César Filho realizou em 1991 o curta Rota ABC em Santo André, uma visão melancólica e cética sobre a juventude na época. Dez anos depois, ele e Tata Amaral investigariam a perspectiva de futuro dos jovens que atuam no hip hop para daqui a dez anos. A frase mais ouvida, contudo, foi “o futuro é agora”. O engajamento desses jovens para mudar a dura realidade social à sua volta ganhou força durante a produção e o enfoque mudou.
Os elementos do hip hop – grafite, dança, rap (DJs e MCs) e a conscientização social – entram em Vinte.Dez junto com o cotidiano de seus representantes em Santo André, com trilha sonora formada pelo rap dos grupos locais. Entre os entrevistados está Fábio Féter, 22 anos, vocalista e compositor do grupo Sistema Racional, que iniciou o chamado rap positivo, voltado para auto-estima. “A nova tendência também denuncia violência, exclusão, mas mostra soluções”, disse. Féter trabalha pela conscientização da juventude, além de dar aulas de DJ na garagem de sua casa.
O DJ Douglas Roberto Lacerda, do Aliança Periférica, fez curso com Feter junto com Adriano Dida Gonçalves, do Voz e Atitude. Ele crê na revolução de idéias, sem armas. “Nós passamos mensagens contra o preconceito e a má distribuição de renda. Músico fala, jovens aderem. Se a meta do governo é emburrecer a sociedade, a nossa é conscientizar”, disse Douglas.
Para o MC Tifu (Arnaldo Mendes da Silva, 16), a proposta do documentário foi diferente de tudo o que ele já tinha visto: “Todo filme era a mesma coisa: um cara falando de rap e grafite. Nesse, nós falamos de nós mesmos”. Seu grupo Canto B aparece no filme ensaiando na laje de sua casa. Seus companheiros são Spike (Edson José da Silva, 24) e Tiago Tadeu de Oliveira, 15.
No documentário, o grafiteiro Miguel de Souza Jr., 18, do grupo Grafo’s, mostra como se faz grafite; e a b.girl Gisele Gonçalves, 14, apresenta a dança break. “Acho legal mostrar como é nosso cotidiano, não só como artista de rua”, disse Gisele. E sonhos são os desenhos que Miguel faz hoje em dia. “Desde os 13, o grafite era meu meio de protestar contra pobreza e desemprego. Hoje, meus desenhos viajam fora da realidade. São sonhos”, afirma.
A futura Casa do Hip Hop em Santo André é uma conquista do movimento. “A Casa não será um local só para arte, break, rap e grafite. Também será um espaço de cidadania”, disse Davison Mendes Faustino, 19. Estudante de Ciências Sociais e integrante do Núcleo Rotação, ele fala sobre conscientização em Vinte.Dez. “Hip hop não é só moda ou rap. É atitude”, afirma.
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