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Sérgio Soares sonha alto após 1 ano de ‘banco’
Por Nelson Cilo
Do Diário do Grande ABC
12/06/2005 | 10:09
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A estrela de Sérgio Soares não pára mais de subir. Depois de substituir o antigo chefe Péricles Chamusca, o atual comandante do Santo André, que antes atuava como assistente, completou no dia 3 um ano na função de treinador e caiu definitivamente nas graças dos torcedores do campeão da Copa do Brasil. O quarto lugar no Estadual serviu para carimbar a linha ascendente de um ex-volante, que se impunha como um verdadeiro líder no grupo. A invencibilidade no Bruno Daniel – pouco mais de 12 meses – não passa de um detalhe importante, é claro. No entanto, o que mais o caracteriza, além da indiscutível autoridade, é o indispensável jogo de cintura de quem mantém o elenco nas mãos. É na gritaria ou no diálogo. Depende. Às vezes, segundo ele, o estilo paizão atrapalha. De repente, é preciso transformar-se num confidente. Nunca esquece de mandar um alerta aos desavisados: não vale relaxar na hora do batente. Carrega princípios bem simples. Um deles: é fundamental a disciplina. Usa e abusa das palestras baseadas na psicologia. Acima de tudo é preciso criar e recriar objetivos na vida. Nosso personagem é de muita paz. Só que um dia resolveu uma divergência na base do tapa. O atacante Alex Alves (atualmente no Botafogo-RJ) tirou-o do sério. E aquela briga entre Sérgio Soares e Serginho Chulapa? Saibam que também rola homossexualismo no meio do futebol. Confiram as confidências de um xerife, que não era de alisar no meio-campo do Palmeiras, El Helal (Arábia Saudita), Kyoto (Japão), Guarani, Juventus, Santo André...

DIÁRIO – Como você analisa o primeiro ano de carreira como técnico do Santo André?

SÉRGIO SOARES – Um bom começo, lógico. Não posso reclamar de nada. Procurei aproveitar ao máximo todo espaço deixado pelo Chamusca (Péricles) na Série B do ano passado. Voltei do Náutico em agosto/setembro de 2003. Consegui aplicar uma experiência de 22 anos.

DIÁRIO – Você criou uma forte identidade no Santo André.

SÉRGIO SOARES – Ah, sim. Transferi pra cá tudo aquilo que eu tinha de vinculação ao Juventus. Coloquei a minha cara lá e aqui. As conquistas importantes mostram que sou muito mais Santo André.

DIÁRIO – A ascensão do Santo André pode representar um bom trampolim, não é?

SÉRGIO SOARES – Ainda nem penso nisso. Mas é natural que a nossa boa campanha encurte o caminho. O clube me abriu as portas para que um dia eu comande um time de ponta no futebol brasileiro. Depois, quem sabe, eu brigue pelo meu lugar até na seleção.

DIÁRIO – Você já se considera em condições de chegar lá?

SÉRGIO SOARES – Acredito em mim. Assumir um grande (clube) é aquela coisa de chance. Isso ficaria muito atrelado à nossa campanha.

DIÁRIO – Se agora te convidassem, mudaria?

SÉRGIO SOARES – Não sei. O fundamental é o acesso (à Série A) do Santo André. A minha preocupação número um é o nosso projeto em andamento. A Série B, o próximo Campeonato Estadual, a próxima Copa do Brasil, tudo.

DIÁRIO – Você revela um lado conciliador, mas também bate pesado na indisciplina. Isso é influência de quem?

SÉRGIO SOARES – É uma coisa minha. Ao longo de minha carreira, consegui adquirir isso aí. Sempre fui capitão na maioria dos clubes que defendi. Me impunha. Era de tomar a frente, liderava.

DIÁRIO – Como convém aos líderes de verdade?

SÉRGIO SOARES – Pois é. Sou democrático. O diálogo funciona. Converso muito até hoje. Sei o momento certo de chamar a atenção. De olhar frente a frente. Digo assim: ei, vem cá, vamos resolver isso.

DIÁRIO – É um papo de boleiro. De quem conhece o meio?

SÉRGIO SOARES – Exato. É a linguagem do boleiro. A gente vive o clima e sabe como lidar. Sabe quando ele (o atleta) tenta enrolar. Ou quando realmente precisa de uma palavra, de um conselho.

DIÁRIO – E quanto ao estilo de trabalho que você usa?

SÉRGIO SOARES – Vamos lá. O Carlos Alberto Parreira é um grande treinador. Só que nunca chutou uma bola. Tudo bem. É um sujeito competente, que explica isso ou aquilo, mas não mostra como é que é.

DIÁRIO – É preciso que o profissional acredite em você.

SÉRGIO SOARES – Correto. O seu Valdir (Valdir Joaquim de Moraes, coordenador) me contou mais uma: o Carlos Alberto Silva trabalhava na Arábia Saudita e pediu que o cara executasse um tipo de cruzamento. Ele não conseguia complementar o lance e sugeriu que o professor mostrasse... Só que o Carlos Alberto nunca jogou.

DIÁRIO – É a referência?

SÉRGIO SOARES – Nem sempre. O seu Valdir defende uma tese: você jogou, tudo bem. Mas isso nem sempre te credencia. Aqui, o seu Valdir me ensina coisas boas. É uma pessoa que me orienta pra caramba. Tenho a felicidade, juro, de tê-lo ao meu lado.

DIÁRIO – Quem é que te dá mais trabalho aqui no Santo André no item disciplinar?

SÉRGIO SOARES – É normal que ocorram divergências no meio de um grupo de atletas. O legal é o respeito. É necessário estabelecer limites e nunca ultrapassá-los. O ideal é que o comandante não seja um ditador. Sou de botar ordem na casa.

DIÁRIO – Mas não é nenhum briguento?

SÉRGIO SOARES – Não sou. Nunca fui. Mas, num treino do Juventus, o Alex Alves (agora no Botafogo-RJ) tirou a minha paciência. Pedi a ele que marcasse lá na frente. Ele me respondeu: pô, vai sifu... Aquilo me deixou louco. Fui em cima. Nunca briguei no campo. Naquele dia, brigamos...

DIÁRIO – Um dia, você e o Serginho Chulapa também se desentenderam?

SÉRGIO SOARES – Ele era do Santos, eu do Juventus. No jogo anterior, o Serginho e o Juninho Fonseca (ex-Corinthians) brigaram no Morumbi. Em seguida, aconteceu comigo. O Luvanor era do Santos. Ele passou perto de mim e cometi a falta. De repente, o Serginho investiu contra mim. Pensei: vou apanhar aqui. Puts: um gigante. Mas não corri. Isso nunca. Taí uma coisa que não pode. O jeito era encarar, mas o pessoal impediu que a gente...

DIÁRIO – A propósito, o próprio Serginho Chulapa chegou a denunciar que existe homossexualismo no futebol.

SÉRGIO SOARES – E como existe... Tem muito disso no meio. Sei de muitos casos, principalmente nas categorias de base. Não vou apontar nomes, mas não é aqui no Santo André. É bem longe daqui...

DIÁRIO – O que é que rola atualmente na tua cabeça?

SÉRGIO SOARES – É trabalhar dentro da realidade para subir ao grupo de elite nacional. É o meu desafio imediato. Temos o título da Copa do Brasil, ficamos em quarto no Estadual, fomos bem na Copa Libertadores, mas falta ganhar a Série B do Brasileiro.




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