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Morte de bebê tem versões conflitantes
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
29/10/2010 | 08:24
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Em depoimento à polícia, Daiane Bueno e Maria de Fátima Ninhares, funcionárias da Escola Solarzinho Berçário e Mini Maternal, onde morreu Bianca Xavier de Andrade, 4 meses, afirmaram que o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) levou cerca de 40 minutos para chegar ao local, a partir do chamado feito às 16h45 de terça. Já o Samu informou ontem, em nota, que levou sete minutos para estar na escola.

O serviço afirma ter sido acionado por telefone, às 17h02, por uma pessoa identificada como Daiane, para atender o bebê que estava "passando mal, inconsciente, sem respirar" na Avenida Taboão, 2.410, endereço da creche.

Ao chegar no local, às 17h09, a equipe constatou que a vítima encontrava-se em parada cardiorrespiratória e que havia leite em suas "vias aéreas". A menina morreu naquela tarde e foi enterrada ontem, em Diadema, onde morava com a mãe e a avó.

Ainda segundo a nota enviada pela Prefeitura, que é responsável pelo Samu no município, foi tentada reanimação por cerca de uma hora. "Foram iniciadas manobras de reanimação cardiopulmonar sem sucesso até às 18h19, quando então foi constatado óbito no local, e posteriormente acionado 190 (Polícia Militar)."

As informações também contradizem o que afirmou o delegado Nelson Jorge Noronha Nassif, titular do 4º DP e substituto do 7º DP, onde foi registrado o caso. Ele revelou, na quarta-feira, que a necrópsia constatou que não havia sinais de violência, sangue ou vômito na criança e descartou a possibilidade de o bebê ter engasgado com algum alimento por não haver nada no estômago.

Nassif contestou as informações do Samu. "São informações muito levianas, que contradizem o que o médico legista, o Dr. Manuel do IML (Instituto Médico-Legal) de São Bernardo, afirmou para mim. E confio muito no trabalho dele. Quero ouvir o médico do Samu que afirmou isso e saber por que não foi dito isso no momento da ocorrência para a polícia", questionou Nassif.

O médico legista foi procurado mas não encontrado. Já Nassif, voltou a afirmar que trabalha com todas as hipóteses, mas que "tudo leva a crer que possa ter sido morte súbita causada por algum motivo patológico por conta do histórico da criança, prematura, e apresentava problemas de saúde, um resfriado leve segundo a família". O laudo deve sair em 30 dias bem como a conclusão do inquérito. A mãe, a médica do Samu e a diretora, que permanecia hospitalizada ontem, também serão intimadas a prestar depoimentos.

 

FAMÍLIA

A família de Bianca ainda espera uma explicação sobre o que houve com ela. O tio da criança, o motoboy autônomo Juvenil Lúcio Xavier, 27 anos, presenciou os primeiros-socorros prestados pelo serviço móvel e afirmou que a sobrinha já estava "roxinha" quando a encontrou no quarto da creche. "Pedi pelo amor de Deus para a médica para salvar minha sobrinha e ela disse que infelizmente não poderia fazer nada porque tinha um líquido no pulmão dela que a impedia de respirar", relatou Juvenil.

Daiane foi procurada mas disse que somente a advogada do local, Viviane Marques Lima, estava autorizada a falar. A advogada divulgou nota afirmando que Bianca não se alimentou na creche na data, desde o momento que foi deixada pela mãe, às 14h, que informou que havia amamentado a filha por volta das 12h. Juvenil contou que a sobrinha costumava mamar na creche entre 15h30 e 16h. Questionada sobre a alimentação, a advogada afirmou que ela seria alimentada mais tarde.

Dormir de barriga para cima reduz morte súbita

Crianças de até 1 ano de idade têm de dormir de barriga para cima. Essa é a principal recomendação da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e da Pastoral da Criança para diminuir a morte súbita de bebês.

A causa desses óbitos ainda não é conhecida, mas é sabido que há uma forte ligação com a posição que esses bebês dormem, informou a presidente do grupo permanente de estudo sobre o sono da SBP.

O coordenador nacional adjunto da Pastoral da Criança, Nelson Arns Neumann, contou que o costume de colocar os bebês de lado vem da recomendação de um famoso médico norte-americano. "Depois que as mães adotaram essa posição, notou-se que as crianças morriam mais de morte súbita nos EUA. Mudando a posição diminuiu o número de mortes e não aumentaram os engasgamentos."

A neonatologista e professora de pediatria da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Sueli Bispo explicou que dormir de bruços faz o bebê inspirar o ar que ele expirou. De barriga para cima, a criança respira um ar limpo. "Além disso, o bebê coloca a cabeça de lado e se tiver refluxo, o leite vai para fora da boca."

Até agora não se sabe em qual posição a pequena Bianca estava, pois segundo o delegado responsável pelo caso, quem a socorreu foi a diretora da creche e ela ainda não prestou depoimento. (Camila Brunelli)




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