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Salve a represa!
Por Dom Pedro Cipollini
19/07/2020 | 07:00
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Ao ser batizada a criança é mergulhada na água ou recebe água sobre sua cabeça. Antes de nascer estava imersa no líquido amniótico, composto 98% de água. A água está tão entrelaçada à vida que sem ela a vida tende a desaparecer.

Pela sua importância para o planeta, o respeito com a água deveria fazer parte de nossa cultura, através de um processo de educação que levasse a isso. O poeta Píndaro na antiguidade grega escreveu que o mais nobre dos elementos é a água. Na Bíblia a força da água é notada, ela desgasta as pedras (cf. Jo 14,19). De fato, o que há de mais duro que a pedra e mais mole que a água? No entanto, a água mole escava a pedra dura.

Ao Senhor pertence a Terra e tudo o que nela existe (cf. Dt 10,14). Por isso Deus nos proíbe toda posse absoluta da Terra e da água. Não podemos usar e abusar como queremos dos recursos da natureza, sem responsabilidade. Em sua exortação apostólica Querida Amazônia o papa Francisco observa que “Na Amazônia, a água é a rainha; rios e córregos lembram veias, e toda a forma de vida brota dela” (n.43).

Infelizmente, nós nos habituamos a usar e abusar dos recursos da natureza, especialmente a água. Ela é usada, poluída e desperdiçada à vontade, como se fosse um recurso inesgotável. Há um descuido com a natureza, em especial com a água em nosso dia a dia. Isso fica claro na falta de preocupação por medir os danos à natureza e o impacto ambiental das decisões que se tomam, relativas ao meio ambiente. A crise ecológica atinge em cheio os recursos hídricos.

Temos aqui no Grande ABC um tesouro: a Represa Billings. Grande reservatório de água potável. Não me canso de admirar sua beleza sempre que passo por ela, e também sua utilidade. Mas, infelizmente, é maltratada. Ora se torna lixeira, na qual se lançam objetos plásticos descartáveis e outros dejetos; ora se torna esgoto; ora se torna parque aquático na prática de esportes, com tudo que sabemos que acontece nestes locais de lazer desordenado. Que costume estranho este, de poluir a água para depois tratá-la, a fim de ser utilizada por mais de 1 milhão de pessoas, só aqui em nossa região?

Uma represa desta deveria ser um ‘santuário ecológico’ respeitado por todos, porque fornece água, elemento vital para manter milhares de vidas. A finalidade da represa de armazenar água potável a ser tratada e distribuída à população é desvirtuada pelos múltiplos usos, estranhos à sua finalidade. É usada como um lago natural, às margens do qual cada um pode realizar seus intentos, segundo os vários interesses existentes. São muitas as justificativas que se dão para a ocupação desordenada de suas margens. É um descalabro!

O que ninguém conseguiu fazer até agora, nem a legislação nem a fiscalização, foi feito pelo isolamento, imposto pela pandemia do coronavírus. É o que mostrou a reportagem neste Diário (Setecidades, dia 13). Aliás, dou parabéns a este jornal, que, cumprindo sua função de informar, também está sempre alerta quanto à sobrevivência ou à preservação deste reservatório vital.

A consciência da gravidade da crise ecológica, e no caso aqui na vertente hídrica, precisa traduzir-se em novos hábitos de cuidado e preservação. Precisamos ter educação ambiental. Somos chamados a criar uma ‘cidadania ecológica’ (cf. papa Francisco in Laudato Si n. 211).

A interpretação do título deste texto fica a critério de cada um. Se você admira esta represa e colabora para sua preservação, o salve é uma saudação. Se você ainda não despertou para a gravidade da questão que configura o mau uso destas águas, então é um apelo para salvar. Esta represa poderá acabar se não cuidarmos dela.




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