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‘Antônia’ chega aos cinemas
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
07/02/2007 | 20:17
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Em janeiro, após a pré-estréia do filme Antônia, na Vila Brasilândia, em São Paulo, cenário da trama, a diretora Tata Amaral ouviu de uma menininha da platéia: “Por que o filme se chama Antônia?”. Após explicar o conceito estético – o avô das quatro personagens do filme era Antônio, e Antônia, em latim, significa a inestimável, guerreira gloriosa –, a diretora foi mais lúdica e citou uma das letras cantadas pelo quarteto: “Antônia sou eu, é você, Antônia qualquer um pode ser”. A criança agradeceu.

A idéia do filme surgiu a partir do documentário VinteDez (2001), rodado por Tata e Francisco Cesar Filho com rappers da periferia de Santo André – o documentário termina com uma apresentação do grupo Sistema Racional, e o filme começa com uma música dos mesmos, É Assim que Tem que Ser. Antônia inspirou o seriado homônimo exibido pela Rede Globo entre novembro e dezembro do ano passado. Estréia sexta-feira nos cinemas, mesmo dia em que será exibido na mostra Generation, uma das sessões especiais do Festival de Berlim, que começa nesta quinta-feira na Alemanha.

Antônia é o nome de um grupo vocal de quatro jovens negras que vivem numa favela na periferia da metrópole. As cantoras Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah e Cindy interpretam Preta, Barbarah, Mayah e Lena, que tentam dar um salto sobre o abismo social e racial cantando rap, MPB e soul music. As quatro deixam os backing vocals de um grupo de homens para montar seu próprio grupo. Descobertas pelo empresário Marcelo Diamante (Thaíde) cantam em bares e festas de classe média. Da noite para o dia, no entanto, o cotidiano de pobreza, violência e machismo interrompe a trajetória. Separadas, as quatro batalham para reunir os cacos e, quem sabe, voltar a cantar juntas.

O desejo das meninas é o mote deste terceiro longa-metragem de Tata Amaral, cineasta de Um Céu de Estrelas (1997) e Através da Janela (2000). A diretora fecha sua trilogia de arquétipos femininos em situações emocionais extremas, porém é o menos contundente dos três. No primeiro, era uma mulher adulta em busca de uma vida longe da opressão doméstica; no segundo, uma idosa hiperprotetora do filho único capaz de violência. Ambas, moradoras de regiões afastadas dos bairros nobres e centrais da metrópole. Em Antônia, a geografia da periferia é mantida, mas os arquétipos se diluem em quatro mulheres: a fiel a si mesma, a determinada, a vacilante, a guerreira. Sofrem com seu cotidiano e encontram a paz no palco com a música como meio de expressão e afirmação.

Uma cineasta branca de classe média conta a história de quatro jovens negras da periferia. O elenco foi formado por atores e atrizes não-profissionais, cada um ciente na pele do que é viver numa favela (Negra Li morou na Brasilândia, por exemplo). No cenário, ruas escuras e casas de tijolo à vista, e interpretações naturalistas dão veracidade. Os coadjuvantes estão muito bem, destaque para Thaíde e a pequena Nathalye Cris, 6 anos, moradora da Brasilândia, que faz Emília, a filha de Preta. Na escolha estética da diretora há uma quebra do paradigma da vida em favelas, evitando o estereótipo do noticiário policial. A violência é periférica à trama. Mas o tom na narrativa oscila entre ficção realista e um certo artificialismo. A superexposição na mídia com a série na Globo tirou um pouco do brilho do filme, contudo não o envelheceu.

ANTÔNIA (Brasil, 2006). Dir.: Tata Amaral. Com Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah, Cindy, Sandra de Sá, Thaíde. Estréia sexta-feira no Grande ABC e no circuito paulistano. Duração: 90 min. Classificação etária: 12 anos.




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