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Ary Fontoura: sem medo de parecer ridículo
Márcio Maio
Da TV Press
08/02/2008 | 07:05
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Intérprete do doce Romeu de Sete Pecados, Ary Fontoura nunca tinha encarnado o papel de galã e nem imaginou que isso ainda poderia acontecer. Primeiro, por não se considerar dentro dos padrões de beleza. E, além disso, pelos 75 anos de idade que ostenta com orgulho.

Mas a história de Walcyr Carrasco realçou o lado romântico e, segundo Ary, motivou reações de público que há tempos o ator não sentia.

Agora, às vésperas do término da novela, ele aguarda o lançamento do longa A Guerra dos Rocha, em abril. No filme, interpreta outro personagem inusitado. “Estou na flor da idade”, brinca. Confira trechos da entrevista:

Aos 75 anos, o senhor interpreta em Sete Pecados um Romeu pela primeira vez, com várias características do famoso personagem de Shakespeare. Isso te surpreendeu?

ARY FONTOURA – No primeiro momento, isso me excitou bastante. Todo ator gosta de novidades e, na minha idade, nem sempre isso é fácil. Viver uma situação de adolescente na pele de um idoso foi um marco. Sempre tive noção do que eu era. Nunca fui galã, então pegava personagens mais fragilizados, abandonados, colocados à margem ou vilões. Foram a esses que me dediquei. Esse foi meu primeiro galã.

O senhor esperava essa repercussão em torno do casal Romeu e Juju?

FONTOURA – Tinha certeza de que esse casal emplacaria. Conheço o ser humano e esse tipo de história sensibiliza as pessoas. Até porque acho que quem envelhece são aqueles que não acreditam mais na vida.

Detesto essa idéia de primeira, segunda, terceira idade. Por isso mesmo conversei com a Nicete e decidimos assumir essa situação por completo, sem ter medo do ridículo por causa da faixa etária.

Depois de 50 anos de carreira e 44 novelas, ainda existe um trabalho de composição para os personagens?

FONTOURA – Depende. Para alguns sim, mas para outros basta seguir a sua intuição e deixar a história te levar. O Romeu, por exemplo, é um personagem de composição mais leve, é só ouvir algumas músicas do Roberto Carlos que você encontra a essência. De modo geral, damos conta do recado. É claro que em alguns casos, a gente ganha papéis que exigem mais pesquisa, mas aí é laboratório.

O senhor se lembra de algum que tenha exigido mais?

FONTOURA – O Seu Nonô, de Amor com Amor se Paga, é o meu papel mais popular, mas foi tão difícil de fazer! Eu praticamente carregava o elenco da novela nas costas. Cheguei a pedir para a autora, Ivani Ribeiro, diminuir minha participação. Fiquei com úlcera naquela época. Também me cansei bastante com o lobisomem de Saramandaia, do Dias Gomes. Mas era maravilhoso trabalhar com ele. Já tive muitos papéis bons e espero ampliar essa lista daqui para frente. Ainda vejo muitas possibilidades de interpretação para mim que o público pode curtir.

Como quais?

FONTOURA – Em abril estréia um filme, A Guerra dos Rocha, que a gente rodou em janeiro do ano passado. Quando me mandaram a sinopse, esqueceram de colocar que personagem eu faria e, ao perguntar, me espantei com a resposta. Fui escalado para fazer a mãe da família. A Fernanda Montenegro e todas as outras grandes atrizes dessa faixa etária não toparam, aí me escolheram. Eu fiz. Acho que é isso, quando você menos espera, aparece algo inusitado e diferente. E isso não depende da idade, e sim do seu vigor.




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