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Faculdade em São
Bernardo retém diplomas

Ex-alunos ingressaram na Justiça, mas não obtiveram documentos; responsáveis não foram localizados

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
25/05/2021 | 00:01
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O sonho de cursar uma faculdade e ter uma profissão tem se transformado em pesadelo para centenas de alunos na Fainam (Faculdade Interação Americana), de São Bernardo. Estudantes que se formaram desde 2015 enfrentam problemas como não poder assumir cargos após passar em concursos públicos, não conseguir os certificados de pós-graduação e até correm risco de perder o emprego porque não conseguem ter acesso aos documentos.

Sandra Valeria Cândido, 35 anos, se formou em pedagogia em 2017. Depois da graduação, já fez duas especializações, passou em três concursos públicos, mas não pôde retirar o certificado das formações nem assumir os cargos. Entrou na Justiça e ganhou em todas as instâncias, mas, mesmo assim, ainda não teve acesso ao diploma.

Segundo Sandra, a faculdade alegou que o diploma foi enviado para a USP (Universidade de São Paulo) para ser validado, mas que por erros administrativos da faculdade, como não ter inscrito a aluna no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), prova anual utilizada para aferir a qualidade dos cursos, a USP não pode realizar a validação.

O supervisor de TI (Tecnologia da Informação) Eduardo Rodrigues Franco, 25, se formou em análise e desenvolvimento de sistemas em 2019. Chegou a pagar pelo diploma, fez curso de pós-graduação, mas não pôde entregar o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) porque não recebeu o diploma. No seu caso, e no de mais de 100 colegas, também há erro administrativo, relativo ao histórico, que a faculdade precisa corrigir.

Tays Araújo se formou em pedagogia em 2015 e por três anos tentou na Justiça obter o diploma. Sem sucesso e sem conseguir localizar os responsáveis pela Fainam, os advogados desistiram da sua causa. “Trabalho em uma ONG (Organização Não Governamental) e por várias vezes já achei que perderia o emprego, porque eles precisavam do diploma. Como tinha ação judicial, apresentava, mas uma hora isso pode não servir mais”, afirmou. Formada em gestão financeira desde 2016, Abnália Blenda, 24, está se organizando para fazer pós-graduação na Alemanha em 2022, mas teme não conseguir o diploma.

MUDANÇA COMPULSÓRIA
Hugo Alexandre de Souza, 26, começou a cursar engenharia elétrica na Faculdade Anhanguera, em São Bernardo, em 2014. No penúltimo semestre, foi obrigado a se transferir para a Faculdade SBTec, em São Bernardo. A alegação foi a de que os cursos haviam sido vendidos. As SBTec e a Fainam, segundo os alunos, são do mesmo grupo. Na internet, as duas têm o mesmo endereço e telefones, que não funcionam.

Segundo o MEC (Ministério da Educação), o mantenedor da Fainam é o Ibrepe (Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Educacionais). Consta que a Fainam está suspensa de celebrar contratos pelo Fies (Financiamento Estudantil) e Prouni (Programa Universidade para Todos). Já a SBTec consta como “descredenciada por medida de supervisão” e está extinta.

O Diário tentou contato com as pessoas indicadas como responsáveis pelas instituições, sem sucesso. O MEC (Ministério da Educação) não respondeu aos questionamentos. O Procon-SP, que anunciou em janeiro que notificou a Faculdade Anhanguera sobre a situação dos alunos transferidos para a SBTec, também não informou que providências foram tomadas. A Faculdade Anhanguera afirmou que desde 2018 não tem interferência nos temas e ações referentes à operação da SBTec. Que, por lei, a emissão de diplomas e expedição de documentos são atribuições que só podem ser assumidas pelas instituições mantenedoras, que neste caso, é o Ibrepe.  




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