Setecidades Titulo
Flotação faz peixes desaparecerem da Billings
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
03/11/2008 | 07:20
Compartilhar notícia


O rendimento obtido com a pesca na Represa Billings caiu 80% na região do braço do Bororé, divisa da Capital com São Bernardo. Para os pescadores artesanais da área, o motivo tem nome: flotação. O sistema de tratamento usado no Rio Pinheiros para despejar ‘água limpa' no manancial - após injeção de produtos químicos e oxigênio responsáveis por fazer a sujeira boiar - estaria espantando os peixes. A queda na atividade coincide com o início do bombeamento constante, em meados de abril.

A denúncia é justificada com as alterações observadas no ecossistema durante o período. Os pescadores contam (e mostram) que as redes voltam carregadas de uma espécie de lodo verde, incomum na região. "Já tem pouco peixe na água e o que tem foge porque consegue enxergar a rede. Estamos enfrentando uma situação muito complicada depois que esses testes começaram. Antes, conseguia pescar 80 quilos por dia, agora não passa de dez. Não dá para viver desse jeito", diz o presidente da Apar Billings (Associação dos Pescadores Artesanais da Represa Billings), Evaldo Bizarrias, 43 anos.

A surpresa maior é que a água está limpa, mesmo perto da margem. Os pescadores dizem que, em alguns pontos, a represa chega a ficar transparente. "Mas isso, por incrível que pareça, não está sendo bom. Parece que tudo está desequilibrado por aqui. Passo até 18 horas no barco tentando pescar, mas meu lucro não chega a 20% do que conseguia antes", conta Roberto Marcolino da Silva, 42.

Para piorar o quadro relatado, a comunidade do Bororé tem ainda de enfrentar uma proliferação de mosquitos. É possível notar o problema nas ruas e calçadas, repletas de insetos mortos. Os pescadores dizem que isso é a conseqüência da ausência do predador. Os peixes se alimentam das larvas desses insetos, se não há peixe, eles invadem as casas.

Até agora, porém, as denúncias não surtiram resultado. A associação, que reúne 147 pescadores, já encaminhou ofício aos órgãos ambientais da Capital e do Estado, mas até agora nenhuma equipe técnica foi destacada para estudar os impactos da flotação na área. "A gente vendia peixe até para a Ceasa (Central de Abastecimento) de São Paulo. Foi um tombo para todos nós. Alguém precisa estudar essa água", pede Bizarrias.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;