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Amanhã não será outro dia

Alguém já disse que, nos Estados Unidos, os dois grandes partidos são como garrafas de cerveja com rótulos diferentes

Carlos Brickmann
05/11/2008 | 00:00
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Alguém já disse que, nos Estados Unidos, os dois grandes partidos são como garrafas de cerveja com rótulos diferentes - e as duas garrafas estão vazias. Não é bem assim: as duas garrafas estão cheias, mas a mistura é a mesma. Em ambas há progressistas, racistas, anti-racistas, internacionalistas, nacionalistas extremados, isolacionistas, adeptos do livre mercado, redistribuidores de renda. O presidente da República tem de lidar com todos os ingredientes dos partidos, e do país, para governar. É poderoso, mas não para mudar sozinho o rumo do país.

Uma vitória de Obama terá grande significado simbólico. Há 50 anos, quando o presidente republicano Dwight D. Eisenhower mandou o Exército ao Estado de Arkansas, governado pelo democrata Orval Faubus, para impor o fim da segregação racial, alguém com a cor de Obama não poderia sequer sentar-se ao lado de brancos. Um mulato chegar à Presidência dos EUA é, em si, um marco histórico. Mas nos temas nacionais e internacionais, tanto faz Obama como McCain: uma potência democrática tem de se mover entre choques de interesses. Não se espera que nenhum dos dois, por exemplo, libere de impostos o álcool brasileiro.

A saída do Afeganistão e do Iraque vai depender, mais do que da vontade do presidente, da situação internacional. As conversações com o Irã, a mesma coisa: quem diz que o Irã quer negociar a sério com "O Grande Satã"?

E não se imagine que a índole do presidente dite suas ações. Kennedy, o pacifista, levou os EUA à Guerra do Vietnã. Nixon, o belicista, foi quem fez a paz.

ITAUNI...
Houve uma troca de ações e os acionistas do Unibanco são hoje acionistas do Itaú-Unibanco. Mas chamar de "fusão" uma operação desse tipo é meio demais. O Itaú, ao longo dos anos, se especializou em absorver concorrentes pagando-lhes em ações e mantendo o controle. Várias vezes trocou de nome: quando se uniu ao Banco Federal de Crédito, virou Banco Federal Itaú; depois, Banco Federal Itaú-Sul Americano (ao se juntar ao Banco Sul-Americano do Brasil); mais tarde, engoliu o Banco da América e se tornou Itaú-América; e, digeridas as compras, voltou a ser só Itaú. Para os clientes, tanto faz quem é o dono: os juros continuam altos e as filas, imensas. Mas é bom chamar as coisas pelo seu nome.

...UNITAÚ
É preciso ficar claro, também, que o Unibanco jamais teve problemas financeiros. Seu problema era o tamanho: ou comprava outros bancos e ganhava porte para enfrentar os grandes concorrentes, ou era comprado por eles. O Itaú, como o Bradesco, precisam crescer ainda mais, já que um concorrente internacional de peso, o Santander, decidiu disputar a liderança do mercado brasileiro (coisa que outros estrangeiros, como Citi e HSBC, jamais ousaram). Havia, portanto, um encontro de interesses. O Itaú foi quem chegou primeiro, e oferecendo ao Unibanco, mais do que dinheiro, uma posição importante na empresa. E ganhou.

A CONCORRÊNCIA
O Governo, preocupado com a posição do Banco do Brasil (que, tradicionalmente o maior banco do país, é hoje o terceiro), pretende votar rapidamente a Medida Provisória 443, aquela que autoriza os bancos federais a comprar outros bancos, sem licitação. É possível que a Câmara vote ainda nesta quarta-feira a MP 443.

DEFINIÇÃO E PREVISÃO
Neil Ferreira, um dos grandes publicitários do país, envia o seguinte bilhete: "Crise é quando você perde o seu emprego. Recessão é quando eu perco o meu." "Já o Mantega... acabou de subir no telhado e vai entrar em crise logo".

DANIEL DANTAS NO STF
O Supremo marcou para esta quinta-feira o julgamento do mérito dos habeas corpus pedidos pelo banqueiro Daniel Dantas, preso pela Operação Satiagraha, em junho. Detido duas vezes no mesmo dia, Dantas pediu dois habeas corpus, concedidos liminarmente pelo presidente do STF, ministro Gilmar Mendes. Agora, o plenário do Supremo decide se mantém ou não as decisões liminares. Se as liminares forem derrubadas, Daniel Dantas deve ser preso novamente.




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