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Com Sônia Braga, Cine Ceará tem belo começo
Da AFP
26/06/2010 | 07:00
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Uma noite de homenagens e bom cinema marcaram o início do "20º Cine Ceará". A atriz Sonia Braga, caindo de chique com seu longo vermelho, entregou um troféu ao ator Mauro Mendonça, seu parceiro de elenco em "Dona Flor e Seus Dois Maridos", o maior sucesso de bilheteria do cinema brasileiro até hoje. Também recebeu um troféu Mucuripe o diretor peruano Francisco Lombardi, o mais importante do seu país e que ganha, durante o festival, minirretrospectiva de sua obra. Após as homenagens, viu-se o filme, o primeiro dos concorrentes da Mostra Competitiva de longas: "O Amor e Outros Demônios", que Hilda Hidalgo adaptou da obra homônima de Gabriel García Márquez.

Foi uma noite interessante no velho Cine São Luiz, agora rebatizado como Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro, no Largo do Ferreira, centro de Fortaleza. Sonia, animada como sempre, deu autógrafos, posou para fotos e subiu ao palco para entregar diplomas a garotos que haviam feito um curso de cinema na Casa Amarela, um anexo da Universidade Federal do Ceará.

Foi emocionante vê-la ao lado do parceiro de "Dona Flor", filme de 1976. Nele, como se lembra, Sonia vive a personagem título, e Mauro, o marido certinho, Teobaldo Madureira, que divide a mulher com o jogador e bon-vivant Vadinho, interpretado por José Wilker.

Após a cerimônia de abertura, rolou "O Amor e Outros Demônios" que é, diga-se, uma boa surpresa. Não é nada fácil adaptar para a tela a obra de García Márquez, ainda mais quando se é uma diretora estreante, como a costa-riquenha Hilda Santiago. Mas ela deu conta do recado. Capta com sensibilidade o espírito da obra de Gabo e constrói um belo filme sobre o amor e a opressão. Filmada na Colômbia, a história de época fala de uma garota mordida na praça por um cão e que se vê internada num convento sob suspeita de estar possuída pelo demônio. Um jovem padre espanhol é incumbido de praticar o exorcismo.

García Márquez ouvira falar do mito da menina dos longos cabelos vermelhos quando foi cobrir, como repórter, a demolição do antigo Convento de Santa Clara. Quarenta e cinco anos depois, em 1994, Gabo misturou fatos à imaginação e escreveu esse romance, uma espécie de "O Padre e a Moça" caribenho e ambientado na época da inquisição. Hilda opta por uma abordagem intimista e intensa, privilegiando closes para expressar os sentimentos dos personagens. O filme tem andamento lento, solene, ecoando talvez influências de Andrei Tarkovsky, entre outras. A história fala de repressão sexual, do poder da Igreja e na verdade o de qualquer poder sem limites em esmagar a vida dos indivíduos. Foi um belo começo, na verdade.




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