Economia Titulo Gestão de Pessoas
Empresas buscam alma do funcionário
Por Bárbara Ladeia
Do Diário do Grande ABC
16/11/2008 | 07:00
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Ele acorda bem cedo e é o primeiro a chegar no trabalho. Leva pilhas de serviço para casa e, um final de semana depois, está tudo pronto. Ele é obediente, não debate as regras e segue à risca as orientações de seus superiores. Ele é o funcionário padrão e se depender da avaliação de Stephen Covey, renomado consultor de gestão de pessoas em todo o mundo, ele está desempregado.

Gestores de todo o País tiveram a oportunidade de compartilhar do conhecimento de Stephen Covey no Expomanagement 2008, maior evento de executivos em toda a América Latina que recebeu cerca de 20 mil visitantes. Com os 4.500 lugares esgotados dias antes da palestra, Covey, que já foi consultor do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, falou sobre o funcionário que as principais companhias do mundo desejam.

Para Covey, esse colaborador que chamou de "industrial" não é produtivo. Ele não faz parte do negócio da companhia, nem sequer se sente parte dela. Esse é o principal elemento de desmotivação e a principal âncora de carreiras na atualidade. "A chave do sucesso é o envolvimento pessoal e o compartilhamento de informações", afirma o consultor. No entanto, tamanha motivação não depende apenas do funcionário, mas também dos gestores da equipe.

"Liderança é uma autoridade moral, não hierárquica. A liderança é confirmada pelas bases da empresa", lembra o consultor. A posição de autoridade conquistada através de promoções também já faz parte do passado. Covey afirma que só consegue ser um verdadeiro líder aquele que permite a automotivação do funcionário, valorizando as iniciativas, incitando a criatividade, permitindo que ele "exercite suas paixões com aquilo que melhor sabe fazer".

Segundo o consultor, "as forças culturais e emocionais são coordenadoras da atitude dos colaboradores", por isso, a valorização do indivíduo, com tempo livre, lazer e vida pessoal intensa é cada vez mais recorrente no mercado de trabalho. A preocupação com o lado que vai além do horário comercial também colabora para a automotivação, que otimiza tempo e multiplica os resultados, uma vez que o funcionário passa a se sentir parte do mesmo projeto que os diretores da companhia. "Quando o funcionário está internamente motivado, ele não precisa de supervisão", pontua.

Covey destaca que a essência está na comunicação entre lideranças e colaboradores. A sinergia completa só existe com um fluxo concreto de idéias entre os personagens de uma equipe e principalmente, a capacidade de aceitação de inovações. "A humildade pode realmente provocar mudanças."

Rota para liderança inclui buscas pessoais

Especialistas já identificam novos perfis de jovens profissionais que buscam a vitória pessoal como principal elemento para a ascensão em suas carreiras. "A atual geração não luta pela mudança da cultura dentro da empresa. Se a companhia não está de acordo com as premissas do indivíduo, ele simplesmente vai embora", atesta Josmar Arrais, consultor especialista em liderança do instituto Franklin Covey. Para ele, o fim já está próximo para empresas que mantém uma gestão tradicional de sua equipe.

A vitória pessoal é o primeiro passo para a sonhada conquista da liderança. Saber fazer escolhas e determinar objetivos são conceitos fundamentais para quem deseja galgar uma posição de destaque dentro da empresa. "Com um objetivo bem determinado em mente, torna-se possível focar as próprias atitudes na meta a ser alcançada", aponta.

O segundo passo a ser dado é a interiorização do conceito de interdependência, onde são estabelecidas as idéias de coletividade e empatia frente às sugestões de colegas de trabalho. "Se um perder, não há vitória coletiva e, portanto, não há ganho para a companhia."

 A busca pela superação pessoal, segundo Renato Waberski, consultor da Thomas Case Associados, também é sempre bem vista. "Manter-se interessado e compartilhar informações mostra interesse do colaborador", lembra. "Quando fica clara essa vontade de crescer, os gestores vêem ambição e pró-atividade."

Para Waberski, o comportamento do colaborador em situações estressantes é o principal termômetro da capacidade de liderar do candidato ao sucesso. "Nos momentos estressantes é que se identifica o jogo de cintura. Isso é o mais importante hoje em dia", aponta.

O reconhecimento das próprias vitórias é fundamental não somente para a auto-motivação como para a observação dos colegas e gestores. No entanto, essa é uma área que merece maior cuidado. "É preciso ter bom-senso para não soar arrogante. Em geral, esses são os primeiros casos de eliminação em uma equipe."

Ambiente de confiança é essencial

Para Josmar Arrais, consultor especialista em liderança do instituto Franklin Covey, multinacional voltada para eficiência corporativa, criar um ambiente de confiança é fundamental para o bom funcionamento de uma equipe.

"Confiança é a intersecção entre caráter e competência", resume Arrais que aponta que, quanto maior a confiança no líder, maior a capacidade dele de gestão de uma equipe.

Para aumentar essa confiança ou criá-la onde não existe, o consultor destaca a necessidade de criar mecanismos de transparência, respeito e lealdade. "É fundamental, por exemplo, que toda a equipa saiba claramente quais são os objetivos da empresa e quais são as metas das próprias atividades".

Pessoas que amenizam a realidade em tempos de crise também não inspiram a confiança em uma equipe. "Ninguém gosta de pessoas que não tratam a realidade da forma como ela de fato é, criando amenizadores ou agravando-a", reitera.

Honrar compromissos também é fundamental para que haja sinergia nesse sentido. "Mesmo que haja prejuízo financeiro para a empresa, é fundamental cumprir com a palavra dada ao colaborador", destaca Arrais.

Depositar confiança na equipe também é um elemento chave para construção desse cenário positivo. "Uma pessoa desconfiada nunca terá a confiança do time."

 

Mulheres identificam potenciais com mais facilidade

Renato Waberski, consultor de carreiras da Thomas Case Associados. afirma que as mulheres são mais sensíveis à identificação de talentos dentro de suas equipes de trabalho. "A mulher enxerga muito mais os líderes dentro do ambiente de trabalho", afirma.

Tal sensibilidade tem conduzido cada vez mais mulheres aos cargos de lideranças de equipes na grandes multinacionais com sede no Brasil. "Mesmo assim, infelizmente ainda não chegaram a uma posição semelhante à dos homens." O mesmo olhar que as leva aos cargos de gestão de pessoas não tem prejudicado executivas do sexo feminino quando a relação com sua equipe não é das melhores. Segundo Waberski, apesar de menos "racionais e brutas" que os homens, dificilmente mulheres deixam percepções pessoais interferirem no cotidiano da empresa.

Não é à toa que as áreas comercial e de marketing têm tido o maior crescimento no número de gerentes do sexo feminino. "Justamente porque dependem mais de relacionamento interpessoal, essas áreas têm mais mulheres."




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