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Aula de amor

Em Santo André, projeto promete ampliar Educação inclusiva a todas as crianças internadas

Por Natália Fernandjes
do Diário do Grande ABC
09/10/2017 | 07:07
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André Henriques/DGABC


O sorriso estampa a face de Miguel Alexander de Faria, 9 anos, e se faz presente nos olhos da pequena Anna Luiza da Silva, 9, assim que a professora Evelyn Sena da Silva cruza a entrada da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pediátrica do CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André. A felicidade das duas crianças se dá pela quebra da rotina de internação, duas vezes por semana, quando recebem estímulos de aprendizado.

Devido a Síndrome de Guillain–Barré, doença neurológica que compromete a estrutura muscular, incluindo a musculatura respiratória, Miguel está internado há quase três anos. Aluno regular da Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Ayrton Senna da Silva, na Vila Cecília, ele mantém seu sistema cognitivo preservado, o que impõe à educadora desafio de tornar atrativa a aula, realizada no leito da UTI. “Ele gosta de tecnologia. meu filho de 10 anos me ajuda com os jogos. Fazemos vídeos, videoconferências com os colegas de classe”, destaca Evelyn. O garoto se anima ao elencar os títulos do passatempo predileto. “Super Mário, corrida, luta”, ressalta ao mostrar o segundo livro que lê no ano: De volta ao Jogo: Uma Aventura não Oficial de Minecraft, escrito por RezendeEvil, codinome do youtuber Pedro Afonso.

No caso de Anna, o CHM é sua casa desde que a garota completou dois dias de vida. A mielomeningocele, defeito congênito que afeta a espinha dorsal, a impede de caminhar e falar, mas não de responder aos estímulos sensoriais. “A gente usa peças de encaixar, brinquedos sonoros, vídeos, bexigas. Por meio do espelho, ela se reconhece como pessoa, conhece as partes do seu corpo. E quando proponho algo que ela não gosta, ela fecha a cara”, diz a professora sobre a aluna matriculada na Emeief Salvador dos Santos, na Vila Humaitá.

O atendimento dos estudantes integra programa da Secretaria de Educação mantido desde 2009 e que será regulamentado a partir de 2018, conforme prevê o projeto Doutores da Educação. A proposta atende a reivindicação da rede, explica a gerente de Educação Inclusiva Sandramara Morando Gerbelli. Um dos principais problemas é a falta de regulamentação do trabalho. “É importante definir a partir de quanto tempo o aluno já pode receber o atendimento especializado, porque pela regulamentação municipal seguimos 60 dias. Já a legislação estadual prevê seis meses”, diz.

O prefeito Paulo Serra (PSDB) prevê encaminhar o projeto de lei que cria a política permanente até o fim do ano para que o programa possa vigorar a partir de janeiro. “Estamos definindo os prazos. Nossa ideia inicial era a partir de sete dias, mas talvez a gente feche dentro de 30 dias, porque dentro desse período a família ainda consegue recuperar o conteúdo pedagógico sem prejuízos.”

A ideia é universalizar o atendimento educacional para todas as crianças hospitalizadas ou em internação domiciliar. “Esse projeto era feito praticamente com o esforço pessoal das professoras, mas a partir de agora vira programa de governo. Temos 27 (crianças) na rede de Saúde e 22 em internação domiciliar. A educação de 50 crianças significa muito. Muda a vida delas e das famílias”, destaca o prefeito. Segundo ele, a ação não trará gastos extras à Educação.

A partir do próximo ano, então, as aulas voltadas aos alunos em internação hospitalar ou domiciliar serão realizadas diariamente. A proposta é que as professoras fiquem instaladas na unidade de Saúde, ressalta a secretária da Pasta, Ana Paula Peña Dias.

Ricardo Macarini, diretor do CHM, destaca os benefícios da atividade educacional para a evolução do quadro clínico dos pacientes. “No caso do Miguel, estamos falando de uma patologia com sequelas motoras, mas a cognição está totalmente preservada. Você não pode privar esse paciente por conta de uma condição de agora. Ele pode até fazer faculdade a distância no futuro, ser um jornalista, advogado. E mesmo as crianças que têm deficit cognitivo podem ser trabalhadas. E a resposta é nítida”, observa.

Mesmo que Miguel ainda não tenha decidido qual profissão quer seguir no futuro, o fato de descobrir o mundo lá fora o anima. Interagir com os colegas de escola, pintar quadros e dar pequenos passeios no entorno do CHM estão entre suas atividades favoritas. No exercício de sua cidadania, o garoto já consegue, inclusive, cobrar do prefeito, em vídeo, a resolução de buracos nas calçadas. “A gente trabalha aqui também para que seja desenvolvida a autoestima”, acrescenta a ‘prô’ Evelyn. 




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