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Apesar da dor, famílias fazem apelo por doação

Transplante pode ser chance de sobrevivência para quem engrossa a fila de espera

Camila Galvez
Maíra Sanches
08/12/2011 | 07:00
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A batalha pela vida do estudante de Ribeirão Pires Lucas Guizzardi, 10 anos, que morreu anteontem devido a complicações pós-transplante de medula óssea, foi partilhada com amigos próximos que doaram esperança e dedicação pela causa em comum: a importância da doação de medula.

A professora de Educação Física Juliana Moura, 26, perdeu o filho Breno, 4, em março de 2009, vítima de aplasia medular. A doença uniu-a à família de Lucas. Ela chegou a ter outros dois filhos na tentativa de encontrar a compatibilidade exigida para realização do transplante. As chances de encontrar um doador compatível fora da família é de uma em 100 mil.

Atualmente a professora organiza campanhas no Grande ABC que incentivam o cadastramento de possíveis doadores. Uma delas foi em Ribeirão Pires, considerada um sucesso, e foi feita em parceria com a mãe de Lucas.

"Não chamo de doação. É ato de amor ao próximo. Você doa parte de si para salvar outra vida. Quanto mais pessoas se cadastrarem, menos pacientes vão ficar tanto tempo aguardando e mais doentes terão chance de sobreviver. Se ele (Lucas) não tivesse aguardado o transplante por cinco anos, talvez tivesse dado tempo de salvá-lo."

Lado a lado à família, a professora acompanhou o drama de Lucas, que foi enterrado ontem de manhã no Cemitério Parque Vale dos Pinheirais, no Jardim Primavera, em Mauá. Cerca de 200 pessoas acompanharam o velório.

A mãe do menino, a técnica em gesso hospitalar Rosimar Guizzardi, 37, não teve forças para deixar a casa onde a família vive em Ribeirão Pires. Apenas a irmã do menino, Rosiane, 15, e os demais familiares acompanharam o pai na despedida do filho querido.

Em meio à dor da perda, a família não deixou de lembrar da importância da doação de medula óssea. "Ele era ‘o' garoto. Nós tentamos tudo. Quero agradecer a todos que se cadastraram como doadores durante a campanha, e pedir para aqueles que não são cadastrados fazerem isso. É uma atitude simples, que pode salvar vidas", disse a tia do menino, Cizinia Trindade. "Fizemos tudo o que podíamos por ele. Mas não deu", desabafou o pai de Lucas, Francisco da Trindade Neto, 38.

Na foto colada no caixão branco, Lucas vestia o uniforme do Santos Futebol Clube. Era o dia em que ele conheceu seus ídolos no Centro de Treinamento do time, na Baixada Santista. O dia mais feliz de sua vida, como ele mesmo disse naquele dia.

Como testemunha da mesma dor, Juliana dá conselhos a quem permanece na espera por doador compatível. "O Lucas ficaria muito contente em saber o quanto ensinou a todos nós. O transplante dele não deu certo, mas se a pessoa abaixar a cabeça, o destino será o mesmo. Temos de continuar."

 

HOMENAGEM

Voluntários e amigos de Lucas, César Marins, 28, e Andressa Pereira Mousse, 19, fizeram pronunciamento durante o velório do estudante e cantaram os versos que emocionaram a todos. Lílian Ferraz, a Doutora Abelhinha, esteve lá para dar o adeus a Lucas. "Foi guerreiro."

O caixão descia na terra enquanto os presentes cantavam "Campeão, vencedor." A cada pá de terra, o adeus, o último obrigado a Lucas por ter ensinado a tantas pessoas o valor da vida.

 

Narciso supera drama e incentiva doação

 

 

Dia 12 de janeiro de 2000. Era apenas mais uma bateria de exames comuns em pré-temporadas de times de futebol, mas mudou completamente a vida do ex-volante Narciso. Foi ali, no descontraído ambiente do Santos, que ele, que jamais havia apresentado qualquer problema de saúde, descobriu ser portador de leucemia e ouviu o cruel diagnóstico: não poderia mais jogar futebol. Começou então a batalha pela vida.

"Estava participando da pré-temporada, quando o doutor Taira disse que meu exame de sangue tinha dado alteração e precisava voltar para Santos. Lá me informaram que estava com leucemia. Foi um choque, e na hora pensei que não só minha carreira, mas minha vida estavam acabadas", relata Narciso, que ontem esteve em São Bernardo para lançar o jogo beneficente que organiza ao lado dos amigos Neymar, Ganso e

Narciso, então, tirou a sorte grande. Descobriu que sua irmã Nilda tinha medula compatível e podia fazer a doação. Rapidamente, o jogador se mudou para Curitiba, no Paraná, onde realizou o transplante. Esse foi apenas o primeiro passo da intensa batalha. "Correu tudo bem na cirurgia, mas depois passei pelos piores momentos da minha vida. Foram três anos sem sair de casa, com diversas recomendações dos médicos, não podia nem receber visita de amigos. Qualquer enfermidade poderia ser fatal."

Totalmente recuperado, Narciso pôde, enfim, retomar as atividades habituais. Audacioso, ele ensaiou a volta aos gramados e chegou até a atuar pelo Santos no fim de 2003, mas a falta de capacidade física fez com que abortasse o sonho no segundo semestre de 2004.

"Entendi que minha missão era outra. Passei a participar intensamente de campanhas que mostrem a importância de ser doador e sempre atendi os convites quando solicitados. Hoje, comemoro duas datas de aniversário, dia 23 de dezembro, quando nasci, e dia 5 de maio, quando ressurgi", finaliza o ex-jogador de 37 anos, que é técnico do time sub-20 do Corinthians. (Anderson Fattori)




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