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Todo dia é de Carnaval
Rodolfo de Souza
07/03/2019 | 07:00
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 Duvido que haja, neste mundo, povo mais irreverente e propenso ao deboche do que este que habita, feliz, esta vasta planície Tupinambá.

Note, amigo, que não é de hoje que essa gente sofre as agruras de uma vida de privações, em uma sociedade injusta e violenta, carregando sempre o estandarte do sorriso no rosto. Embora passe a vida mergulhada numa névoa de contratempos cotidianos, encontra sempre um motivo para fazer troça de algo ou celebrar qualquer coisa. 

Denúncias de escândalos, envolvendo grandes figurões da política nacional constituem, por exemplo, farto material que provê de criatividade o senso de humor e a presença de espírito do brasileiro. E ele não perde tempo: corre fazer chacota nas redes sociais de coisa tão comum nessa intrincada teia de corrupção construída ao longo de décadas nos meios governamentais desta pobre Pátria de meu Deus. 

De fato, inspiração não falta nesse quesito perverso que tenta arrastar para o fundo do poço a persistente esperança da gente morena deste País que seguramente teria uma das maiores economias do mundo caso não fosse espoliada por gerações de figuras sinistras, verdadeiras sombras que rastejam no palco do poder em busca do ganho fácil que leva à bancarrota o progresso desta nação. 

Mas, porque vive de Carnaval é que o povo sobrevive forte, e ainda sorri. Daí a necessidade de não se largar a Folia de Momo por nada, ano inteiro. 

Dia destes, aliás, internautas se lambuzaram com a atitude do ator que, como é moda em tempos modernos, tomou para si a responsabilidade de tocar o destino deste imenso navio que segue à deriva no mar do desespero. Até de faixa apareceu o autoproclamado dirigente da Nação, brincadeira de alguém que considerou propício o momento para pegar no timão da nau desgovernada, com finalidade de, quem sabe, traçar-lhe rota que pelo menos conduza à consciência aqueles que ainda ostentam, orgulhosos, a máscara da estupidez. 

Destaque para a gravidade da situação em que se encontra este barco sem rumo, no qual se inspira o humorista para cultivar a gargalhada, salutar exercício que deixa leve a alma, e um bocadinho mais forte também. Resistente como deve ser. Afinal, de nada adianta mesmo chorar, não é?

Mas o leitor atento, neste momento em que conversamos olho no olho, certamente indagará acerca do indivíduo que também teve seu registro de nascimento sacramentado aqui neste rico solo, e que passa o tempo a cuspir no prato em que come. 

Destoa, inclusive, do perfil traçado nas primeiras linhas deste texto, personalidade que em nada lembra um brasileiro. Mas ele é! – dirá, veemente, o amigo. Então devo voltar à velha prancheta de trabalho e reconsiderar tudo o que foi dito de coração a respeito desse povo alegre? Não. Logicamente que não, tendo em vista que não há povo livre da influência nefasta de pessoas destituídas de bom-senso, mesmo pertencendo à mesma escola, na mesma avenida, vizinho de rua, às vezes. Mesmo assim, exaltemos a alegria com muito axé, marchinhas, baião, muito samba no pé e cantos que cultuem a liberdade. 

Tudo pelo divertimento e pelo direito à livre expressão, à cultura, ao crescimento dessa gente feliz que não pretende, de forma alguma, abrir mão dessa felicidade. Jamais!




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