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Arte conservada 'na nuvem'

Acervos digitalizados de museus e espaços expositivos ajudam a registrar e resguardar peças

Daniela Pegoraro/Especial para o Diário
09/09/2018 | 07:11
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Tomaz Silva/Agência Brasil


Das peças que compõem o acervo de um museu não estão apenas as tradicionais obras de arte expostas no local. Esses espaços históricos-culturais detém as mais diferentes formas de conteúdo – a depender de sua temática – como documentos oficiais, fotografias, artigos científicos, páginas de periódicos e conteúdos multimídia. Ter acesso a todo esse material tornou-se essencial para especialistas e mentes curiosas, e nesse sentido a digitalização de acervos fez com que peças, anteriormente disponíveis apenas em determinados endereços, tivessem maior circulação e a alcance de todos pelo meio virtual.

“Essa disponibilização dos conteúdos nos meios digitais é de grande importância, a começar pela preservação da obra original. Caso um pesquisador precise de ter acesso a documento histórico, ele pode consultar a versão digitalizada, sem deteriorar o legítimo. Também tem objetivo de fazer o registro das peças físicas, que é de grande ajuda para a gestão do museu”, explica a coordenadora do Centro de Documentação Histórica da Fundação Pró-Memória de São Caetano, Mônica Iafrate. No espaço da região, quase todas as fotografias estão disponíveis on-line, e a criação de banco de dados está em processo de confecção. “Queremos disponibilizar todo nosso material virtualmente, mas isso requer muito trabalho e tempo, visto que o acervo está sempre crescendo”, explica Mônica.

No caso do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, essa digitalização foi importante para o processo de recuperação da instituição, que sofreu com incêndio em 2015. Isso foi possível porque grande parte do acervo era composta por conteúdos multimídias e virtuais desde a sua concepção. No caso mais recente, em que as chamas consumiram o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, a digitalização não atuaria de maneira a resgatar o que se perdeu, mas apenas como registro. “O incêndio foi uma tragédia. O acervo digital preserva em certo ponto, mas o original nunca poderá ser substituído”, explica o galerista Thomaz Pacheco, que ficou à frente da Pinacoteca de São Bernardo nos anos de 2016 e 2017. “A Pinacoteca tem o patrimônio digitalizado. Não está completo porque ainda falta trabalho de pesquisa. Não é algo complicado, só é trabalho constante. O que precisaria ser feito é ter uma pessoa permanentemente, responsável apenas por catalogar”, acrescenta.

Parte do acervo da Pinacoteca e outras instituições de São Bernardo como a Seção de Patrimônio, a Seção de Pesquisa e Documentação e do Centro de Referência das Culturas Populares Tradicionais estão disponíveis para pesquisa e acesso em base de dados no site www.memoriaeacervo-online.saobernardo.sp.gov.br.

Ainda na região, a prefeitura de Mauá também dispõe o acervo de sua Pinacoteca no aplicativo Artyou. A Secretaria de Cultura e Juventude do município já teve duas exposições temporárias que possuíam QR Code para acessar tanto a exposição quanto informações adicionais. Em Ribeirão Pires, o Museu Municipal possui mais de 5.000 fotos em acervo digital disponíveis. Solicitações de acesso a ele podem ser feitas por meio do portal www.ceh-rp.site, que também conta com exposições virtuais.

Mês passado a cidade fez inventário dos acervos do Centro de Exposições e História Ricardo Nardelli. Foi fotografada mais da metade do acervo físico e os 354 objetos registrados estão em banco de imagens, disponível no local.

SEM SAIR DE CASA
Nem todo mundo tem a oportunidade de visitar o quadro da Mona Lisa no Museu do Louvre, na França. No entanto, pode-se ter um gostinho de como seria a experiência por tours virtuais disponibilizados no site (www.louvre.fr/en/visites-en-ligne).

Além de ter acesso às plantas do local, pode-se ver em 360º as exposições, percorrendo os corredores pelo navegador do computador, como se estivesse andando pelo Louvre. Ao clicar nas obras, estas são ampliadas e informações técnicas são disponibilizadas.

Outros locais proporcionam a visita virtual como o Museu de História Natural de Nova York, Museu Metropolitano de Arte, Museu Nacional do Iraque, Museu Britânico e Museu de História Natural de Londres. Os espaços expositivos do Brasil também aderiram a isso como o Museu do Amanhã, Museu Imperial e Museu Casa de Portinari. Não há desculpa, portanto, para não conhecê-los.  

PRESERVAR A MEMÓRIA 

Com o incêndio que atingiu o Museu Nacional, a sociedade se mobilizou para eternizar a memória da instituição. Os alunos de museologia da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) tiveram a iniciativa de reunir imagens do acervo na mesma noite em que o fogo tomou o local. Postagem no Facebook que solicitava às pessoas o envio de suas lembranças e fotografias do museu a endereço de e-mail pessoal de um deles viralizou de tal modo que até mesmo os professores passaram a ajudar na organização dos materiais recebidos. “Estamos coletando memórias afetivas da sociedade civil e também imagens de pesquisadores e estudantes do Museu com objetivo de salvaguardar a memória do Museu Nacional, tanto para colaborar com a reabertura da instituição quanto para outros futuros projetos de pesquisa”, explica Ludmila da Costa, coordenadora do curso. 

A professora acrescenta que nada será divulgado por enquanto, visto que dependem das diretrizes do Museu Nacional. A intenção é formar coleção digital, disponível pelo Núcleo de Memória da Museologia no Brasil da universidade. 

“Este trabalho será feito pelos alunos da Escola de Museologia, mas ainda nem começamos, pois os contatos não param de chegar. Estamos em fase de planejamento de ações. Será trabalho de anos”, conclui.




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