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Sandro Borelli prepara espetáculo sobre insanidade
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
29/09/2001 | 15:16
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A FAR-15, companhia de dança dirigida pelo andreense Sandro Borelli e pela carioca Sônia Soares, tem uma postura artística clara: dança para fazer pensar. “A maioria das pessoas acha que arte é consumo, mas a função da arte nunca foi essa, a arte sempre foi revolucionária. A arte não pode ser descartável. Se a única função é dar emprego, então é indústria”, diz Borelli.

A FAR-15 tem um repertório de cinco coreografias – Borelli, 41 anos de idade e 24 de profissão, possui cinco prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – e prepara agora sua nova montagem, que estréia em dezembro. Fundada em 1997, a companhia ensaia na sede alugada, na capital paulista, o espetáculo Tântalo. “É sobre a insanidade”, afirma Borelli.

A idéia partiu do livro Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, do qual o coreógrafo e bailarino andreense retirou o título da montagem. “Jardim de Tântalo é um lugar que não existe, algo inexplicável”, afirma. A filosofia de Michel Foucault e Friedrich Nietzsche, a poesia de Jim Morrison, da banda The Doors, e o surrealismo de Salvador Dalí também alimentam a pesquisa, assim como os filmes Matrix e Blade Runner – O Caçador de Andróides. Neste, o que o fascina são “os seres aparentemente sem emoção”.

A proposta não se resume a reproduzir um hospício no palco, com figurinos brancos, nem fazer uma apologia da insanidade, adverte Borelli. “A loucura não é a salvação da humanidade. O louco sofre, está preso aos padrões das sociedades, que variam. Os sujeitos que jogaram os aviões contra as torres são loucos para nós, mas não para o povo deles”, diz.

“Na pesquisa, não me fixo em personagens. Quero falar sobre a loucura, um dos assuntos mais debatidos e estudados há séculos. A insanidade está latente nas pessoas, não se sabe quando vai aparecer”, afirma Borelli. “Quero traduzir essa sensação não só no corpo, mas no espaço cênico, na luz, na trilha”, diz Borelli, que pensa em trabalhar com o som de um realejo.

A linguagem adotada é a da dança contemporânea, sem interferências de outras. “O movimento tem de ser o mais limpo possível, estou levando a emoção para o olhar. Você já reparou que o louco tem um jeito de olhar, uma pureza que, de certa forma, o aproxima de uma criança? O louco e a criança não têm muitas regras. Eles as percebem depois, quando a sociedade as coloca”, afirma.

Incluindo Borelli, sete intérpretes compõem o elenco de Tântalo – é o mais numeroso das coreografias da companhia. A FAR-15 trabalha com poucos bailarinos por dois motivos. Um é de ordem financeira. O outro: a opção artística da companhia. “O Sandro tem um trabalho meticuloso, intimista, artesanal, vai no fundo de cada intérprete”, diz Sônia, 38 anos de idade e 20 de profissão.

Tântalo conta com uma bolsa de R$ 30 mil da Fundação Vitae. “O ideal seria R$ 80 mil, para que ninguém tenha de tirar dinheiro do bolso”, afirma Sônia. A maior dificuldade de captação de dinheiro são os assuntos polêmicos que a FAR-15 aborda. “As empresas têm medo de patrocinar. Elas têm muitos interesses comerciais, e as decisões ficam nas mãos de gerentes de marketing, que não conhecem cultura”, diz. A companhia sobrevive de recursos dos integrantes, bilheteria e espetáculos vendidos.

Enquanto trabalha em Tântalo, Borelli faz a preparação corporal do elenco de A Luta Secreta de Maria da Encarnação, o novo texto de Gianfrancesco Guarnieri que estreará ainda em 2001 sob a direção de Marcus Vinícius Faustini. Ewerton de Castro, Sueli Franco e Vanessa Gerbelli, de São Bernardo, estão no elenco.




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