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'Gárgulas' reabre Teatro Municipal de Santo André
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
15/02/2005 | 12:36
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O Teatro Municipal de Santo André reabre as portas para a temporada 2005. Para inaugurar a nova programação, a casa recebe o trabalho de um autêntico andreense: o premiado coreógrafo Sandro Borelli. Com sua trupe – a Borelli Cia. de Dança – ele apresenta o espetáculo Gárgulas, que também inicia a série de atrações da Caravana da Funarte (Fundação Nacional de Arte). Serão duas sessões: no sábado, às 21h, e no domingo, às 20h. A venda dos ingressos deve começar na quinta-feira, às 14h.

Além de Gárgulas, três produções serão levadas à cidade dentro da Caravana da Funarte. A programação é eclética. Enquanto Borelli representa a linguagem da dança, os atores formados pela Escola de Arte Dramática da USP (Universidade de São Paulo) encenam a peça Sinfonia do Tempo, cujo foco se dá sobre a vida de uma família do interior, em três épocas distintas – 1930, 1950 e 1970.

Ainda nas artes cênicas, registro para a exibição de Tauromaquia, de Alessandro Toller, espetáculo que revela a humanidade e a animalidade do homem, por meio da história de uma comitiva que atravessa o sertão.

Para encerrar, há a luxuosa montagem de Orlando Silva, o Cantor das Multidões. Para fazer o papel principal, Tuca Andrada se dedicou ao estudo do canto durante três anos. Alguns dos maiores sucessos do intérprete – como Lábios que Beijei – são presença garantida no palco.

Angústia – Obras de nus assinadas pelo artista plástico Lucien Freud (neto do pai da psicanálise, Sigmund Freud) foram ponto de partida de Borelli para a criação de Gárgulas. "Ele retrata um corpo nu que não é saudável, mas doentio, febril. Não há erotismo, mas um despojamento total. As pessoas aparecem em posições em que não há pudor algum". diz. Chama atenção do andreense os tons usado nas telas, "que lembram feridas" e dos corpos, que a seu ver remetem aos mortos em campos de concentração – já que o próprio Lucien é um judeu fugitivo da guerra. "Isso somos nós, hoje", afirma Borelli.

Os gárgulas são seres mitológicos de aparência grotesca, aprisionados pelo homem em igrejas e castelos para trabalharem como guardiões. Uma situação análoga à condição social do homem. "Eles têm muita mágoa e raiva de seus donos. Eles não têm para onde ir. Gárgulas somos nós", diz.

Nem a fragilidade que se esconde sobre suas tenebrosas feições os ajuda a encontrar redenção. Pelo contrário: é uma fragilidade que os fazem sentir-se impotentes para alterar a realidade. "Gárgulas não é um espetáculo de vida pulsante, nem de morte total. É um espetáculo que definha, que vai perdendo os sentidos aos poucos", afirma. É como um estado de coma.

Em cena, cinco integrantes da companhia dão vida a esses gárgulas. E embora haja a raiva desses seres, a fragilidade os abate de tal forma que são incapazes de realizar gestos bruscos ou agressivos. Em vez disso, os bailarinos trabalham com a falta de respiração em seus movimentos. Há uma angústia contínua e sufocante. A sensação é de que o tempo está suspenso, lento. A solidão é total.

"Não é um espetáculo para divertir, mas para mexer em alguma coisa dentro das pessoas", afirma Borelli. A nudez se revela apenas em alguns momentos – por isso Gárgulas é desaconselhável a menores de 18 anos.

Borelli, que prefere acompanhar as sessões de Gárgulas na platéia, deve subir ao palco provavelmente no domingo. "Gostaria de dançar, porque Santo André é a minha cidade", diz. Roberto Alencar reveza-se com Borelli no papel – e é acompanhado no palco por Renata Aspesi, Samanta Barros, Vanessa Macedo e Marcos Suchara. Ao final da apresentação, Borelli conversará com o público.

Pela Caravana Funarte, Gárgulas será apresentado em Araraquara, Matão, Campinas, Votorantim, São Paulo e Suzano. Fora isso, a companhia fará uma temporada de duas semanas no Rio, com Gárgulas e A Metamorfose.




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