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Carnaval 2011: Grande Rio 'lava a alma' na Sapucaí
08/03/2011 | 04:14
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Sob forte chuva, a Grande Rio "lavou a alma na Sapucaí", nas palavras de seu presidente, Hélio Oliveira. Ele, que chegara a desenganar o carnaval da agremiação de Duque de Caxias depois do incêndio de 7 de fevereiro - que destruiu cerca de R$ 10 milhões em carros alegóricos e fantasias, todos recuperados, mas apresentados numa versão mais simples do que o previsto inicialmente -, abriu a apresentação gritando as palavras "Fogo, chuva e paixão".

Paixão foi o que moveu os mais de 4 mil integrantes, que cantaram o samba-enredo de louvação à cidade de Florianópolis, suas lendas e sua cultura, com vigor. Entre eles, cem operários do carnaval da Grande Rio mereceram atenção especial: saíram no último carro, vestindo camisetas com os dizeres "O sonho não acabou". "É uma homenagem justa. Trabalhei 19, 20 horas seguidas, e dormia no barracão", contava o aderecista Gustavo Humberto, morador de Caxias, na concentração, emocionado.

Não foi a única alusão ao incêndio: o último dos quatro tripés, não programado, simbolizava uma fênix e sua capacidade de renascimento das próprias cinzas, a cada ciclo de vida, segundo a mitologia grega. "O que a gente tem aqui hoje não é mais só um enredo sobre Florianópolis, mas uma história de superação, que só a Grande Rio pode contar", explicou o carnavalesco Cahê Rodrigues, até então um dos candidatos ao título desse ano. Rodrigues chorou feito criança há um mês, ao ver as labaredas saindo de seu barracão na Cidade do Samba. Teve sua redenção. "Nos aguardem em 2012. O fogo fez despertar um dragão na gente."

Quem esperava ver poucas alegorias (foram cinco carros, além dos tripés) e componentes vestidos de roupas comuns, sem fantasias - a possibilidade havia sido cogitada pelos próprios, nos dias que se seguiram ao acidente - se impressionou. As alas da comunidade, cujas fantasias estavam no barracão queimado, apareceram simples, já que tudo teve de ser refeito em um mês. Já as alas comerciais e os destaques, que vinham sendo preparadas fora da Cidade do Samba, estavam mais luxuosas. Os carros traziam ornamentação modesta, embora um ou outro tivesse efeitos de luz, som e partes com movimento. Surpreendeu o público e também quem viu meses de trabalho reduzidos a ferro retorcido e cinzas.

A Grande Rio não será julgada - como a Portela e a União da Ilha, também afetadas pelo incêndio -, este ano é hors concours. Por isso, desfilou mais solta, com os componentes menos preocupados com marcações e com a contagem de tempo. "Pensamos que íamos vir com a camiseta do ensaio técnico, e hoje estamos aqui, de fantasia. Essa superação fortalece a gente como pessoa. Hoje, as nossas notas são os olhares do público", emocionou-se a pedagoga Márcia Soares, de 44 anos. A animação era tanta que a chuva chata não foi empecilho. Evoluindo no chão, a apresentadora Ana Hickmann levou um tombo e bateu com o rosto no chão. Saiu de joelho machucado, mas "feliz de ter terminado o desfile".

A Grande Rio foi ajudada por outras escolas, que emprestaram chassis de carros e elementos cenográficos. O maior problema não foi falta de dinheiro - depois do incêndio, foram injetados R$ 4 milhões na escola, que já havia usado R$ 10 milhões, seus e de empresas catarinenses, patrocinadoras. Foi o pouco tempo para o desfile. As lojas que fornecem materiais para as escolas estavam com estoques em baixa, dada a proximidade do carnaval, e foi preciso usar até copinhos de plástico como ornamento - tudo para não deixar o samba morrer.




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