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Gente do ABC - Um médico que sabe tudo sobre vinho
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
12/06/2005 | 09:05
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“O melhor vinho produzido no mundo é aquele que vou tomar amanhã. Porque avaliar a qualidade com base no que eu já degustei é como parar no tempo.” A afirmação é do médico ginecologista Eliano Pellini, 52 anos, de Santo André, titular da disciplina Ginecologia Hormonal na Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. A familiaridade com a bebida dos deuses não é mero palpite. Há 21 anos o médico é também enólogo. Ou seja, dedica-se à ciência e à arte do cultivo e preparação do vinho, sendo membro da regional paulista da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers).

Foi uma viagem feita em 1984 para a região da Toscana, na Itália, que despertou no ginecologista a paixão pela bebida feita a partir da fermentação da uva. Pratos típicos da cozinha toscana – lombo de porco alla fiorentina e a minestra (sopa) de grãos de bico – não foram os inspiradores para o médico ser um apaixonado por vinho. Foram os campos tomados por vinícolas – plantação que domina a paisagem da Toscana, ao lado de oliveiras e girassóis – que convenceram Pellini a dedicar-se à enologia.

Foi amor à primeira vista. Os esforços e a dedicação praticados por italianos daquela região no preparo da terra para a vinicultura o impressionaram. “Me apaixonei pela relação de amor que aquelas pessoas têm com o solo para mantê-lo favorável ao cultivo da uva”, relembra o médico.

Nada que lembre a versão romântica retratada por Benedito Ruy Barbosa, diretor de novelas como Esperança e Terra Nostra, protagonizadas por imigrantes italianos que faziam vinho pisando sobre cachos de uva. “Isso é folclore. Talvez hoje ocorra somente em festas típicas no interior da Sicília.”

Embora tome vinho tinto todas as noites, não é a degustação da bebida propriamente dita que fascina Pellini. São as tradições contidas por trás dessa cultura milenar, nascida como atividade artesanal e hoje inserida em processos industriais de fabricação, que fazem a cabeça do médico e enólogo.

O vinho trouxe “mais cultura” à vida de Pellini. Geografia foi o tema mais privilegiado. “Aprendi muitas particularidades sobre o clima e o solo favoráveis para o cultivo da uva. É interessante como a vinicultura se dá bem em regiões onde o clima é seco, ao contrário de muitas outras colheitas.” Como exemplo disso ele cita as regiões italianas da Toscana e do Piemonte; Bordeaux, na França e planícies do Chile e da Argentina.

Ao ingressar no mundo dos enólogos, Pellini entendeu o por que da escassa produção e o baixo consumo de vinho no Brasil, país que detém uma das maiores colônias italianas do mundo. Sobretudo no Grande ABC.

“Produtores que imigraram para cá no começo do século passado trouxeram a tradição do vinho. Mas a industrialização mudou o rumo dos vinicultores, que deixaram de cultivar uva para oferecer mão-de-obra nas empresas, em especial às montadoras”, diz o médico, com referência clara ao desenvolvimento industrial da região no século passado. “Mas ainda há produtores por aqui, que fixaram residência em São Bernardo, na região do Riacho Grande.” Entre os anos de 1998 e 1999, Pellini foi colunista do Diário, onde escrevia sobre vinhos.

Ginecologista formado em 1976 pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Eliano Pellini fez residência em Ginecologia e Obstetrícia. Mais tarde especializou-se em Ginecologia Hormonal e passou a lecionar na Faculdade de Medicina do ABC. Questões como menopausa, reposição hormonal e métodos contraceptivos são abordadas por ele em congressos por todo o Brasil e no exterior, para as quais é chamado como palestrante.

Aparentemente duas atividades distintas, a medicina e a enologia tornaram-se cúmplices na vida profissional de Pellini. Segundo ele, o vinho deu novo sentido ao “mundo técnico e seco” dos médicos. “Uni a sensibilidade que o vinho me ensinou à didática que já utilizava com meus alunos na faculdade. Com isso resgatei sentimentos na sala de aula.”

Perguntado se a mulher é como o vinho, no que diz respeito à máxima “quanto mais velho, melhor”, o médico e enólogo responde: “Eu não diria mais velho, maduro sim. Quanto à comparação, posso dizer que não basta amadurecer para que o vinho e a mulher fiquem melhores. Depende da adega onde são guardados.”




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