um ano, José Valdemar Abreu, 53, afirmou que a parte mais difícil do trabalho é lidar com o sofrimento das famílias que perderam seus entes queridos. “Apesar disso, é uma atividade que gosto de fazer”, afirmou. Todos os funcionários dos cemitérios de Santo André já foram vacinados contra a Covid-19. “Isso já dá um alívio, a gente fica mais tranquilo”, pontuou Abreu.

VAGAS

Em 24 de janeiro o Diário mostrou que o cemitério municipal de Diadema contava com apenas 20 vagas para sepultamento. À época, Santo André, São Bernardo, São Caetano e Ribeirão Pires tinham 3.217 jazigos vagos. Mauá e Rio Grande da Serra não responderam.

Na sexta-feira, a Prefeitura de Diadema informou que já havia 91 gavetas vazias ou abertas e outras 500 cujos restos mortais poderão ser exumados a qualquer momento, caso haja necessidade. Apesar da situação recente de poucas vagas, a administração alegou que na pandemia atendeu com precisão a demanda de sepultamentos, “não tendo nenhuma sobrecarga no nosso sistema cemiterial.”

Santo André e São Bernardo informaram que, no momento, não há necessidade de ampliação do serviço, tendo em vista que os municípios possuem vagas para atender à demanda. As outras cidades não responderam até o fechamento desta edição.




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