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Tudo pelo visual
Fabio Leite
Especial para o Diário
30/10/2005 | 08:42
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Daqui a alguns dias vai rolar uma festa e as adolescentes Paula Postiglione de Oliveira e Anna Paula Amorim Gonçalves, ambas de 15 anos, vão às compras. Desfilam pelos corredores dos shoppings atrás dos melhores vestidos, preferencialmente exclusivos. Não “podem” repetir peça e muito menos “pagarem o mico” de se vestirem igual a alguém. Nem que para isso os pais precisem desembolsar uma boa grana, algo que já chegou a R$ 700.

“Não sou daquelas pessoas que precisam usar roupas de marca sempre. Se eu me sentir bem com outras uso sem problema. Mas é que as de marca são bem melhores”, conta Anna Paula, que também já gastou R$ 600 com uma calça. Mais do que consumista, a adolescente se define vaidosa. Prova disso, foi o que aconteceu em uma festa que foi e prefere nem lembrar. “Tinha uma menina com uma jaqueta igual à minha. Quando eu vi, no meio da festa, resolvi tirar a minha. Estava me sentindo muito mal”, lembra.

E para que isso não se repita, as adolescentes escolhem a dedo o que vão vestir. “Cada festa é uma roupa diferente. Fica chato repetir. Senão, parece que você não tem roupa”, afirma Paula. A maratona no shopping, um entra-e-sai das principais lojas de grife, não dura menos do que duas horas.

Embora se enquadrem no perfil das patricinhas, garotas especialmente preocupadas com a aparência, roupas e tudo que compõe o visual, e sejam apontadas pelas amigas como tal, as duas preferem fugir do rótulo e acrescentam a ele uma característica nada cordial. “Sou mais consumista do que patricinha. As patricinhas são mais frescas. Não gosto de ser chamada assim porque parece que sou metida”, diz Paula. “A gente não é assim”, completa Anna.

Metidas ou não, compõem uma tribo passageira. De acordo com elas, o consumismo diminui com o passar do tempo. Fato que está ocorrendo com a estudante de Direito, Celine Affonso Vilattoro, 22 anos, que já gastou R$ 600 numa calça. “Enquanto o dinheiro não é seu, você não se preocupa tanto na hora de gastar”, afirma.

Com uma coleção de mais de 150 pares de sapatos, “que não tem mais onde guardar”, Celine diz que só aprendeu a valorizar mais as coisas depois que passou a trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro. “Ultimamente estou melhorando. Mas já fui daquelas que não conseguia sair do shopping sem comprar nada”, recorda.

Quanto à vaidade, confirma Celina, parece que as coisas nunca vão mudar. “Faço unha e cabelo toda a semana e gasto muito com cremes e maquiagem”, relata. Pelo mesmo caminho já passou a advogada Denise Raniere Almeida, 28 anos. Fissurada por jóias e livros, Denise conta que agora tem de trabalhar bastante para satisfazer suas vontades e manter o padrão que tinha quando somente dependia dos pais.

“Já extrapolei algumas vezes quando era mais nova. Tinha o costume de comprar algumas coisas que nem usava depois. Mas acho que isso é típico das mulheres”, conta. Denise lembra que a vez que seu consumismo mais saltou aos olhos foi exatamente durante o trabalho. “Estava indo almoçar e vi um vestido numa loja perto ao meu escritório e fiquei tentada e seduzida por ele. Acabei nem almoçando e comprei o vestido de R$ 150”, recorda.

Quem agradece as freqüentes loucuras femininas são os donos das lojas de grifes famosas. De acordo com o sócio-proprietário da Alla Scalla do Shopping ABC, de Santo André, Álvaro Domingues Veiga, algumas jovens compram determinada roupa porque vêem as colegas ou modelos usando. “É para fazer parte da tribo e acompanhar o ritmo dos demais. Outras para acompanhar a moda pela TV. Também há aquelas que são compulsivas e chegam a comprar peças iguais mesmo sem precisar”, conta.

Segundo ela, “a moçada entra na loja e pede roupa para balada.” A faixa etária média dos frequentadores é entre 17 e 25 anos. Gastam em média entre R$ 800 a R$ 900 por compra. “Tem casos de clientes que compram R$ 7 mil até R$ 15 mil por mês. Mas também há aqueles que compram apenas uma peça de R$ 80”, conta o lojista que trabalha com venda de roupas há 18 anos.




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