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Lembranças de Celso Daniel e ansiedade marcam dia de Avamileno
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
01/11/2004 | 09:29
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Nem o cantor Roberto Carlos conseguiu acalmar os nervos de João Avamileno, prefeito de Santo André, na manhã de domingo, momentos antes de sair de casa no dia em que seu futuro político foi decidido. O prefeito, candidato à reeleição, acordou às 6h da manhã, depois de uma noite maldormida. “Virei na cama a noite inteira. Acordei várias vezes. Acho que é a ansiedade da decisão”, avaliou. Levantou a tempo de assistir pela televisão a parte da missa do padre Marcelo Rossi. Passou o primeiro café do dia e acordou a esposa, Ana Maria Avamileno. As horas seguiam devagar e o prefeito ouviu as baladas românticas do Rei para ver se a ansiedade diminuía. Depois, trocou pelas sertanejas, “adoro moda de viola”. Mais algumas músicas e já era tempo de sair para cumprir a agenda. Deixou o apartamento às 9h, passou na padaria, tomou outro café, e seguiu para a EE Clotilde Peluso, na Vila Luzita, local onde registraria o 13 na urna.

Quando chegou à escola, a ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro já o esperava. Avamileno desceu do Vectra verde, segurando firme as mãos da esposa, e foi cercado pela imprensa. Entrou na escola e ficou parado um tempo em frente às escadas, respondendo aos jornalistas. Vestia roupa discreta, calça cinza chumbo e camisa de mangas curtas, também em tons de cinza, o que ressaltava a estrela vermelha que levava no peito.

O otimismo e confiança de João Avamileno também eram evidentes, e o candidato tentava medir as palavras. “As pesquisas são diagnósticos importantes, e espero que realmente a expectativa se realize. Só houve até agora um confronto direto com o Newton Brandão em eleições, e o Celso Daniel ganhou. Eu era o vice. Hoje, é o João quem vai ganhar do Brandão.”

O prefeito reclamou do tucano e disse que a campanha da Frente Andreense usou negativamente o nome do ex-prefeito Celso Daniel, morto em 2002. “Eles nunca fizeram nada pelo Celso. Nós fizemos. Continuamos o trabalho dele.” Empolgado, disse que dedicaria uma possível vitória nas urnas domingo ao povo de Santo André. “E ao governo Lula”, enfatizou.

Supersticioso declarado, João Avamileno seguiria o mesmo esquema das eleições de 3 de outubro, quando venceu o adversário, ainda que por uma margem de menos de 5% dos votos válidos. O cortejo vermelho contou com as mesmas figuras do primeiro turno: Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência da República; Miriam Belchior, assessora especial de Lula; Luiz Carlos da Silva, o professor Luizinho, deputado federal e líder do governo; e Vanderlei Siraque, deputado estadual. Comitiva que, ao lado de Matilde Ribeiro, formou de novo o pelotão de elite dos eleitores de Avamileno. O prefeito acompanhou cada um deles até suas zonas eleitorais, além da esposa e de sua vice, Ivete Garcia.

Provocação – Ao todo, percorreram oito escolas. Mas Avamileno não seguiu à risca o cronograma, porque uma fofoca o tirou do sério. Pulga atrás da orelha, que não deu para ignorar. Ele recebeu a notícia de que militantes tucanos haviam espalhado o boato de que o PT teve a candidatura impugnada também em Santo André, assim como o amigo Márcio Chaves, de Mauá. “Estão pedindo para votar 45, e não 13, dizendo que não sou mais candidato. Como pode?” – repetia, sem parar, o prefeito.

Ficou difícil para Avamileno manter o humor. Decidiu que o pelotão se separaria para visitar algumas escolas e ver se os eleitores acreditaram no boato. Só depois de entrar numa escola no Parque João Ramalho, o candidato liberou a tensão, perceptível pela testa franzida. Mas em nenhum momento alterou o tom de voz. Mais calmo, depois de ouvir de militantes petistas que ali a mentirinha de última hora não havia colado, ele parou alguns minutos para descansar. Recusou o cafezinho, mas aceitou a bolacha.

Em seguida, Avamileno retomou os planos iniciais e antes parou para o almoço numa churrascaria no bairro Jardim. A mesma do outro domingo eleitoral. Quando a comitiva se preparava para acompanhar os companheiros que ainda não tinham votado, o petista Márcio Chaves entrou no restaurante. Visivelmente abatido, ele recebeu palavras de apoio do grupo do prefeito. “Nunca imaginei que este domingo seria assim. Estou muito frustrado”, desabafou o candidato de Mauá.

Futuro – Avamileno não antecipou nada a respeito de um possível próximo mandato. Contido, uma vez mais lembrou de Celso Daniel, e enrrugou a testa de novo. “Em 2000, quando nos elegemos, já sabia da possibilidade de me candidatar à prefeito nestas eleições. Celso esperava assumir um ministério no governo Lula. A diferença é que esperava que hoje ele estivesse aqui, me acompanhando na decisão.”

Sobre a situação do PT no Grande ABC, Avamileno se diz tranqüilo. “Acredito que os prefeitos que já foram eleitos estão comprometidos com a articulação regional e com as melhorias. Vou me esforçar para conter os atritos”, garantiu.

Ele reconhece que, nas últimas eleições municipais, foi mais fácil para o PT garantir a vitória, quando Celso Daniel venceu ainda no primeiro turno. Se não fala do que vai acontecer dentro de dois meses, ele até comenta, com gosto, os planos para o final do dia. “Se eu ganhar, nesta segunda-feira à noite vamos ter festa no Clube de Portugal.” Comemoração que deve ser regada a vinho tinto seco, bebida preferida de João Avamileno.




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