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Lula não deve anunciar ministério em bloco
Por Do Diário OnLine
Com Diário do Grande ABC
04/12/2002 | 00:15
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Perdeu força a intenção do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em anunciar seu futuro ministério 'em bloco' – medida que serviria para frustar as especulações do mercado financeiro e da imprensa. Apesar de a cúpula do PT não confirmar ainda, os sete diretores do Banco Central devem ser divulgados até a próxima quinta-feira (5), para que os nomes sejam sabatinados e aprovados pelo Congresso até o recesso parlamentar (dia 15). O ministro da Fazenda, ligado diretamente à cúpula do BC, também deve sair até o final desta semana.

Do Chile, o porta-voz de Lula, André Singer, confirmou nesta terça que o novo governo não tem data para anunciar seu ministério. Mas Singer admitiu que o presidente eleito pode divulgar alguns nomes na volta de sua primeira viagem ao exterior como chefe de Estado do Brasil – Lula chega do Chile nesta quarta-feira à tarde e só volta a viajar na terça (dia 9). Singer reconheceu também que a lista não deve mais sair em bloco.

Segundo o assessor especial do presidente eleito, o andreense Gilberto Carvalho, Lula terá uma reunião com o presidente nacional do partido, deputado federal José Dirceu (PT-SP), na quinta-feira para fazer os últimos acertos.

Além do BC e do ministério da Fazenda (Palocci), a equipe de Lula deve antecipar a nomeação de pastas que já estão 'manjadas' – como Casa Civil (José Dirceu) e Educação (Cristovam Buarque). Os ministérios e cargos de 1º escalão que serão distribuídos entre os partidos aliados ao PT devem ficar por último, pois as indicações dependem também da acomodação dos interesses das legendas.

Gilberto Carvalho afirmou que pelo menos seis ministérios não devem ser divulgados até sexta-feira porque não existe consenso em torno dos nomes. Ele disse que ainda estão pendentes algumas discussões com aliados, entre eles o PSB, PCdoB, PPS e PMDB.

"Há pelo menos cinco partidos da nossa base aliada do 2º turno que pleiteiam e que achamos conveniente que participem do ministério. Aí tem um xadrez complicado. O ministério não é só você escalar um time de futebol do número um ao número 11. Tem de contemplar partidos, a geografia do Brasil, não pode fazer um ministério apenas paulista, mineiro ou carioca, você tem de distribuir, você não pode fazer um ministério apenas masculino, um ministério apenas da raça branca, você tem de buscar o equilíbrio, então é um jogo de xadrez muito complexo", disse o assessor.

O assessor disse que são 20 ministérios, sendo que outras cinco secretarias têm status de ministério - como a Secretaria da Presidência da República e a Secretaria de Segurança, que será criada. Entre os ministros que não devem ser divulgados até sexta estão: Integração Nacional, Esportes, Cultura, Ciência e Tecnologia, além do presidente do Banco Central.

Ciro Gomes está sendo cotado para assumir a Previdência. A pasta, porém, ficaria com o PT porque o PPS afirma que, como haverá reforma no INSS, a área deveria ser ocupada por um petista. Entre os ministros a serem divulgados não haverá petistas do Grande ABC. Eles terão postos importantes, mas não neste escalão.

Desencontro - O coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci Filho, teria confirmado para os senadores do PT, em reunião realizada nesta terça-feira, que a diretoria do BC sai até quinta – como antecipou na segunda-feira o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Mas o próprio Palocci tratou de negar a informação, que foi transmitida à imprensa pelo senador Saturnino Braga (PT-RJ). "Não falei nada disso. Quem fala sobre esse assunto é o presidente Lula", desconversou. A mesma observação foi feita pelo presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP).

Dirceu foi além e praticamente desautorizou a previsão de Palocci. "Afirmar isso é uma temeridade", disse. O deputado ainda destacou que o responsável pela notícia "fala por conta própria" e não tem conversado com Lula.

Nas contas de Braga e Suplicy, o novo BC estará pronto até 12 de dezembro. O PT indica na quinta-feira ao presidente Fernando Henrique Cardoso a cúpula do Banco (presidente e seis diretores). FHC, então, repassa os nomes ao Congresso possivelmente na sexta – cabe ao presidente da República indicar ao Parlamento a diretoria do BC. As sabatinas começam terça-feira (10), na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), e passam ao Plenário do Senado no dia seguinte, podendo se estender até quinta-feira (12).

A bancada petista no Senado teme que os outros partidos atrapalhem o plano de Lula, que quer tomar posse em 1º de janeiro com o BC de sua confiança. Durante a sabatina, membros da CAE podem pedir vistas aos nomes e atrasar a aprovação. O PT, que quase sempre pediu vistas aos diretores indicados pelo governo FHC, teme agora que a nova oposição faça 'pirraça' e adote a mesma postura questionadora.

Repórter de ocasião - A resistência do PT em divulgar a cúpula do Banco Central gerou um momento curioso na tarde desta terça-feira. Depois da reunião de Palocci com a bancada petista, em Brasília, Suplicy fez uma cobrança bem-humorada sobre a data em que a cúpula do BC se tornará pública.

Suplicy convidou os repórteres e fotógrafos que estavam à espera do final do encontro para uma entrevista com Palocci. Os jornalistas entraram na sala, mas não mostraram animação em fazer perguntas – pois Palocci já havia dado coletivas antes. Diante do silêncio de quem deveria perguntar, Suplicy tomou a iniciativa e cutucou o coordenador petista.

"Então, serão sete nomes? Quando eles serão indicados?", disparou, provocando risadas em todos que presenciaram a cena. "Mas você está aqui para responder, e não para perguntar", contra-atacou Palocci. Após mais risos, acabou a entrevista.




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